Nesta terça acontecem várias partidas da Liga dos Campeões, principal competição de clubes da Europa. Entre os jogos realizados hoje, um se destaca por colocar frente a frente aquele que é considerado o melhor técnico de futebol do mundo, o espanhol Pep Guardiola, e o melhor trio de ataque da atualidade, formado pelo brasileiro Neymar, o argentino Messi e o uruguaio Suarez, o trio MSN do Barcelona.
A percepção de que o jogo entre Barcelona e Manchester City será um confronto entre um técnico e três jogadores está sendo fartamente usada pela imprensa em suas narrativas.
Duas podem ser as justificativas para esta opção. A primeira é o fato de Guardiola ter protagonizado uma carreira vitoriosa no Barcelona, tanto na figura de jogador como na de técnico. Assim, os reencontros dele com a equipe catalã sempre são cercados de muita expectativa.
Porém, há uma segunda justificativa para este tipo de construção: o destaque, cada vez maior, que os treinadores recebem nas narrativas da imprensa.
Na obra “Veneno Remédio”, José Miguel Wisnik diz que este é um fenômeno recente, pois o protagonismo dos técnicos da equipes de futebol aumenta no decorrer dos anos em razão da “intensificação generalizada do princípio do planejamento”.
Segundo o professor de literatura, nos primórdios do futebol brasileiro o técnico era um personagem discreto e apagado, “concebido, pelo menos para o olhar difuso do público, como aquele que, antes do jogo, distribuía camisas e exorta os jogadores à vitória”.
Porém, nas edições mais recentes das Copas “as seleções brasileiras, e seus respectivos destinos, são inseparáveis de seus técnicos: falamos da seleção de Zagallo, de Telê, de Lazaroni, de Parreira ou do Felipão”, isto porque agora a atuação do técnico é percebida dentro de campo, pois cabe a ele “fazer uma leitura crítica, ‘em tempo real’, do andamento da partida, e intervir sobre as forcas do jogo” (WISNIK, 2008, p. 129).
Wisnik fala especificamente do futebol brasileiro, mas este fenômeno também pode ser observado nas narrativas envolvendo personagens de outros países.

Assim, nos tempos atuais, treinadores como o espanhol Guardiola, o português Mourinho, o argentino Jorge Sampaoli e o brasileiro Tite passam a receber grande espaço nas narrativas da imprensa, seja ela brasileira ou estrangeira. E observar narrativas sobre técnicos pode oferecer a pesquisadores um rico material.
Os treinadores não apenas passam a ser tema de matérias, mas se transformaram em alvo da idolatria de torcedores, dividindo com os jogadores o protagonismo dentro e fora do campo de jogo.
Assim, quando Barcelona e Manchester City entrarem em campo hoje, o duelo não será entre os atacantes argentinos Messi e Agüero, ou entre as jovens estrelas Neymar e De Bruyne, mas entre o técnico espanhol Guardiola e o trio MSN.