A importância da transmissão audiovisual do Campeonato Alagoano de futebol masculino

O objetivo deste texto é apresentar uma síntese dos resultados do projeto de pesquisa de iniciação científica “A importância da transmissão audiovisual do Campeonato Alagoano de futebol masculino (2007-2023): padrões tecnoestéticos e incentivo ao torcer a times locais”, desenvolvido na Unidade Educacional Santana do Ipanema da Universidade Federal de Alagoas de setembro de 2022 a agosto de 2023.

Introdução

O futebol profissional masculino se difunde a partir de duas possibilidades: acompanhamento dos jogos nos estádios e a partir da sua versão midiática, com transmissão em audiovisual. No projeto de pesquisa nos interessou a segunda, pois é a que demarca uma importante fonte de receitas e de criação de capital simbólico para aglutinação de torcida.

No caso do futebol brasileiro, a expansão se dá de forma irregular, dada a dimensão territorial do país. A preocupação com torneios nacionais de clubes ocorre apenas em 1959, mas já após o estabelecimento de Rio de Janeiro e São Paulo como centros importantes desta prática esportiva.

Além disso, especialmente a partir da difusão da Rádio Nacional na então capital do país, os clubes do Rio de Janeiro conseguem se espacializar para outros estados ainda na primeira metade do século XX. Da mesma forma, conforme Santos (2021), o desenvolvimento de conglomerados midiáticos que se consideram nacionais, ou são nacionalizados, reproduzem o desenvolvimento socioeconômico desigual do país, o que será definitivo com o modelo de redes de televisão, cujas matrizes ficavam em Rio de Janeiro e São Paulo.

Assim, conseguimos perceber que quando as transmissões audiovisuais dos jogos de futebol ganham a regularidade enquanto programa midiático pertencente às grades de programação, desde os anos 1980, eram as equipes de Rio de Janeiro e São Paulo as exibidas em rede nacional. O que, conforme Figueiredo Sobrinho e Santos (2020), fez com que clubes desses dois estados tivessem ainda maior visibilidade nos noticiários esportivos que os de outros locais.

A opção pelo estadual de Alagoas se deu por se tratar ainda de um Estado com dados socioeconômicos dentre os piores do Brasil, mesmo após os programas de distribuição de renda dos governos do Partido dos Trabalhadores (Gomes, 2014). Além de o primeiro Campeonato Alagoano de futebol masculino totalmente transmitido ter ocorrido apenas em 2007.

O projeto analisou as evidenciações contábeis da Federação Alagoana de Futebol (FAF) e dos clubes ASA (Associação Sportiva Arapiraquense), CRB (Clube de Regatas Brasil) e CSA (Centro Sportivo Alagoano); e o padrão tecnoestético da transmissão do Campeonato Alagoano, considerando ainda resultado de pesquisa de opinião realizada de forma virtual depois da realização do torneio em 2023, que contou com 317 respostas.

Fonte: print a partir do YouTube

Metodologia

O tema foi discutido a partir de investigação qualiquantitativa que usou os métodos bibliográfico, estatístico e descritivo, com apresentação de dados de pesquisa de opinião realizada por formulário digital disponível no Google Forms de 29 de maio a 9 junho de 2023, com 317 respostas.

Pretendemos entender com a pesquisa de opinião, por um lado, os elementos do padrão tecnoestético reproduzidos pela transmissão de um torneio local, ao mesmo tempo em que se tentou verificar o que refletiria o estímulo à identidade alagoana nos elementos estéticos e nas narrações. Por outro, a partir da opinião de torcedores de clubes locais, como o cenário de transmissão de 2023 foi recebido quanto aos seguintes aspectos: narração; qualidade de imagens; valorização dos clubes locais; e reportagem de campo.

Quanto à coleta das informações obtidas das demonstrações contábeis, realizou-se em dois momentos, considerando que os dados de 2022 deveriam ser divulgados até abril de 2023. Após isso foram elaborados gráficos com as receitas e despesas separadas de acordo com os casos de: Receitas das Séries A e B, Copa do Brasil, Copa do Nordeste, direito de transmissões ou Cotas TV, já no caso das Despesas apenas direitos de imagem/arena.

O conceito-chave utilizado na pesquisa foi o de padrão tecnoestético, que representa:

[…] uma configuração de técnicas, de formas estéticas, de estratégias, de determinações estruturais, que definem as normas de produção cultural historicamente determinadas de uma empresa ou de um produtor cultural particular para quem esse padrão é fonte de barreiras à entrada […]. (Bolaño, 2000, p. 235).

Considera-se que o modelo tecno-estético constituído tem o potencial de reduzir o caráter aleatório da produção de mercadorias culturais.

A amostra para a análise do padrão tecnoestético contou com as finais de 2008 a 2022 e 9 jogos da competição em 2023, entre melhores momentos e jogos completos, conforme disponibilidade no YouTube. Os critérios estabelecidos foram os seguintes: direção de imagem; variações no estilo de transmissão na direção de uma cobertura esportiva ao vivo pelo infotretenimento – em que a informação pode ser sobreposta ao entretenimento (Santos; Borges; Figueiredo Sobrinho, 2020); e marcadores locais na narração, na reportagem e nos comentários.

Resultados e discussões

Considerando que a transmissão pela transmissão não é suficiente, gostaríamos de entender o impacto econômico direto da transmissão do Alagoano nos clubes, pelas evidenciações contábeis; como se deu o padrão tecnoestético de transmissão; e como torcedores de clubes alagoanos viram o torneio em 2023. A edição deste ano contou com transmissão multiplataforma: Band (TV aberta) – com TV UFAL, afiliada da TV Brasil, exibindo o último jogo do torneio; Nosso Futebol+ (pay-per-view); Canal FAF (YouTube); e DAZN (streaming).

Sobre as evidenciações, os gráficos presentes no arquivo do link https://onedrive.live.com/redir?resid=BA3C4CE63BA5B123!249&authkey=!AN1Bg_dGUGZ_7_E&ithint=file%2cxlsx&e=5O9wTQ apresentam os resultados da análise das informações coletadas da publicação das demonstrações contábeis dos clubes e da FAF.

Com os dados obtidos, pudemos analisar que há baixo nível de evidenciação contábil nos clubes locais. Além disso, observamos a importância da visibilidade dos clubes em campeonatos das séries A e B do Brasileiro, como também em campeonatos de maior porte, como a Copa do Nordeste e a Copa do Brasil.

Receitas do Alagoano apareceram só duas vezes: 2017 (CSA) e 2020 (CRB). Porém, juntando outras formas ligadas ao jogo, que não a transmissão: bilheteria e publicidade.

Quanto à transmissão, percebemos o modelo hegemônico: câmera central como a principal em boa parte da transmissão, com as demais (na altura do gramado ou com foco em cada área) sendo alternativas para replays e imagens da torcida.

Como pode ser visto na Figura 2 a seguir, algo semelhante ocorre quanto às representações gráficas na tela, com placar no canto superior e vinhetas com cartões, gols e substituições aparecendo no canto inferior esquerdo.

Figura 2– Transmissão da FAFTV do Alagoano de 2023

Fonte: Print do canal da FAFTV no YouTube

O que diferencia, a partir de 2023, é a utilização das cores da bandeira de Alagoas (vermelho, branco e azul), com a ordem exatamente abaixo dos números de gols, que interliga à identidade do estado.

Quanto à narração dos jogos, previamente identificamos que a equipe normalmente foi oriunda do rádio e da cobertura esportiva anual das equipes locais. Assim, mesclou-se elementos de conteúdo ligados ao rádio com aprimoramentos da linguagem da internet nos últimos anos para tentar viralizar trechos. Dentre outros destaques, há ainda o foco ao pitoresco, especialmente em jogos no interior de Alagoas.

Em paralelo a isso, buscou-se observar como a torcida alagoana avaliava alguns aspectos do padrão tecnoestético na edição de 2023. O filtro para recorte foi de quem torcia para clubes locais, que reduziu a amostra para 281 respostas.

Dentre outros resultados: 1- 171 avaliaram a narração como “regular”, 48 como “ruim”, 23 como “péssima” e apenas 30 responderam “ótimo”; 2- sobre a qualidade de imagens, apenas 19 responderam “ótimo”, enquanto 135 optaram por “razoável”, 85 por “ruim” e 33 como “péssima”; 3- por fim, sobre a valorização dos clubes locais, foi onde houve maior índice para “ótima”, 42 respostas, porém, 66 avaliaram que a transmissão foi “ruim” e outras 43 identificaram como “péssima”, sobrando 121 respostas em regular.

Melhor descrição e análise dos resultados consta na pasta seguinte, de publicações do projeto: https://ntiufalbr-my.sharepoint.com/:f:/g/personal/anderson_gomes_santana_ufal_br/EndQdxEpEp5Il48.

Considerações finais

Compreende-se que as restrições do desenvolvimento desigual socioeconômico, que atravessa a mídia e os clubes afetam também as questões econômicas e simbólicas no caso do Campeonato Alagoano de futebol masculino.

O destaque negativo para a qualidade das imagens reproduz o padrão tecnoestético de transmissão de jogos ao vivo que o público se acostumou. Frente à restrição orçamentária de um torneio que mal paga pelos direitos de transmissão, temos uma situação complicada de se resolver em curto prazo – com exceção da melhor qualidade específica das finais da competição, que recebem mais câmeras.

Por fim, para detalhar a importância econômica da transmissão do estadual, percebemos que seria necessário partir para uma etapa de pesquisa que envolvessem entrevistas com agentes envolvidos, considerando que são muito poucos clubes que disponibilizam evidenciações contábeis (e de forma rotineira). Além disso, não há detalhamento adequado para identificarmos, como em torneios regionais e nacionais, o peso positivo para as receitas dos clubes.

REFERÊNCIAS

BOLAÑO, C. R. S. Indústria Cultural, Informação e Capitalismo. São Paulo: Hucitec/Pólis, 2000.

FIGUEIREDO SOBRINHO, C. P.; SANTOS, A. D. G. dos. Do jornalismo esportivo ao infotretenimento: o caso do contrato entre Neymar Jr. e Globo como paradigma. Comunicação, Midia e Consumo, São Paulo, v. 17, p. 322-343, maio/ago. 2020.

GOMES, F. G. Ensaios sobre o subdesenvolvimento e a economia política contemporânea. São Paulo: Hucitec Editora, 2014.

SANTOS, A. D. G. dos. A identidade torcedora alagoana no século XXI: CSA, CRB e ASA na tela, no campo e nas pesquisas. In: HELAL, Ronaldo; COSTA, L.; FONTENELLE, C. (Orgs.). Esporte, mídia, identidades locais e globais: uma produção do Seminário Copa América. Rio de Janeiro: Autorale; Faperj, 2021. p. 238-251.

SANTOS, A. D. G. dos; BORGES, M. A. R. dos S.; FIGUEIREDO SOBRINHO, C. P. Quando um treinador substitui o nome do clube: uma análise do “Time de Ceni” como exemplo da lógica do clickbait na cobertura esportiva do Brasil. Fulia, Belo Horizonte, v. 5, n.1, p. 119-138, jan./abr. 2020.

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