Centro e periferia

Talvez não haja tema mais atual que este. Tanto nos debates acadêmicos, nas Ciências Sociais, quanto na grande imprensa. Discute-se com profundidade, ou não, um possível encurtamento das distâncias entre estes dois universos outrora tão distantes. Viver no centro ou na periferia torna-se, cada vez mais, algo semelhante. Para uns, o acesso às novas tecnologias seria o principal responsável por este fenômeno. Mas, evidentemente, muitos vão se lembrar que as desigualdades sociais e econômicas continuam fazendo parte da vida real e delimitam claramente as fronteiras, algumas vezes intransponíveis.

No futebol brasileiro, a discussão também está presente e, durante os Campeonatos Estaduais, fica ainda mais flagrante. Obviamente, mais uma vez, os vilões seriam os mesmos: a toda-poderosa CBF e as emissoras de TV. A partir de decisões autoritárias destas duas “entidades”, tudo conspiraria a favor dos grandes. Os ricos ficam cada vez mais ricos enquanto os pequenos caminham a passos largos para o desaparecimento. Não parece conveniente ficar de acordo com esta visão apocalíptica e maniqueísta. Mas, também, não há espaço para ingenuidade, principalmente, num debate onde quase todas as partes se dizem insatisfeitas.

O torcedor de um time no interior de Minas Gerais, reclama da falta de prestígio e espaço de sua equipe na mídia estadual. Para ele, é uma grande injustiça o fato de todo o noticiário ser dedicado apenas aos times da capital. Em Belo Horizonte, o coro se estende até a imprensa. Afinal, o futebol mineiro seria sempre prejudicado por ter menos espaço na mídia nacional que os clubes cariocas.

Se conseguirmos ter um olhar bem atento à imprensa esportiva do Rio de Janeiro perceberemos que, frequentemente, também há um tom de lamento. Os vizinhos paulistas, talvez devido a uma economia mais fortalecida, passaram a ter, ao menos no choro de alguns cronistas, espaço maior na imprensa, além de conseguirem contratos mais vantajosos.

A equação é a mesma quando se fala dos “erros de arbitragem” ou das “maracutaias” promovidas pelos poderosos do futebol. As reclamações partem dos mesmos pontos e os acusados também são sempre os mesmos. O Tupi tem certeza que sempre será prejudicado pela arbitragem em jogos contra o Cruzeiro. Já o time Celeste garante que o Botafogo levará a melhor com os juízes nos confrontos nacionais. Enquanto isso, o Alvi-negro vai sempre lamentar uma expulsão injusta em um jogo contra o Corinthians.

Como este espaço é dedicado, especialmente, a discutir o jornalismo esportivo, vou me ater a ele. É inevitável que os times que possuem maior torcida ocupem um espaço maior na imprensa. Afinal, ali está o maior público consumidor. Por este mesmo motivo – se este clube possuir uma diretoria minimamente competente – também irá conseguir patrocínios mais lucrativos que os demais. Trata-se de uma razão exclusivamente mercadológica. Tanto com relação aos anúncios publicitários quanto, pasmem, à imprensa esportiva.

Pensar em um ambiente totalmente orquestrado em que poucos homens com as canetas nas mãos decidem quem serão os campeões, não nos levará a lugar algum. No entanto, cabe à imprensa esportiva cobrar e até sugerir maneiras para o que o futebol do interior do Brasil sobreviva, sem obviamente, atrapalhar o crescimento dos grandes clubes. É preciso lembrar que muitos dos nossos principais craques surgiram em times pequenos, algo hoje cada vez mais incomum.

Tratar desta complicada co-relação de forças no futebol, sem dar motivos para ser acusado de bairrista, é algo extremamente delicado. Mas que precisa começar a ser feito. Do contrário, continuaremos a ver, mesmo em jogos no interior, mais gente com as camisas do Real Madrid e do Barcelona, do que com o uniforme da equipe local.

Neste vídeo, Presidente do Cruzeiro acusa CBF de promover um esquema para favorecer o Corinthians no Campeonato Brasileiro 2010. Vale lembrar, que o título acabou nas mãos do Fluminense. Além disso, Zezé Perrela, um dia depois de mostrar tamanha revolta com a entidade máxima do futebol brasileiro, chefiou a delegação da Seleção Brasileira em uma viagem internacional.

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