Por Carlos Henrique Vasconcellos Ribeiro
Lá se vão dez anos que a Universidade Gama Filho (UGF) fechou. O encerramento ocorreu em janeiro de 2014.
Para quem é jovem ou de fora do Rio de Janeiro, é preciso explicar que UGF era uma instituição de ensino superior, localizada no bairro da Piedade, subúrbio carioca. Vários Cursos de Bacharelado e Licenciatura funcionavam lá, tanto das ciências humanas e sociais, quanto da saúde, passando pelas tecnológicas e engenharias1.
E na Gama Filho tinha o curso de Educação Física.
Exercício físico, dança, lutas e jogos eram objetos de prática e estudo naquele lugar. Havia uma atmosfera que favorecia o encontro de grupos de estudantes e professores/pesquisadores com interesses distintos, mas que de certa forma eram unidos por entender esse fenômeno complexo e tão particular, que é o fato dos seres humanos se prestarem a realizarem práticas corporais, tendo o esporte como seu elemento mais conhecido.
Quadras, salas de dança, piscinas, tatames e ginásios eram os locais de adesão e reflexão. Para unir mais ainda teoria e prática, a Gama tinha o Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física e Esporte, ou na sigla conhecida, o PPGEF. Foi lá que muitos pesquisadores que estão espalhados pelo Brasil deram seus primeiros passos, refletindo e ouvindo palavras de incentivo – às vezes nem tantas assim – em suas dissertações e teses.
Alguns professores que hoje fazem parte do grupo de pesquisadores do LEME, por exemplo, foram docentes da UGF, entre eles Hugo Lovisolo e Antônio Jorge Gonçalves Soares. Além desses, docentes como Ronaldo Helal e o saudoso Gilmar Mascarenhas eram frequentemente convidados para as bancas de mestrado e doutorado. O PPGEF fez parte, também, da trajetória acadêmica de Marco Antonio Santoro Salvador, Marco Paulo Stigger e Tiago Lisboa Bartholo.
Existiam duas áreas de concentração distintas nesse programa, uma conhecida como da área da cultura e outra como desempenho humano2. Nas aulas em que os grupos de estudantes vindos dessas áreas ficavam juntos – tal como na disciplina Seminário de Pesquisa – se tinha a impressão de que ambos eram de galáxias muito, muito distantes uma da outra. Cada grupo com seus métodos, referenciais e orientadores. Igual a todos os Programas Stricto Sensu espalhados pelo Brasil, singular nas pessoas com seus hábitos e verdades, na busca por legitimidade no status quo.
O curso de mestrado foi implementado em 1985 e o de doutorado em 19943. Durante sua existência, o PPGEF era avaliado regularmente com a nota 5 pela Capes4. Talvez por isso atraía gente de dentro e fora do Rio de Janeiro, fazendo com que os orientadores tivessem uma fila de candidatos. Além disso, o Programa era constantemente citado como um dos mais longevos para estudos que investigavam a produção acadêmica da área5. Era também o único Programa de Educação Física de mantença privada, no meio de todas as outras IES públicas, com nota acima de 3 no final da década de 19906.
E foi, no distante ano de 1998, que fui aprovado pelo corpo docente do Programa para cursar o mestrado.
Minhas aulas eram com os professores da área da Cultura, que incluíam Vera Lúcia de Menezes Costa (minha orientadora de mestrado), Sebastião Josué Votre (meu orientador de doutorado a partir de 2002), Hélder Guerra de Resende (Coordenador do Programa), Hugo Lovisolo, Lamartine da Costa, Vitor Marinho (saudades) e Nilda Teves (saudades). Cláudio Gil de Araújo e Paulo Sérgio Gomes também fizeram parte de minha formação, esses pertencentes à área do treinamento. Foi nesse período também que os primeiros doutores e doutoras da Cultura do PPGEF foram se formando: Antônio Soares, Ludmila Mourão, Yara Lacerda, Vera Costa, entre outros. Isso sem deixar de mencionar o Jorge Bernardo Fabri, secretário do Programa que sempre ajudava nos documentos, dava dicas sobre como lidar com os professores, e tinha uma grande lista de músicas e livros. Cultura pura!
É preciso encerrar, antes que esse texto vire um documento nostálgico. Há, também, o perigo que eu esteja incorrendo, a partir do esquecimento, ao não mencionar tantas outras pessoas de igual importância.
A Gama Filho tem seu lugar na história do Rio de Janeiro.
O PPGEF, assim como grandes equipes esportivas campeãs, tinha craques e jogadores da mais alta qualidade. Ter feito parte dessa equipe, mesmo que por curto período, é para mim fonte de satisfação e orgulho.
Referências
1 Universidade Gama Filho | Wikipedia
2 Mestrado e Doutorado em Educação Física | PPGEF UGF
4 *A página referenciada não consta mais nos servidores do portal do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UGF
Bela recordação. Fui aluno do primeiro curso de especialização em treinamento esportivo
Bela recordação. Fui aluno da primeira turma no Braisl de especialização em Ciência do Treinamento Esportivo, realizado pela Gama Filho, com a coordenação do saudoso Manoel Gomes Tubino, em 1979. Entre os professores estavam Paulo Sérgio, Claudio Gil e Nilda Teves (de quem guardo imenso carinho e além dos primeiros passos na estatística, me ensinou a construir gráficos, com régua, compasso e papel milimetrado). Largei os empregos que tinha em dois colégios e fui para o Rio de Janeiro. Fui morar numa pensão, na Piedade, vizinho à UGF. Foram quase 6 meses de curso. Não era como hoje, EAD ou etapas nos finais de semana. Antes da pós-graduação, já tinha frequantado a UGF, em 1975, para um curso de extensão, onde conheci o trabalho do professor alemão Helmuth Schulz. Ele tinha desenvolvido o método da “Matroginasia” (em espanhol). Era mais um programa dentro da proposta alemã do Sport für Alles (Esporte para todos). Retornei à UGF em 1982 para fazer a pós-graduação em futebol, com aulas no Centro Olímpico, na Piedade. O professor Pavão era o coordenador. Ali conheci e pude aprender mais com o Carlos Alberto Lanceta. A minha participação nos cursos da UGF foi o pilar onde pude edificar a minha profissional. Guardo com saudade e alegria todos os momentos que vivi ali, mesmo com todas as dificuldades que enfrentei. Atualmente, sou aposentado do Instituto Federal de PE e da Universidade de PE. Fui estagiário no Instituto de Fisiologia do Esporte, na Escola Superior de Esportes de Colônia, Alemanha, sob a supervisão do Dr.Jürgman Stegman. Sou mestre em Neurociências pela UFPE. Atualmente, criei e edito o site http://www.esportes21.com (visitem!)
Estou sempre atento lendo as newsletter do LEME.
Parabéns Carlos Henrique e Aldemir pelo belo texto. O nosso curso de EF foi idealizado e mantido nacional e internacionalmente pela obra de Manoel José Gomes Tubino que o elevou a ocupar lugar de destaque na AIESEP, instituição internacional de EF. Todos somos orgulhosos desse compromisso e responsabilidade!!! Vera Costa
Muito bom seu relato.
Antes da implosão tinha a esperança de rever a Universidade Gama Filho em funcionamento.