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História mínima do futebol argentino: Montagem 2020

Nemesia Hijós[1], Nicolás Cabrera[2] e Franco Reyna[3]

Todos os recortes históricos são arbitrários. Sempre, porém, há momentos mais propícios que outros para exercer o direito à injustiça histórica. Os aniversários ou as efemérides talvez sejam as datas mais comuns para propor montagens diacrônicas e sincrônicas. Dizemos montagens porque falamos de fazer acoplamentos e desacoplamentos – entre o que está escrito e o que é visual – para propor novos ensaios do aparentemente desconexo. Passaram-se 100 anos desde a década de 20 do século XX. Uma década que, para o futebol argentino, foi determinante em sua estruturação como espetáculo massivo, popular, mercantilizado e masculino.

Nós escolhemos três eixos que não tem uma origem ou um final marcado na década de 20, nem apresentam linhas similares no país todo, mas, se tentarmos reconstruir uma “história social do futebol argentino”, sem dúvida falamos de dimensões fundamentais de uma época inevitável. Uma década em que se acelera o processo de popularização do futebol e da sua transformação em espetáculo massivo; onde as mulheres são excluídas embora elas resistam com gestos de resistência; e onde a profissionalização do futebol começa a tomar forma na mão do amadorismo “marrom”.

Na continuação, apresentamos uma “superposição interativa” (Geertz, 2006: 53) de processos que hoje trazemos como modo de ensaio, como uma primeira tentativa, a fim de caminhar para trás, mirando no futuro. Um acoplamento de textos e imagens para discutir o futebol argentino que tínhamos, para assim poder imaginar o futebol argentino que desejamos.

O processo de popularização do futebol e sua transformação em um espetáculo de massa

O futebol foi introduzido na Argentina na segunda metade do século XIX pelos agentes do capitalismo industrial e mercantil britânico. Jogado inicialmente dentro de seus clubes e escolas públicas, logo se tornou um passatempo da elite local. Desde os últimos anos do século XIX, sua prática começou a interessar aos jovens dos setores médios e populares, em sua maioria estudantes, pequenos comerciantes, profissionais e trabalhadores urbanos, os quais progressivamente começaram a formar suas próprias instituições e competições para o desenvolvimento do jogo. Desde as zonas portuárias do país, o esporte se estendeu pelo resto da Argentina seguindo majoritariamente a expansão da rede ferroviária.

Os anos vinte implicaram na consolidação do futebol como um dos principais entretenimentos da população e consolidaram as bases para sua conformação como um espetáculo de massas. Nessa época, caracterizada por uma grande bonança econômica, crescimento demográfico e expansão urbana das principais cidades do país, a população dispunha de maior tempo livre e recursos para acessar cada vez mais massivamente ao consumo de atividades de ócio – entre as quais se destacava o futebol. Nesse sentido, desde então, o número de jogadores que começaram a participar das ligas oficiais locais e os diferentes circuitos independentes do “futebol amador” aumentaram substancialmente. Para citar um exemplo, se em 1920 eram aproximadamente 6 mil jogadores inscritos nos registros da liga oficial de Buenos Aires (Associação Amadora Argentina de Futebol – AAAF), em 1930 esse número superava os 25 mil.

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Foto 1. A seleção argentina recebendo o Barcelona FC no Estádio do Sportivo Barracas em 1928. Fonte: Arquivo Geral da Nação (AGN, Argentina), Dpto. Doc. Fotográficos. Consulta_INV: 329.102. Ano 1928

Esse fenômeno foi acompanhado por uma expansão associativa dos clubes, que começaram a incorporar novas atividades esportivas, sociais e recreativas para captar sócios e sócias. Ao mesmo tempo, houve uma maior padronização, institucionalização e sistematização das estruturas e dos aparatos competitivos, o que levou a formação de novos mercados de consumo desportivo. Por exemplo, nesses anos se generalizaram os intercâmbios esportivos contra equipes e seleções do continente e da Europa. Nesse contexto, o hábito de assistir aos jogos se espalhou, o que levou a um aumento significativo das arrecadações. No caso de Buenos Aires, as partidas mais importantes da época chegaram a ter 50 mil pessoas. A fim de abrigar a assistência massiva, os clubes tiveram de melhorar sua infraestrutura, o que levou à construção dos primeiros estádios de cimento do país. A imprensa acompanhou e imprimiu novos alcances a esse processo ao ampliar e renovar sua capacidade de cobertura e difusão das práticas esportivas. Desta maneira, o futebol se converteu em um produto cultural de massas que afetou o repertório identitário da população e contribuiu com a modernização da sociedade.

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Foto2. 55 mil pessoas presenciam o clássico entre San Lorenzo e Boca Juniors no Estádio de Avenida La Plata. Fonte: El Gráfico, 8 de setembro de 1929.

A profissionalização (ilegal) dos jogadores homens

Por mais que a profissionalização do futebol masculino tenha se oficializado na década de 30 (Buenos Aires foi a pioneira em 1931), foi ao longo dos anos 1920 que a prática do “amadorismo marrom” se difundiu, isto é, uma espécie de profissionalismo ilegal que consistia na cobrança por parte dos jogadores de uma quantia monetária ou algum outro benefício material previamente acordado com os dirigentes esportivos, apesar de sua proibição regulamentar (Reyna, 2015). A retribuição podia ser um pagamento periódico ou por partida, um prêmio posterior a cada encontro, uma comissão para viagens, roupas ou a comida diária. Outra forma de remuneração era colocar algum jogador em uma instituição pública. Finalmente, a última artimanha comum da época era “contratar” os jogadores ou seus familiares como empregados de empresas privadas para justificar os pagamentos registrados. Muitas dessas empresas pertenciam a simpatizantes ou dirigentes dos clubes.

Mais de uma denúncia circulava nos arredores revelando que alguns jogadores de renome pediam aos dirigentes um grande subsídio financeiro como condição para seguir vestindo as cores do clube; caso contrário, iam para outros instituições que lhes ofereciam acordos melhores. O recurso ao profissionalismo ilegal entrava em jogo quando era necessário competir pela conquista desses serviços, fosse para manter um jogador nas fileiras do clube em que atuava ou para convencê-lo a partir para um novo. Este era um comportamento que foi combatido nas páginas dos jornais, que mantiveram uma campanha moralizadora contras os jogadores denominados “desonestos” e contra os clubes que os incentivavam.

No entanto, o surgimento do “marronismo” possibilitou que muitos jovens dos setores populares pudessem dedicar-se com maior exclusividade à prática esportiva de alto rendimento e associaram-na, pela primeira vez, a um meio de vida alternativo e à possibilidade de uma mobilidade social ascendente. Embora essa aspiração só tenha se materializado em poucos casos, dado que, em sua grande maioria, as somas em jogo eram pequenas, os jogadores que mais se destacavam emergiram nesta época como figuras de consumo cultural por conta de seus méritos desportivos.

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Foto 3. Diárias aos jogadores de futebol. Fonte: El Gráfico, 4 de dezembro de 1926.

A partir de 1926, a FIFA reconheceu oficialmente a existência do amadorismo marrom e vários países começaram a legalizar o profissionalismo. Na Argentina, esse fenômeno se entrelaçou poucos anos depois com a crescente insatisfação dos jogadores com os dirigentes pelas restrições contratuais a sua livre mobilidade e capacidade escolher onde queriam jogar. Nesse período, no princípio de abril de 1931 um grupo de jogadores que faziam parte da Associação Mutualista de Jogadores de Futebol – a primeira entidade no país criada por futebolistas para defender seus interesses corporativos – levaram uma petição à AAAF exigindo o passe livre, ou seja, a possibilidade de mudar de clube com a aprovação apenas da entidade que o desejava. Diante da falta de resposta dos diretores, os jogadores se declararam em greve, organizaram uma marcha e pediriam a mediação das autoridades governamentais, que viram na legalização da prática remunerada uma solução para o assunto.

Tal como comenta Julio Frydenberg (2011), ao final desse mês, a grande maioria dos 36 clubes pertencentes à AAAF se disseram a favor do profissionalismo. Os futebolistas tiveram a possibilidade de obter remunerações por suas atividades em troca de uma maior especialização e dedicação à prática. Essa nova disposição não conseguiu o aval da associação e 18 dos clubes mais poderosos de Buenos Aires constituíram sua própria federação, a Liga Argentina de Futebol (LAF). Os clubes excluídos da nova entidade se agruparam em torno da Associação Argentina de Futebol (AAF). A LAF conseguiu impor-se a pela hierarquia de seus clubes e firmou pactos de concordância com as federações das cidades de Rosario, Córdoba e Santa Fé para reger os destinos nacionais. A necessidade de evitar a migração dos jogadores mais talentosos dessas ligas às equipes profissionais “porteñas” abriu o caminho para a posterior profissionalização do futebol naqueles lugares, o que implicou em uma nova fase na transformação do espetáculo desportivo.

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Foto 4. Fernando Paternoster, craque do Racing Club de Avellaneda e da seleção argentina. Fonte: El Gráfico, 7 de setembro de 1929.

Invisibilidade, exclusão, disputas e resistência. O lugar das mulheres na história centenária do futebol

Ainda que a história nos mostre que espaços como o futebol tenham sido de e para homens, as mulheres sempre estiveram presentes (Cabrera e Hijós, 2020). Antes de serem encaradas como acompanhantes, torcedoras e fanáticas, as mulheres argentinas jogavam em clubes, inspiradas pela popularidade das “footballers” inglesas e francesas. Os primeiros registros revelam a existência de uma equipe feminina em 1922 em Buenos Aires, chamada Río de la Plata. Entretanto, quando que o futebol se tornou um esporte nacional e passou a ser parte da identidade argentina, trouxe uma única condição de gênero: um espaço quase exclusivamente jogado e contado por homens, onde se constroem e reforçam masculinidades hegemônicas (Archetti, 1994), do qual as mulheres foram isoladas e invisibilizadas.

Os meios de comunicação de massa são em grande parte responsáveis pelo lugar de privilégio concedido ao futebol masculino, com coberturas sexistas que enunciam esportes que estão em concordância com o gênero e que – até hoje – têm ignorado quase que por completo os jogos femininos. Assim, nas publicações da época foi se configurando o tênis, o atletismo, o golfe, a natação e – particularmente desde a década de 1920 – o vôlei e o basquete como esportes para as mulheres, além de outras práticas “adequadas” como a “pelota vasca” e o pushball, que hoje não tem protagonismo. Os argumentos biológicos promovidos pela perspectiva científica da época, as premissas vinculadas à saúde e a fisionomia das mulheres (“um corpo despreparado para este esforço muscular”) junto com as presunções de falta de atratividade como espetáculo (“não teriam a força que entusiasma o público)[4] eram os fatores determinantes para separar as mulheres do futebol, instaurando modos de ser legítimos.

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Foto 5. Argumentos pelos quais as mulheres não deveriam jogar futebol. Fonte: El Gráfico, 15 de janeiro de 1921.

As representações da época condenaram a participação feminina, associando a ação de jogo com o lesbianismo e à sexualidade descontrolada (“os choques tratavam os jogadores em um abraço lésbico inaceitável”)[5], levando razões supostamente objetivas (ligadas à ciência e à saúde) para tirar as mulheres e respaldar ideias de que esta era uma prática que não era para elas. Mesmo que na Argentina o futebol não tenha sido proibido legalmente para as mulheres[6], a eliminação se materializou em termos de representação[7]. Na imprensa escrita, as mulheres são relacionadas com imagens ligadas à vida familiar, ao cuidado e ao acompanhamento, referências que contribuíram na configuração de identidades femininas e que moldaram os corpos, nos quais os benefícios da atividade física se apresentavam associados ao cultivo da beleza e da boa saúde. Gradualmente, em revistas e jornais dos anos vinte, as mulheres começaram a ser representadas de modo passivo. A “mulher moderna” era caracterizada pela debilidade física, intelectual e moral, assim como de excesso de sentimentalismo, enquanto suas funções fundamentais eram a maternidade e o cuidado da família, que acreditavam ser constitutivas de sua essência (Barrancos, 2010).

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Foto 6. Encontro entre Feminina Sport Club de Paris e Dick Kerr de Preston da Inglaterra. Fonte: El Gráfico, 13 de junho de 1925.

A presença das mulheres nos campos de futebol e seu papel como torcedoras também se potencializou, sem deixar de ser um estigma de um ambiente de “machos”, que as invisibilizou e diluiu como ocorreu depois. As coberturas periódicas dos finais dos anos vinte destacavam sua paixão fervorosa, o conhecimento sobre jogadas e performances, sem omitir os trabalhos esperados que implica o ser mulher (como o bordado das bandeiras nos intervalos das partidas) e o aporte de “elegância” e “civilidade” que sua presença supunha. Esse estado de excepcionalidade e as concessões de permissão para as mulheres (torcedoras) se interrompia com o fim da partida dos homens. Como relata uma nota do El Gráfico de 1929 sobre o perfil da torcedora de futebol: “quando terminar a partida, recobrará seu sexo e adotará novamente seu passo curto, discreto”, retornando ao âmbito privado para novamente naturalizar a divisão de papéis na confirmação histórica de modelos femininos e masculinos.

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Foto 7. O perfil da torcedora de futebol argentina. Fonte: El Gráfico, 14 de dezembro de 1929;

Considerações Finais

O futebol argentino, nascido na segunda metade do século XIX com as marcas do elitismo, amadorismo e fair play, mostrava ao final dos anos vinte do século seguinte, um rosto popular, masculino, massivo e mercantilizado. Foi nessa década que confluíram uma série de fenômenos que marcaram o futuro do esporte até a atualidade. Não falamos de etapas sequencialmente estruturadas, mas sim de processos de sobreposição relacional. Tendências que sofrerão com as marchas e contramarchas nos períodos subsequentes, pois “a história” nunca está livre de rupturas, deslocamentos, pausas, intermitências ou recuos.

A título de encerramento, continuamos com algumas perguntas. Sabendo que não há temporalidades sem espacialidades, nos perguntamos: quanto desta “história mínima” traçada peca de “porteñocentrismo”? Que outros processos e tendências se desenvolveram em outras geografias do país? Também sabemos que o futebol sempre deve pensar-se relacionalmente com outros campos, então: que outras democratizações do lazer operaram durante aquela década para que a popularização e massificação do futebol pudesse ocorrer? Quanto a modernização urbana da época tem relação com a institucionalização e expansão do futebol?

Um tema vital que foi deixado de lado por questões de espaço foi o da violência nos estádios da época. Não é por acaso que nos primeiros anos do século XX, quando surgiram os primeiros grandes tumultos e mortos, a imprensa escrita começou a cunhar a noção de “barras” para coletivizar – sob uma forte vocação moralista – os “torcedores fanáticos” que protagonizam episódios “antidesportivos”, “incultos” ou “de vandalismo”. Então quanto tem a ver o pânico moral criado desde a imprensa com a popularização do futebol? Em outras palavras, o dito pânico moral não supõe um pânico de classe?

Também expusemos como a história do futebol na Argentina tem sido protagonizada e configurada por uma perspectiva masculina. Havia – e há – um desejo de neutralizar a presença feminina em um espaço “de e para homens”. Hoje, quase cem anos depois das primeiras referências de mulheres no futebol, como elas são representadas? Até que ponto nos afastamos destas representações que põem em circulação visões sexistas e reproduzem estereótipos? Quanto mudaram os papéis historicamente designados às mulheres no esporte? Quanto falta para alcançar um horizonte emancipatório e libertador em termos de gênero? Estão sendo construídas opções alternativas no futebol?

Por fim, pensando neste artigo, o que, do que foi dito da Argentina, pode ser comparado com o caso brasileiro? Parafraseando a grande fundadora dos cruzamentos entre ciências sociais e futebol, Simoni Lahud Guedes, o que une e o que separa no futebol Argentina e Brasil? Duas nações condenadas a um jogo de espelhos entre si.

Todas são perguntas inevitáveis que abrem um caminho a ser seguido pelas pesquisas sociais destinadas a compreender o desenvolvimento alcançado pelo esporte ao longo de sua história.

[1] Doutoranda em Ciências Sociais (FSOC, UBA, Argentina). Mestre em Antropologia Social (IDES-IDAES/UNSAM). Graduada em Ciências Antropológicas (FFyL, UBA). Bolsista de Doutorado do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (CONICET). Email: nemesiahijos@gmail.com

[2] Doutor em Antropologia (Universidade Nacional de Córdoba, Argentina). Bolsista de Pós-doutorado IDACOR-UNC-CONICET. Email: nico_cab@hotmail.com

[3] Doutor em História (Universidade Nacional de Córdoba, Argentina). Investigador Assistente CONICET. Email: franco2reyna@hotmail.com

[4] Uma das primeiras representações foi a nota do jogador inglês Andy Ducat no El Gráfico (15 de janeiro de 1921) no artigo “Por que a mulher não deve praticar o futebol?”, ele explica que, por natureza, “a mulher” é frágil demais para participar de um esporte tão “rude” e que, ao jogar este esporte de “machos”, corre risco de ganhar musculatura, transformando- se em um “marimacho”, deixando de “ser mulher”.

[5] Referência do poema de Bernardo Canal Feijoó, “Futebol de mulheres”, de sua coleção Penúltimo poema de fútbol de 1924.

[6] Por ser considerado perigoso para o sexo “mais frágil”, ao colocar em risco o sistema reprodutivo feminino, esteve proibido em países como Inglaterra (1921-1971), Brasil (1941-1979) y Alemanha (1955-1970).

[7] Durante os primeiros 50 anos da revista El Gráfico somente 10% das capas foram destinadas a mulheres e não mais que 6% a mulheres atletas.

Referências bibliográficas

Archetti, E. (1994). Masculinity and football: The formation of national identity in Argentina. En R. Giulianotti y J. Williams (Eds.), Game without Frontiers: Football, Identity and Modernity (pp. 225-243). Aldershot: Arena.

Barrancos, D. (2010). Mujeres en la sociedad argentina: una historia de cinco siglos.
Buenos Aires: Sudamericana.

Cabrera, N. e Hijós, N. (2020). Juegos de espejos: una historia mínima del fútbol femenino en Argentina y Brasil. En Hijós, N.; Moreira, V. y Soto-Lagos, R. (Eds.), Los días del Mundial: miradas críticas y globales sobre Francia 2019 (pp. 42-46). Ciudad Autónoma de Buenos Aires: CLACSO.

Frydenberg, J. (2011). Historia social del fútbol. Del amateurismo a la profesionalización. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores.

Geertz, C. (2006). La interpretación de las culturas. Barcelona: Gedisa.

Reyna, F. (2015). “La difusión y apropiación del fútbol en el proceso de modernización en Córdoba (1900-1943). Actores, prácticas, representaciones e identidades sociales”, Tesis Doctoral en Historia. Córdoba: Universidad Nacional de Córdoba.

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Encontros LEME discute os 70 anos do Maracanazo

O Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte realizará, no dia 31 de julho de 2020 às 19h, a sexta edição dos Encontros LEME em 2020. Dessa vez, faremos uma edição especial para lembrar os 70 anos do Maracanazo. Para discutir esse episódio histórico do futebol nacional, contaremos com a presença de Alvaro do Cabo, Gastón Laborido, Francisco Brinati e Sergio Souto.

Por conta da pandemia, os Encontros estão sendo realizados na modalidade virtual. Para essa edição, faremos uma transmissão ao vivo, em nosso canal no Youtube. Não será necessário se inscrever previamente, já que a transmissão será aberta.

Testeira Facebook - Especial 70 anos Maracanazo

Encontros LEME é uma proposta do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte que visa a partir da leitura de textos e análise de produções fílmicas realizar debates com professores, pesquisadores, graduandos e convidados interessados em estudar as interseções da Comunicação com o Esporte.

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O rádio e o futebol

Maracanã lotado, com festa das torcidas nas arquibancadas, revivendo os tempos de ouro de um dos mais tradicionais clássicos do futebol mundial, que segundo Nelson Rodrigues “nasceu 40 minutos antes do nada”. É noite de Fla-Flu pela final da Taça Rio e a cidade está em festa. Os gritos, os cânticos, a emoção são variadas. Audíveis. Isso, ao menos, para quem, como eu, escutou parte do jogo de quarta-feira (8) sintonizado pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro.

A emissora, sob o pretexto de “passar mais emoção ao ouvinte”, incluiu à narração do excelente José Carlos Araújo, o Garotinho da Galera, um som de fundo de burburinho de torcida, gritos e cânticos que, inclusive, eram modificados a depender do momento de jogo. Menos extasiados no intervalo da partida, por exemplo, mais ensandecidos nos momentos em que a bola rolava.

Duas questões precisam ser ditas sobre tudo isso. A primeira é a de que o resultado ficou espetacular. Você ouvia, e de fato se imaginava acompanhando um jogo com estádio lotado. Com festa. Mas a segunda é o fato de que, mesmo tendo ficado bonito, empolgante, o artifício jamais poderia ter sido utilizado, a meu ver.

Não se trata de uma radionovela, de uma obra de arte, de uma peça de ficção. Trata-se, acima de tudo, de jornalismo, informação, fatos que estão sendo irradiados e noticiados para um público interessado pelo jogo, pelo que está acontecendo.

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chuteirafc.cartacapital.com.br

E tudo bem que o ato de se assistir a – ou ouvir – um jogo de futebol estará sempre envolto ao prazer e ao drama que o esporte produz, mas isso não pode ser oferecido sem certos limites éticos. Afinal, o jornalismo esportivo (e uma transmissão de partida de futebol está incluída aqui) não deveria jamais incluir artifícios que afastam o seu público da realidade, dos fatos, dos acontecimentos, da análise crítica do que está posto no país.

Que tipo de radiojornalismo é esse que vende um mundo fantástico que simplesmente não existe? Onde a transmissão, como porta-voz privilegiada dos fatos, induz os seus ouvintes a imaginar um cenário diferente daquele que de fato acontece?

Ao ligar o rádio, estranhei. Depois, achei graça. Passado os primeiros momentos de estranheza, contudo, comecei a refletir. E pensei na gravidade que o episódio representa em meio a um país envolto a uma pandemia fora de controle, em que muitos dos seus governantes adotam um perfil negacionista e em que o futebol retorna sem as condições mínimas necessárias para tanto.

Como último exercício, alternei algumas vezes as transmissões da Tupi e da CBN Rio. O impacto era profundo demais. O que se fez na primeira não foi menos do que uma espécie de manipulação, uma apresentação do irreal como se fosse real. E por mais que ficasse obvio que aquilo era um artifício técnico, os efeitos me parecem danosos demais.

Quem ouviu o jogo pela Rádio Tupi e se empolgou com o clima falsamente festivo que foi construído, corre o risco de esquecer que ali do lado, no estacionamento do estádio, existe um hospital de campanha instalado em caráter emergencial onde todos os dias morre alguém vítima de Covid-19. Corre o risco de esquecer, também, que os jogos estão acontecendo sem torcida justamente por causa de todo este caos. Corre o risco de imaginar que está tudo bem num país em meio a um estado de calamidade pública.

Não se trata de uma mera vinheta, de um sinal sonoro, de uma técnica vocal apurada ou de um bordão engraçado que desde que o rádio é rádio é usado nas transmissões futebolísticas. Não, é mais do que isso o que aconteceu no jogo de quarta-feira.

E foi algo que me deixou muito preocupado, não me restam mais dúvidas.

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Encontros LEME virtual discute o documentário “Torcedores”

O Laboratório de Estudos em Mídia e Esportes realizará seu terceiro Encontros LEME virtual no dia 03 de julho (sexta-feira), às 19h, na modalidade on-line. Nosso convidado será Édison Gastaldo, professor do Centro de Estudos de Pessoal – Forte Duque de Caxias.

Na ocasião, conversaremos sobre o documentário “Torcedores: vida, paixão e morte no país do futebol”, produzido e dirigido pelo próprio Gastaldo. O filme está disponível no Youtube.

O encontro será aberto a participação de todos, com prioridade para estudantes da UERJ (graduação e pós-graduação) e de outras instituições de ensino superior, mediante inscrição prévia. Reiteramos que, caso não seja aluno, ainda assim é possível se inscrever.

Para se inscrever, basta enviar para o nosso e-mail (lemeuerj@gmail.com) seu nome completo, curso de graduação, instituição de ensino e, caso possua, nome de usuário (@) em redes sociais (Facebook e/ou Instagram). Após o cadastro, o participante receberá o link para a reunião (via Zoom).

Testeira Facebook - Édison Gastaldo

Artigos · Entrevistas

O futebol no mundo pós-pandemia

O futebol é uma paixão nacional e, nas últimas semanas, a discussão sobre um possível retorno de competições no país tem crescido de forma exponencial. Na Alemanha, o retorno já aconteceu, porém sem a presença do torcedor. Mas como será esse futebol no mundo pós-pandemia, que, pelo menos num primeiro momento, acontecerá sem a presença, ou com presença muito restrita, do torcedor? Ouvimos Nico Cabrera, doutor em Antropologia e pesquisador da Universidade Nacional de Córdoba. Autor de vários estudos sobre torcidas organizadas no Brasil e na América Latina. Ele nos fala sobre suas experiências junto a estas torcidas, como está a ação delas durante a pandemia e de como será o futebol pós-COVID-19 para esse grupo de torcedores já tão marginalizados no Brasil e no mundo.

Foto Nico Cabrera - Materia Torcidas organizadas
Nicolas Cabrera (imagem cedida pelo próprio para o blog)

LEME – Como você acredita que a pandemia provocada pelo novo coronavírus irá impactar o futebol e, especificamente, em relação a torcida e ao ato de torcer?

Nico Cabrera – Eu vejo um cenário de muitas incertezas. Acredito num agravamento de duas tendências. Uma diz respeito ao predomínio do futebol negócio, onde os torcedores serão pensados mais como consumidores. O futebol sendo, portanto, mais elitizado, protocolizado e espetacularizado. A segunda, seria o torcedor sendo visto mais como um espectador passivo do que ator protagonista. Um outro ponto importante diz respeito a um aumento de outras formas de se torcer. Não falaria de uma nova cultura do torcer. Mas de uma soma, de uma aglutinação de processos do torcer que já estavam em desenvolvimento mesmo antes da pandemia. Haverá, por exemplo, um deslocamento do “torcer” para a cultura digital e a valorização do “assistir jogos pela televisão”. Na volta do campeonato alemão, a Sky Sports bateu recorde de audiência com mais de 6 milhões de espectadores. 

LEME – E qual será o lugar das torcidas organizadas neste futebol elitizado e “arenizado”?

NC – Com a transformação dos estádios em Arenas, os torcedores já vinham sofrendo uma ofensiva para que eles fossem retirados dos estádios. Com a pandemia, a tendência é esta prática se intensificar. Mas eu vejo isso também como uma oportunidade para as torcidas se reinventarem. E esta reinvenção possui um sentido duplo. Ela pode vir como um movimento de resistência, com protestos, como tem acontecido na Europa. Pode também ser criativa, desenvolvendo novas formas de torcer. Os torcedores sempre dão um jeito de se tornarem protagonistas. No outro sentido, as torcidas organizadas, ou “barras”, como são conhecidas no resto do continente, podem aproveitar esse momento para mudar a sua imagem junto a sociedade, visto que são muito estigmatizadas como organizações violentas.

LEME – Como têm sido a ação das torcidas organizadas, ou “Barras”, durante a pandemia?

NC – Então, está havendo muito engajamento. Muitas torcidas organizadas, no Brasil e nas Américas, estão atuando em campanhas de ajuda e solidariedade durante o coronavírus. Posso citar o exemplo da “Gaviões da Fiel”, do Corinthians e de outras, como as torcidas organizadas do Bahia, do Náutico, Cruzeiro. Na transformação do estádio do Pacaembú, São Paulo, em hospital de campanha, houve a adesão de muitos voluntários de torcidas organizadas. Na colômbia, desenvolveram campanhas de ajuda humanitária as torcidas do Atlético Nacional de Medelín, do Colo-colo. As torcidas organizadas são formadas por pessoas com penetração em territórios pobres e periféricos. Por esta razão, elas podem contribuir bastante em campanhas de saúde pública. Esta é uma função que as torcidas organizadas exercem fora dos estádios, ninguém vê e são muito importantes.

LEME – Você fala num estigma das torcidas organizadas como causadoras de violência em estádios. A mídia constantemente remete à ausência do público, das “famílias”, nos estádios também as ações destas torcidas. Você acredita num futebol pós-pandemia sem a presenças das “barras”?

NC – O Futebol, sem as torcidas organizadas, perderia seu conteúdo popular, festivo, carnavalesco, colorido. Elas fizeram, do futebol, o esporte mais popular no Brasil e nas Américas. É errado pensar que, tirando as torcidas organizadas dos estádios, a violência irá desaparecer. Em diversos lugares do mundo, inclusive no Brasil, adotou-se um modelo de torcida única nos estádios, sem a presença da torcida do time “visitante”. Mas a violência não diminuiu. A violência não desaparece, ela se desloca. Com a torcida única, presenciamos briga fora dos estádios e mesmo dentro dos estádios, entre torcidas do mesmo time.  Outro ponto a ser destacado é o aspecto cultural. No Brasil, e nas Américas, o verdadeiro torcedor é, nas representações dos torcedores, aquele cara, ou aquela menina, que vai aos estádios, apoiando sua equipe nos momentos bons e, mais ainda, nos momentos difíceis. Na moral dos torcedores, a presença física é uma regra de ouro. Ele não pode ser alguém que fica em casa assistindo futebol na televisão. O verdadeiro torcedor é aquele vai, além de toda adversidade, ver seu time no estádio. Se ele tiver que quebrar regras, melhor ainda. Isso só acrescenta a sua reputação como torcedor. Torcer é um sentimento, uma paixão. Além disso, as narrativas do futebol sempre precisam de um território. A nação, o clube, o bairro, o estádio. Isso não vai desaparecer. Os torcedores sempre terão um território a conquistar. Então, no futebol pós-pandemia, haverá muitas mudanças, mas nem tudo vai mudar e vamos torcer para que o verdadeiro torcedor, sobreviva e continue indo aos estádios.

Entrevista cedida por Henrique Biscardi.

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O direito à memória

Estamos sem futebol ao vivo. Sem esportes ao vivo. Temos o campeonato alemão, mas não temos nossos times/clubes jogando. O narrador Everaldo Marques saiu dos canais ESPN para o Sportv e em sua chegada anunciou a alegria de poder narrar os diversos esportes na nova emissora. Hoje, em função da pandemia, ele está narrando jogos de videogame entre jogadores de futebol… A discussão nesse texto não é se o e-sport é ou não é esporte ou o que se deveria transmitir agora (eu pensei que as emissoras poderiam transmitir o campeonato do “e se…”, os torcedores poderiam escolher um lance e mudar sua história… – tenho outras sugestões como o Brasileirão de meia-hora, mas estou perdendo o foco). Nas próximas linhas quero tentar pensar no direito à memória nos esportes em geral e no futebol em específico.

Nesse momento em que o futebol ao vivo não inclui nossos times/clubes ou mesmo a seleção, temos visto uma escolha por jogos específicos que autorizam algumas memórias e não outras. Sabemos que a memória não é algo qualquer:

(…) a memória, que implica reconhecer informações como sendo informações sobre o passado, precisa ser assumida como processo ativo de construção que se faz no presente e para atender a interesses do presente. Não se copia, nem se resgata, nem se descobre, nem se desvenda o passado, mas se constrói o passado. Assim, nossa relação com o passado é sempre de ruptura, é sempre lacunar, pois construímos determinadas memórias, inventamos determinadas tradições, lembramos de determinados episódios e de determinados heróis, e não de outros. É para o presente e no presente que se constrói a memória (SEFFNER, 2002, p. 370).

A memória não apenas é produzida por e para o tempo presente, ela também ensina sobre o tempo presente. Um dos ensinamentos facilmente verificáveis é a dimensão que a televisão, especialmente a aberta, ainda ocupa. É verdade que boa parte dos jogos transmitidos na televisão aberta e fechada estão disponíveis na internet, mas as audiências da televisão aberta na transmissão de jogos em que a Seleção Brasileira de futebol masculino conquistou títulos não é um dado insignificante.

Fonte: goal

Outro aprendizado importante é sobre os jogos que importam. Quase sempre os jogos que importam são aqueles que vencemos e, especialmente, em competições relevantes. Na televisão aberta, somente as vitórias. Na fechada apenas as grandes competições. Lembro de um golaço de Elivélton pela seleção em 1991 em amistoso contra a, hoje inexistente, Tchecoeslováquia. Esse jogo poderia ser reprisado? Aquele chocolate que demos na Argentina na Copa do Mundo de 1990, mas perdemos por 1 a 0 estaria na lista das possíveis exibições? Brasil e Paraguai pelas Eliminatórias para a Copa de 2002 faz algum sentido? México 1 a 0 no Brasil pela Copa Ouro, em 2003 (Thiago Mota jogando na Seleção Brasileira) poderia aparecer na televisão ou terá que ser relegado a minha memória individual por ter sido o único jogo da Seleção Brasileira que assisti fora de casa?

No cenário clubístico temos algo semelhante. Na televisão aberta alguns regionalismos aparecem, assim como alguns clubes nacionais. Parece existir times com direito à cidade, vide o exemplo dos paranaenses, times de estado, nós gaúchos estamos aqui e times nacionais, especialmente de Rio e São Paulo. Existem clubes grandes sem direito a transmissão no seu bairro… Alguém me dirá que isso é calculado pela audiência ou pelo número de torcedores. Eu sei, é verdade. Mas eu também sei que o “gosto” se constrói. Sabemos que o Flamengo campeão da Libertadores é mais brasileiro do que o Internacional campeão da mesma Libertadores. O imperativo da vitória também aparece. Está certo, meu time já perdeu algumas reprises no canal fechado, mas não eram os jogos que importavam para o meu time, mas os jogos que importavam para o adversário e que, por acidente, estivemos ali para preencher a narrativa.

A escolha dos jogos mostra algumas escolhas do que vem acontecendo desde muito, talvez especialmente a partir da virada do século ou se quisermos voltar um pouco mais podemos pensar na criação do Clube dos 13, que marcam não apenas os jogos, mas quais os clubes têm direito a memória. Na Copa do Brasil de 2004, XV de Novembro, de Campo Bom – interior do Rio Grande do Sul, e Santo André – do ABC Paulista, fizeram um grande enfrentamento com muitas viradas. Os gaúchos, então comandados pelo novato Mano Menezes venceram no Pacaembú por 4 a 3 e conseguiram ser eliminados pelos paulistas no estádio Olímpico ao serem derrotados por 3 a 1. Não me parece que esses jogos estejam sendo pensados para serem reprisados, nem mesmo para Campo Bom ou para Santo André.

Com um pouco de surpresa, vi que o Sportv transmitiu Grêmio 2 X 1 Sport pela Copa João Havelange, no ano 2000. Achei uma escolha um tanto curiosa, um enfrentamento de uma fase ainda não tão decisiva de uma competição em que o Grêmio não foi campeão. Voltei a programação e vi que aquele jogo era um da série de jogos especiais em função de Ronaldinho Gaúcho, que marcou dois gols naquela partida. Pelo Campeonato Brasileiro de 1999, o Grêmio venceu o Flamengo no Maracanã por 4 a 3 com 3 gols do atacante Zé Alcino. Apesar do feito, Zé Alcino não parece merecer a mesma reprise que Ronaldinho.

Em minha tese de doutorado ao conversar com os torcedores do Grêmio sobre o trânsito entre o estádio Olímpico e a Arena do Grêmio notei esse mesmo exercício na construção das memórias:

Conversando com torcedores sobre o estádio Olímpico, notei que as lembranças, as minhas e as deles, sempre tratavam das grandes vitórias, dos primeiros jogos e dos títulos. Boa parte das narrativas dos sujeitos sobre uma memória do estádio Olímpico era eleita em uma partida específica dos quase sessenta anos de atividades do estádio. Eu poderia ter lembrado do Gre-Nal em que perdemos por 2 a 5, da derrota no Campeonato Gaúcho de 2011, dentre outras. A história de um estádio de futebol se faz disso: de vitórias e de derrotas, de grandes jogos e de jogos ‘meia-boca’. Mas a seleção do que nós, gremistas, escolhemos quando vamos rememorar o estádio Olímpico, está quase sempre associada aos afetos de grandes jogos e vitórias (BANDEIRA, 2017, p. 17).

Na memória dos torcedores de estádio, geralmente ainda existe lugar para esse jogo de estreia. Lembro com carinho de dois jogos contra o Sport Recife no Olímpico, em 1994, estreia do meu irmão e 2012, estreia do meu afilhado. Não me parecem jogos elegíveis dessa memória coletiva.

Eu assisti 681 jogos do Grêmio no estádio. E minhas memórias não cabem apenas nas conquistas, nas grandes vitórias ou nos grandes jogadores. Assisti a 49 gloriosos empates sem gols. Vi grandes vitórias, empates e derrotas, mas também vi vitórias, empates e derrotas desimportantes que não deram mais do que o caminho de volta do estádio para casa para serem digeridos. Nosso espetacular futebol de espetáculo não é tão espetacular assim na maioria dos eventos, mas esses eventos também nos constituem torcedores. Eu sei que existem torcedores que preferem poder reclamar de uma atuação ruim do que gozar com uma grande goleada a favor.

Fonte: globoesporte

Qual o espaço para a criação do torcedor que perde nessa escolha de memórias? Todos os anos, quinze clubes perdem o campeonato brasileiro e apenas um vence (os quatro que caem é outro assunto), mas nossa formação nesse momento sem futebol parece seguir olhando apenas para os que vencem. Nossos times/clubes do futebol nos dão muito mais e muito menos do que os títulos. Sinto falta de ver os times médios do Grêmio ou aqueles que não ganharam campeonato, mas fizeram duas boas partidas no ano. São de todos esses jogos que somos feitos, quando os apagamos de nossas memórias acabamos diminuindo nossa possibilidade de nos constituirmos torcedores com os mais diferentes gostos e choros também.

Referências

BANDEIRA, Gustavo Andrada. Do Olímpico à Arena: elitização, racismo e heterossexismo no currículo de masculinidade dos torcedores de estádio. 2017. 342 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, UFRGS, Porto Alegre, 2017.

SEFFNER, Fernando. Explorando caminhos no ensino de história local e regional. In: RECZIEGEL, Ana Luiza Setti; FÉLIX, Loiva Otero (Orgs.). RS: 200 anos definindo espaços na história nacional. Passo Fundo: UPF, 2002, p. 367-382.

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