A Copa do Mundo é um dos maiores eventos esportivos do mundo, seja pela sua atratividade mercadológica, pelo espetáculo, pela união de seleções ou pelo apelo das torcidas. Há noventa anos tinha início esse torneio que, de quatro em quatro anos, junta os amantes do futebol do mundo inteiro. Mas será que sempre foi assim?
A popularização do futebol na Europa fez com que, em 1930, fosse criada a primeira Copa do Mundo de futebol. A competição, que começou com apenas treze seleções, foi ganhando contornos maiores na medida em que o próprio futebol se profissionalizava e o mundo se modernizava. Hoje, para a Copa de 2022 no Qatar, estão previstas 48 seleções, e muitas outras questões, como as logísticas de viagens que eram impensáveis em 1930.
O coordenador do LEME, Ronaldo Helal, deu uma entrevista ao programa Noite Ilustrada da Rádio UFMG Educativa, da Universidade Federal de Minas Gerais, sobre esse fenômeno que é a Copa do Mundo. Helal lembra histórias e fatos de diversas Copas que aconteceram ao longo desses noventa anos de existência. Quer saber mais sobre esse torneio de magnitude mundial? Aperte o play no áudio abaixo e escute a entrevista completa.
LEME reúne pesquisadores para discutir o Maracanazo
16 de julho de 1950 – diante de mais de 200 mil pessoas, o Brasil se calava com os gols de Shiaffino e Ghiggia, no Maracanã. A épica derrota para o Uruguai, que fez o Brasil amargar o vice-campeoanto da Copa do Mundo, ficou conhecida por Maracanazo. Para debatermos esse episódio e suas implicações, o LEME – Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte realizará, nesta sexta (31/07) às 19h, um encontro virtual.
Para esta edição especial dos Encontros LEME, contaremos com os pesquisadores Alvaro do Cabo, Gastón Laborido, Francisco Brinati e Sergio Souto, com mediação do também pesquisador Filipe Mostaro.
Você não me conhece, mas nas últimas sete décadas você esteve presente em quase todos os meus pensamentos sobre futebol, em muitos dos meus sonhos – e pesadelos –, em boa parte de meu imaginário saudoso sobre tempos que não necessariamente eu vivi.
Logo, você jamais será indiferente a mim.
Eu havia de escolher, pois, se você seria meu inimigo ou meu amigo.
E vejo-me obrigado a confessar que por anos eu não desejei menos do que a primeira das opções. Odiá-lo com ímpeto, com cegueira e dor, com fúria e tristeza, com a ignorância típica daqueles que odeiam, apenas pelo bel prazer de descontar em alguém toda a minha incompreensão sobre um dia que existiu justamente para ser incompreendido.
Mas tem uma força dentro da gente, que por falta de condições de nominá-la aqui chamarei de “maturidade”, que nos faz mudar de opiniões, compreender melhor a vida, olhá-la por outros ângulos.
De forma que o ódio virou admiração. A inimizade virou respeito. O pavor virou beleza. A dor virou amor. A tragédia? Bom, tragédia é tragédia. Continuará sendo para sempre. Mas já consigo enxergar aquele dia como um dos mais belos e indescritíveis da história do futebol.
E é justo por isso que estou aqui a te pedir para ser aceito como amigo.
Eu sei, precisou-se de todo este tempo de hiato para que eu admitisse a ti a beleza de tuas pernas, de teu gingado, de tua força, de tua habilidade, de tua velocidade, de teu gol.
Perdoe-me por isso, amigo. E que não seja tarde. Que do olimpo, da eternidade, do além onde os craques viram deuses, você não guarde mágoas de um tolo como eu.
Hoje já consigo assistir aquele gol sem chorar, ainda que o coração insista em acelerar, numa busca insana por mudar a direção da bola, por absolver o velho Barbosa, condenado para sempre por uma culpa que não deveria ser dele.
Desculpa o devaneio, Ghiggia, querido. Como te disse, e repito agora, já consigo ver todo o esplendor do lance, mas ele não deixa de ser trágico e asfixiante por causa disso.
Mas eis que estamos aqui a lembrar dos 70 anos daquele dia inexprimível.
Num 16 de julho como hoje, mas em 1950, no saudoso Estádio Municipal, o conceito de “instante” foi modificado para sempre.
Que dia impressionante de se resgatar, meu amigo. Parabéns por ele. Você, Obdúlio, Máspoli, Schiaffino e todos os seus companheiros merecem os louros.
A propósito, amigo, se me permitir mais uma indelicadeza neste momento, anseio em falar algo mais. Em compartilhar contigo algo que me assombra justamente sobre o dia de tua morte.
Porque, se há uma coincidência que me arrepia toda vez que a percebo é o fato de você ter morrido na exata mesma data do Maracanazo que tu foste protagonista. Pois hoje é dia de sentir em toda a sua profundidade não só os 70 anos da final da Copa de 1950 e do bicampeonato mundial do Uruguai, mas também os cinco anos da morte do homem que tornou aquele momento eterno.
Aliás, uma última questão.
Desculpe-me de verdade por nós brasileiros, que temos a péssima mania de preferir nos culpar a admitir a superioridade adversária. Mas hoje sei que, acima de tudo, foi uma conquista que a brava e heroica Celeste fez por merecer.
No dia 16 de julho de 1950, com a presença de mais de 200 mil pessoas, o Brasil se calava diante dos gols de Shiaffino e Ghiggia, no Maracanã, construído especialmente para a Copa do Mundo. O Brasil era então vice-campeão mundial, perdendo a partida final para o Uruguai.
A data emblemática para a história do nosso futebol foi relembrada pela agência de notícias France Presse – AFP. Procurado pelo jornalista Pau Ramirez, o professor Ronaldo Helal, coordenador do Leme, foi entrevistado para a matéria. Helal explicou o que representa o Maracanazo para a nossa história e a notícia está em vários sites em Bangladesh, Brasil, EUA, Espanha, Croácia e França, dentre eles Dhaka Tribune, Yahoo Sports, Estadão, Isto é, France24, Glasistre e Le 360° Sport.
O livro Copas do Mundo: comunicação e identidade cultural no país do futebol está agora disponível para download no site da EdUERJ. Organizado pelo nosso coordenador, Ronaldo Helal, e pelo pesquisador do LEME, Álvaro do Cabo, a obra discute a formação de epítetos como “pátria de chuteiras” e “país do futebol” e sua carga simbólica, buscando compreender como o futebol influenciou a construção da identidade nacional. Lançado em 2013, Copas do Mundo reúne uma seleção de textos de quinze pesquisadores com estudos referentes à nove Copas do Mundo e uma Copa das Confederações.
A seleção das Copas escolhidas para compor o livro, entre as dezenove já disputadas até 2013, não foi algo acidental. Para isso, ela obedeceu a dois critérios cruciais: como a seleção ficou classificada na competição e a dimensão simbólica de seus resultados na mídia e na sociedade brasileiras. Dentre as Copas analisadas, em cinco o Brasil sagrou-se campeão, em duas conquistou o vice-campeonato, em outras duas, a despeito da performance, houve a construção da simbólica do nosso futebol,
Todas as Copas selecionadas ajudam os leitores a entender melhor o país e a formação nacional, além de nos convidar a ter um olhar mais atento sobre esses eventos. Esse torneio de seleções funciona como uma espécie de metonímia nos artigos, um objeto que nos permite investigar questões maiores. Aos leitores, fica a mensagem de que uma Copa não é e nunca será só futebol. Todas as Copas reunidas no livro nos ajudam a entender melhor o país e a formação do “nacional”. Quando os autores falam da seleção, de suas derrotas e vitórias, estão também falando também do Brasil e seus dilemas.
Serviço
Título: Copas do Mundo: comunicação e identidade cultural no país do futebol
Copas do Mundo: o que elas nos ensinam sobre o Brasil – Ronaldo Helal e Álvaro do Cabo;
Copa do Mundo e identidade nacional: um panorama teórico – Álvaro do Cabo e Ronaldo Helal;
1938: o nascimento mítico do futebol-arte brasileiro – Camila Augusta Perira e Hugo Lovisolo;
Vitória épica e tragédia nacional em 1950: um contraponto entre o Diário Carioca e veículos da imprensa uruguaia – Álvaro do Cabo e Ronaldo Helal;
Do complexo de vira-latas à “nossa” Taça do Mundo – José Carlos Marques;
Copa de 1962 – a consolidação da pátria de chuteiras – Márico Guerra e Filipe Mostaro;
1970 – pra frente, Brasil: preparo da caserna, coração de chumbo e mente brilhante – Antonio Jorge Gonçalves Soares e Marco Antonio Santoro Salvador;
1982: lágrimas de uma geração de ouro – Leda Costa;
Copa de 1994: os múltiplos discursos autorizados sobre a seleção campeã menos amada da história – Fausto Amaro;
1998: o colapso da arrogância nacional – Édison Gastaldo;
2002: da Família Scolari ao topo do mundo – a contradição entre o local e o global no futebol contemporâneo – Francisco Ângelo Brinati e João Paulo Vieira Teixeira;
Salve a seleção! Mídia, identidade nacional e Copa das Confederações 2013 – Ronaldo Helal, Álvaro do Cabo e Carmelo Silva.
Ronaldo Helal, coordenador do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte (LEME/UERJ), foi entrevistado pelo site Ludopédio. Há muito tempo queríamos entrevistar o professor Ronaldo Helal. Foram muitos anos de desencontro até que conseguimos realizar a entrevista por ocasião de um evento no Rio de Janeiro. O professor Helal nos recebeu em sua residência e… Continuar lendo Ludopédio entrevista coordenador do LEME (parte 1)*
22 mulheres em campo jogando bola em um estádio lotado que cantou a Marselhesa antes, durante a após a partida entre Brasil e França. Um belo cenário para as oitavas de final da Copa do mundo de 2019. Uma Copa que pode ser um divisor de águas para o futebol das mulheres, tamanho o bom… Continuar lendo 22 mulheres em campo
Encontros LEME é uma proposta do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte que visa a partir da leitura de textos e análise de produções fílmicas realizar debates com professores, pesquisadores, graduandos e convidados interessados em estudar as interseções da Comunicação com o Esporte. Os encontros têm ocorrido semanalmente e pretendem oferecer um espaço de… Continuar lendo 13º Encontro LEME 2018