Uma obra necessária. Talvez essa seja a melhor definição para o documentário “The Queen of Basketball” (A rainha do basquete), obra dirigida por Ben Proudfoot e com Stephen Curry e Shaquille O’Neal como produtores executivos, ambos astros da NBA. Além deste documentário, Proudfoot também co-dirigiu o “A Concerto in Conversation”, duas obras com algumas semelhanças, especialmente ao tratar de pessoas negras que conseguiram superar as gigantes barreiras raciais nos EUA dos anos 50 e 60.
Para quem gosta de esportes, especialmente o basquete, o filme “The Queen of Basketball” é fundamental para entender o papel de Lusia Harris, uma das pioneiras do basquete feminino nos EUA. Única mulher convidada para ser jogadora de um time da NBA, Lucy, como era carinhosamente chamada, tem uma história que merece ser exaltada. Esse é um ponto de destaque do filme. Suas glórias esportivas como o tricampeonato nacional na universidade, o chamado da NBA, o fato de ter feito a primeira cesta nos jogos olímpicos em sua modalidade e a prata na mesma edição. Todas são conquistas que merecem celebração.
Na linha do que argumenta Goulart (2018), o documentário se aproveita da nostalgia para criar uma narrativa na qual seleciona momentos de alegria e felicidade. É a seletividade do passado. Não há, necessariamente, um mal nisso, tendo em vista que o passado é contado e reconstruído diversas vezes. Vale ressaltar que, no âmbito esportivo, a escolha da direção em ocultar momentos ruins é nítida. Nas cenas de lances de jogos, Lucy não comete erros, ela sempre pontua e é o destaque das partidas. Entendendo que até uma jogadora do mais alto nível como ela comete erros, é importante destacar essa escolha do filme.
Apontar essa questão não é uma forma de desmerecer a história da protagonista. Lusia, uma mulher negra estadunidense, venceu. Em uma sociedade marcada pelo racismo, na qual os negros só tiveram direito a voto na década de 1960, e também na qual o Ensino Superior não é público, Lusia se graduou. Seus filhos também conseguiram diploma de nível superior. Toda sua família entrou na Universidade.
Outro ponto relevante na construção narrativa nostálgica é que quando o time perdia, os vídeos mostrados eram apenas das companheiras de Lucy errando. Isso acaba criando uma aura quase divina para a protagonista, como se ela não errasse. Vale destacar um silêncio na parte esportiva do documentário. Nas Olimpíadas de 1976, a seleção americana ficou com a prata, e quem ganhou a final foi a URSS, rival política, econômica e esportiva durante a Guerra Fria. Para não estragar o sentimento nostálgico, o filme opta por não nomear esse fato.
Em outro momento da narrativa que remete ao passado, Lusia mostra fotos antigas, reportagens e vídeos falando sobre o passado dela. A discussão em torno dos grandes momentos da vida de Lucy no basquete é traçada em uma conversa bastante carismática, O resgate da carreira de da protagonista vai além da identificação dela como a primeira mulher negra a entrar no hall da fama dentro do esporte. Mostra, da mesma forma a compreensão de sua atuação nas Olimpíadas e jogos importantes.
Fonte: JustWatch
Não se atendo apenas as histórias de Lucy, o filme também conta com imagens de lendas da NBA. Em diversos momentos, são mostrados jogadores como Magic Johnson, Larry Bird, Michael Jordan, Wilt Chamberlain, Kareem Abdul-Jabbar, Oscar Robertson. Mesmo que de forma indireta, só com a presença dessas figuras, a memória coletiva, aqui não sendo algo negativo e repressor (POLLAK, 1989), é reavivada. Para os fãs da modalidade, ao ver essas imagens e perceberem que Lucy tinha nível para estar no mesmo patamar esportivo dessas estrelas, só aumenta a estima e a valorização dela.
Em outra face do documentário, Lucy trata da sua vida pessoal. Ela revela que tem um problema de saúde, a bipolaridade. Contudo, nada parece que pode impedi-la de ter sucesso. Mesmo não seguindo carreira profissional, pela ausência de uma liga de basquete feminino, não conseguindo um emprego logo de cara, o tom do documentário ainda consegue se manter positivo. Logo em seguida, ela fala que seus maiores sucessos são sua família e a educação. Lucy argumenta que faria tudo de novo, não se arrepende de nada do que fez. Mais uma vez, o elemento nostálgico é reforçado. Aqui, o passado é visto como um caminho que deveria ter acontecido, mesmo com percalços, pois, no final, deu tudo certo.
Apesar de ser um ótimo filme, há questões que causaram incômodo. Uma obra que fala de uma mulher negra nos EUA dos anos 60 quase ignorar o racismo é bastante estranha. Ainda que tenha sido comentado indiretamente, como na cena em que Lucy fala ser a única atleta negra da universidade, pouco se aborda sobre esse tema tão importante. Parece ser uma opção da narrativa para tentar não ter episódios tristes e tirar o clima positivo da nostalgia. O machismo é melhor tratado quando a protagonista comenta sobre não poder continuar sua carreira pela falta de uma liga feminina profissional, ou pelo fato dos atletas homens estarem ricos, e ela não. No entanto, ao final, o filme os coloca no mesmo nível, visto que todos acabaram indo para o Hall da Fama do basquete.
Ao analisar “The Queen Of Basketball”, juntamente com a leitura do artigo “Mercado da nostalgia e narrativas audiovisuais” (GOULART, 2018), a sensação é de que o mercado para se vender memórias é quase inesgotável. Com as ausências do filme, outro poderia ser feito usando uma perspectiva diferente que, ainda assim, fosse nostálgica. Talvez voltada para uma visão mais crítica da sociedade da época que Lucy jogou. As histórias podem ser contadas várias vezes e haverá consumidores. Há sabedoria no passado, que pode ser usada pelo mercado.
Referências:
GOULART, Ana Paula. Mercado da nostalgia e narrativas audiovisuais. E-compós, Brasília, v. 21, n. 3, set/dez. 2018.
POLLAK, Michael. “Memória, esquecimento, silêncio.” Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, 1989.
Nesta quarta-feira, dia da posse de Joe Biden em Washington, Donald Trump descumprirá a tradição democrática de comparecer à cerimônia. Assim como no momento em que perdeu a reeleição em novembro, Trump provavelmente estará jogando golfe. A predileção pelas tacadas, no entanto, não é uma característica meramente pessoal do quadragésimo quinto presidente do país.
Com os perfis tão antagônicos de Biden e Trump, a eleição do ano passado expandiu o abismo entre os dois Estados Unidos: o progressista e o conservador. E é possível afirmar que a segregação característica da cultura americana está presente também nas quadras e nos gramados.
Portanto, em meio à polarização, nada mais sintomático que o presidente mais à direita da história pratique o esporte comprovadamente mais conservador dos Estados Unidos.
Biden, à esquerda, observa pontapé inicial de partida de basquete. Trump, à direita, joga no seu campo de golfe em Bedminster, no estado de Nova Jersey
O gráfico abaixo é de 2019, um ano antes da eleição, faz parte de uma pesquisa de mercado da consultoria especializada “Statista” e relaciona as preferências políticas e esportivas dos americanos. No eixo horizontal, quanto mais uma modalidade está à direita, mais inclinados ao Partido Republicano são os torcedores e praticantes. Quanto mais uma modalidade está à esquerda, mais inclinada ao Partido Democrata. No eixo vertical, quanto mais acima a modalidade está, maior o engajamento dos fãs na hora de votar. E quanto mais abaixo estiver a modalidade, menor participação em votações. O tamanho de cada círculo representa proporcionalmente a quantidade de torcedores que acompanham e praticam cada esporte. O golfe masculino, de Trump, está representado por um círculo vermelho no canto superior direito, ou seja, é o que está mais inclinado aos Republicanos e com o segundo maior comparecimento às urnas, perdendo apenas para o golfe feminino.
A Associação de Golfistas Profissionais dos EUA tem a menor proporção de atletas e espectadores na faixa dos 20 e 30 anos. Fonte: Statista
Porém nada se compara em visibilidade ao tamanho da NFL, a liga de futebol americano, que detém as maiores audiências e receitas no país. Os brancos são 77% dos torcedores que vão a estádios e assistem aos jogos na TV mesmo com um significativo número de jogadores negros. A explicação é que muitos destes atletas não jogam nas posições de destaque nos times, como quarterbacks. Aqueles com mais de 55 anos são 37% dos fãs; 34% tem entre 37 e 54. Apenas 29% são jovens, com menos de 37 anos. Há portanto um perfil sociocultural que, em geral, se comporta como “conservador” e “nacionalista” nas eleições.
Não foi à toa que Trump reclamou quando um jogador negro se ajoelhou durante o hino americano em uma partida da NFL em 2017 (vídeo abaixo). O presidente pediu a demissão de Colin Kaepernick, que atuava no San Francisco 49ers, pela atitude em repúdio à violência policial contra negros. E desde então, Kaepernick está desempregado por ter “incomodado” torcedores e dirigentes brancos e conservadores.
O episódio evidenciou como Trump poderia ganhar apoio junto aos fãs da bola oval na corrida pela reeleição, dada a influência midiática que o esporte possui no maior mercado consumidor do planeta.
Porém, após o assassinato de George Floyd, os protestos antirracistas viraram o jogo. Outra liga, a de basquete, entrou em quadra com uma série de iniciativas de marketing sem precedentes no esporte mundial contra o racismo e já esquentando o clima para a campanha presidencial que começaria nos meses seguintes.
A NBA já era o campeonato cujos fãs são mais inclinados a votarem no Partido Democrata. A audiência é notoriamente a mais diversa entre as grandes ligas dos Estados Unidos, como mostra o gráfico abaixo. Além disso, no início da temporada 2018/2019, mais de 33% das equipes da NBA tinham treinadores negros; 42% delas assistentes técnicos negros; três assistentes eram mulheres. Quanto aos atletas, 81,9% eram negros na temporada passada.
Distribuição da audiência da NBA conforme (de cima para baixo) gênero, idade, raça e renda. Fonte:The Atlantic
Como mostra o primeiro gráfico no início do texto, o grande “vacilo” dos fãs da NBA em 2016, em especial entre os negros, foi o baixo engajamento nas eleições daquele ano, reproduzindo um comportamento semelhante aos eleitores democratas naquela eleição, em que a candidata Hillary Clinton foi derrotada por Trump. O índice de comparecimento em 2016 foi de 52,18%, o menor em eleições presidenciais desde 2000. Já quando Barack Obama foi eleito pela primeira vez, em 2008, a comunidade negra compareceu em massa, garantindo participação de 61,6% dos eleitores.
O desafio era estimular o voto entre os eleitores negros e democratas. O contexto era favorável: Biden tinha apelo entre os afroamericanos por ter sido vice de Obama, o movimento “Black Lives Matter” chegava ao auge de visibilidade no mundo e craques como Lebron James estavam mais politizados que nunca.
Ameaçada pela pandemia de Covid-19, a temporada 2019–2020 continuou em quadras onde se passaram a ler as palavras “Vote” e “Justice”. Jogadores vestiam camisas com a inscrição “Vidas negras importam” nas costas, no lugar dos seus nomes.
Na eleição, Biden se tornou o candidato mais votado em dois séculos de disputas presidenciais nos Estados Unidos. Negros e habitantes das metrópoles votaram em maior número, pelo correio ou presencialmente, o suficiente para Biden por fim ao período mais sombrio da política do país oficialmente hoje. Uma jogada arriscada em que foi preciso driblar os brutamontes do futebol americano e não ser atingido por uma bola de golfe, mas que recebeu de bandeja a contribuição do melhor basquete do mundo. Cesta.
Um jogo totalmente diferente. Esse era o slogan da volta da NBA (a liga de basquete americana) após a interrupção da temporada 2019/2020 devido à pandemia provocada pelo novo Coronavírus. Esportivamente falando, o jogo até pode ter sido o mesmo, mas, sem sombra de dúvida, todas as adaptações que precisaram ser feitas para que o campeonato chegasse ao fim fizeram com que essa temporada fosse única, impossível de esquecer.
A solução encontrada foi criar uma “bolha”, ou seja, um ambiente totalmente controlado, onde atletas e demais profissionais envolvidos pudessem ficar isolados e imunes a qualquer risco. O local escolhido foi o complexo esportivo gerenciado pela Disney, na cidade de Orlando, na Flórida, o ESPN Wide World of Sports Complex. O local parecia ser o mais adequado, por sua infraestrutura esportiva e hoteleira. Salões de convenções abrigaram 7 quadras para treinamentos e três ginásios ficaram disponíveis para os jogos. Além disso também havia toda uma estrutura de serviços para atender atletas e o staff da NBA. Cada equipe pôde levar até 37 pessoas para a “bolha”, incluindo atletas, técnicos, integrantes da comissão técnica, seguranças e outros funcionários.
A “bolha” do Reino Mágico da Disney (Ilustração: Getty Images)
O que a Liga não esperava era que no mesmo período da retomada da temporada, o número de casos de Covid-19 no estado da Flórida “explodisse”, batendo a marca de quase 15 mil por dia em meados de julho. Mais um motivo para os cuidados médicos serem extremamente rigorosos. Qualquer pessoa que chegava à “bolha” tinha que ficar 48 horas isolada em seu quarto e testar “negativo” em dois exames. Todos aqueles, inclusive alguns jogadores, que precisaram sair, foram obrigados a cumprir um período de quarentena na volta. O relato do armador do Philadelphia 76ers, o brasileiro Raulzinho, à revista Época mostra o quanto a rotina era desgastante:
No começo não foi fácil. Ficava fechado no quarto, sem contato, só saía para os treinos. Passava boa parte do dia vendo TV, sem ter o que fazer. Fizemos muitos testes de Covid-19. Testes diários, protocolos de higiene e segurança. Era necessário, mas o desgaste mental e emocional foi enorme.
Para diminuir a incidência de casos de depressão pelo isolamento, a entrada de parentes foi permitida depois da primeira rodada dos playoffs. Quem quis receber convidados teve que arcar com os custos. Mesmo assim, os visitantes tiveram que ficar em isolamento por uma semana, além de serem submetidos a dois testes em um período de três dias. O cuidado era tanto que foi criado até um tipo de disque-denúncia para qualquer tipo de quebra dos protocolos de saúde. Além disso, pulseiras usadas por todos os habitantes da “bolha” não só controlavam as movimentações, como ainda registravam a temperatura de todos, 24 horas por dia.
Que comecem os jogos…
Foi preciso criar um critério para definir que times iriam para Orlando. Das 30 franquias, 22 foram selecionadas: as que já tinham definido vagas para a fase do mata-mata e aquelas que ainda tinham essa possibilidade, estando a quatro jogos ou menos do então oitavo colocado. Foram 9 equipes da Conferência Leste e 13 da Oeste. A retomada da temporada se deu em 30 de julho e os playoffs começaram em 17 de agosto.
Uma das grandes diferenças nesse novo normal era a inexistência do “fator casa”. Como as partidas eram disputadas em um ginásio neutro e sem torcida, tudo ficava mais equilibrado nesse sentido. A NBA tentou, de alguma forma, favorecer os times mandantes: um DJ se encarregava de fazer a sonorização da partida, com gritos de torcida e músicas usadas no ginásio original, além disso foram instalados três grandes painéis de vídeo onde apareciam imagens ao vivo de torcedores pré-cadastrados pela Liga. Mas nem de longe o clima se parecia com o dos mega ginásios que comportam cerca de 20 mil pessoas. Mesmo assim, quem conseguiu participar, como a estudante de Jornalismo da Uerj, Clara Quintaneira, comemorou. Ela ganhou o direito de participar de um jogo entre Bucks e Magic. “Eles avisaram que uma hora antes do jogo eu já poderia entrar no link para participar. Entrei, precisei tirar uma foto do meu rosto e depois tirar foto do meu passaporte para conferirem. Após isso, fui autorizada e aceita na sala do Google Teams com um login e senha que eles davam para cada um”. Ela, que nunca teve a oportunidade de assistir a um jogo da Liga nos Estados Unidos, garante que foi uma sensação especial. “Representou muito pra mim. O momento que estamos vivendo é histórico. Toda essa questão de pandemia, quarentena e isolamento social vai ficar marcada no ano de 2020. Todos tivemos que nos adaptar a uma nova rotina e com a NBA não seria diferente. A ‘bolha’ nos permitiu viver uma experiência nova como plateia virtual”.
Na torcida, mesmo que de forma virtual. (Foto: Clara Quintaneira)
De acordo com alguns analistas a situação extraordinária fez com que algumas equipes se adaptassem melhor do que outras, foi o caso o Phoenix Suns que venceu todos os jogos que disputou na “bolha” e por muito pouco não chegou aos playoffs. Uma situação inversa pode ser ilustrada pelo Milwaukee Bucks, primeiro colocado geral da temporada. O time do MVP (jogador mais valioso), o grego Giannis Antetokounmpo, ganhou apenas três partidas antes do mata-mata. E nos playoffs também acabou decepcionando. Depois de bater o Orlando, foi eliminado pelo Miami, por 4×1, frustrando seus torcedores e todos aqueles que queriam ver um confronto entre Antetokounmpo e LeBron James na final. O melhor time do Leste, contra o melhor do Oeste.
Vidas negras importam
A retomada da NBA também teve um tom de engajamento político jamais visto. As mortes de Breonna Taylor, em Louisville, e de George Floyd, em Minnepolis, ambos negros e assassinados por policiais, gerou uma onda de manifestações nos Estados Unidos. Os jogadores da NBA, em acordo com a Liga, usaram os jogos como sua forma de protesto. O lema Black Lives Matter (vidas negras importam) estava estampado no piso das quadras. Além disso os jogadores também usaram palavras de ordem em seus uniformes como: “Say their names (diga o nome deles), “I can’t breathe” (eu não posso respirar – frase dita por Floyd enquanto era asfixiado pelo joelho de um policial) ou simplesmente “Equality” (igualdade). Durante a execução do hino americano, todos se ajoelhavam e ficavam de braços dados. Uma imagem potente contra o racismo.
Nos tênis de Jamal Murray, do Denver Nuggets, um tributo a Floyd e Breonna. Foto: Kevin C. Cox / Getty Images
Porém, mais um chocante caso de violência quase pôs tudo a perder. Jogadores do Milwaukee Bucks se recusaram a entrar em quadra após tomarem conhecimento de que Jacob Blake, um homem negro de 29 anos, tinha levado sete tiros pelas costas diante dos três filhos, em Kenosha, no estado de Wisconsin. Os disparos, mais uma vez, haviam sido feitos por policiais. O homem perdeu o movimento das pernas. O time do Orlando não aceitou a vitória por W.O e também não compareceu.
O boicote, inédito, foi explicado por uma nota oficial dos atletas do Bucks:
Os últimos quatro meses lançaram luz sobre as injustiças raciais em curso que as comunidades afro-americanas enfrentam. Cidadãos de todo o país têm usado suas vozes e plataformas para se manifestar contra esses delitos. Apesar do apelo esmagador por mudança, não houve nenhuma ação. Nosso foco hoje não pode estar no basquete.
Logo outras equipes se posicionaram a favor da paralisação e os jogos tiveram que ser suspensos.
As jogadoras da WNBA (liga profissional de basquete feminino), que também disputavam seus playoffs em uma “bolha” em outra cidade da Flórida, fortaleceram o boicote. Elas usaram camisas brancas com alusão às marcas dos tiros contra Jacob Blake, se reuniram no centro da quadra e ficaram de joelhos. Em seguida, deram os braços e exibiram o nome da vítima. Lá, as partidas também foram suspensas.
Os protestos geraram imagens fortes (Foto: Stephen Gosling/ Getty Images)
LeBron James, o maior nome da Liga, tomou a frente do movimento e não mediu palavras para mostrar sua indignação. Em sua conta do Twitter, postou: “Fuck this, man. We demand changes. Sick of it”, pedindo mudanças e se dizendo cansado com tudo aquilo. A primeira reunião entre atletas e dirigentes foi tensa, jogadores dos dois times de Los Angeles, o Lakers e o Clippers, ameaçaram deixar a “bolha”, capitaneados por LeBron e por Kawhi Leonard. Só em um segundo encontro houve um acordo, graças, principalmente, à participação efetiva de Michael Jordan; além de uma lenda do basquete e negro, ele também é o dono do Charlote Hornets, time da Carolina do Norte na NBA. O argumento foi de que eles não deveriam abrir mão daquela plataforma de combate ao racismo, usando microfones e câmeras a favor da causa e do estímulo às pessoas a votarem na eleição presidencial americana para tentar gerar mudanças (nos EUA o voto não é obrigatório). Numa atitude inédita, as franquias também prometeram usar seus ginásios como locais de votação.
Mobilização pelo voto e pelas mudanças. (Foto: David Dow/ Getty Images)
O tributo a um rei
Com a bola quicando, Los Angeles Lakers e Miami Heat chegaram à grande final. Uma série bem equilibrada. O time da Califórnia chegou a abrir 2×0 e, depois, 3×1, mas o Miami, valente, comandado pelo talentoso Jimmy Butler, forçou um jogo 6. Esse sim, vencido com tranquilidade pelo Lakers.
A estrela maior, LeBron James, chegava a seu quarto título, conquistado em três diferentes franquias, o próprio Miami Heat (2012 e 2013), o Cleveland Cavaliers (2016) e o Los Angeles Lakers (2020). Um jogador de quase 36 anos de idade que soube adaptar seu jogo e que passou a alcançar marcas espetaculares em todos os fundamentos do jogo. “The King” (o rei), como é conhecido, coleciona recordes e garante: não pretende parar tão cedo.
O título conquistado este ano foi muito significativo. Era quase uma obsessão para LeBron, desde a morte trágica de Kobe Bryant, amigo de James e grande ídolo do Lakers. A taça de 2020 veio dez anos depois de Kobe ter levado o Lakers à sua última conquista. Não à toa, em várias partidas, incluindo o jogo 6 das finais, o time vestiu a “Black Mamba”, camiseta idealizada para homenagear Bryant, que gostava de usar esse apelido (Black Mamba ou Mamba-Negra é um tipo de cobra africana extremamente venenosa). “No fim das contas, nós só esperamos deixar ele e sua família orgulhosos. É disso que se trata. Desde Kobe a todos os outros que por alguma vez vestiram a camisa dos Lakers, jogamos para deixá-los orgulhosos. Isso que estamos tentando fazer”, afirmou James pouco antes da série final.
O “imparável” LeBron James. (Foto: NBA/Divulgação)
E como se não bastasse o desempenho excelente em quadra (foi eleito o MVP das finais), LeBron James mostrou que esporte e engajamento social podem e devem ser complementares: em 2018 criou sua própria fundação para crianças carentes; fez uma parceria com a Universidade de Akron para pagar bolsas de estudo para 2.300 jovens a partir do ano que vem; e lidera uma campanha de recrutamento de 10 mil voluntários que irão trabalhar nas eleições de 3 de novembro. Mais do que um craque, um líder.
Com o título de número 17, o Lakers se tornou a franquia com o maior número de conquistas, ao lado do Boston Celtics. Um fecho de ouro para uma temporada turbulenta como nenhuma outra da NBA.
Os resultados em termos de audiência podem até ter decepcionado. Os índices foram quase 50% menores do que no ano anterior. A concorrência com transmissões de outras ligas como as de Hóquei, Beisebol e de Futebol Americano, todas, excepcionalmente, ocorrendo de forma conjunta, seria uma das explicações. A eleição presidencial de 2020 também teria contribuído para o declínio na audiência. Redes a cabo como Fox News, MSNBC e CNN registraram altas em seus índices durante o horário nobre. Mas se pensarmos na eficiência da “bolha”, a temporada da NBA foi um enorme sucesso. Foram três meses de isolamento e nenhum caso de infecção por Coronavírus registrado. A Liga Americana de Basquete provou que é possível fazer competição esportiva segura em meio à pandemia, coisa que outros esportes e outros países não souberam ou não quiseram fazer.
Em março de 2020, quando a pandemia do COVID-19 interrompeu repentinamente as temporadas de duas das grandes ligas desportivas profissionais norte-americanas (a National Basketball Association [NBA] e a National Hockey League [NHL]), ambas começaram a planejar seus retornos. Seus dirigentes traçavam possíveis cenários enquanto os prognósticos epidemiológicos, políticos e econômicos mudavam diariamente. Em contrapartida, os dirigentes da Major League Baseball (MLB) e da National Football League (NFL) não sentiam a mesma urgência da NHL ou da NBA, já que, por sorte, no ponto de vista deles, esses esportes estavam fora de temporada.
Ao final de julho, a MLB começou uma temporada mais curta que o habitual, de apenas sessenta partidas por equipe. Em agosto, a NBA e a NHL lançaram uma liga modificada para finalizar a temporada interrompida em março e a NFL abriu seus campos de treino para a temporada que começa em setembro. Ao mesmo tempo em que cada liga desportiva anunciava precauções para evitar a transmissão do vírus, os planos de retorno de cada uma e seus resultados eram mistos. A NBA e a NHL têm registrado muitos poucos casos de COVID-19 entre suas centenas de jogadores, treinadores, árbitros e outros integrantes. Por outro lado, a MLB e a NFL não têm tido tanto êxito. Cada dia há novos contágios e casos de comportamentos perigosos e irresponsáveis de parte dos jogadores.
A consequência tem sido partidas canceladas na MLB, jogadores que decidiram não jogar este ano para não colocar em risco sua saúde e muita incerteza. À primeira vista, a diferença entre sucesso e fracasso no controle do vírus se estabelece na estratégia da NHL e da NBA de colocar todas as equipes e suas comitivas (sem familiares) em uma bolha, sem contato com o exterior, e a falta dessa estratégia na MLB e na NFL. Entretanto, as estratégias das ligas desportivas e suas repercussões refletem políticas nacionais, culturas organizacionais e aproximações com o negócio do esporte com diferenças notáveis, anteriores à aparição do COVID-19. Representam também resultados, até certo ponto, previsíveis. Tudo isso é particularmente relevante em um ano-chave de eleições nos Estados Unidos.
NBC News
A urgência do negócio
Há quatro décadas o negócio das ligas desportivas nos Estados Unidos e Canadá excede a venda de bilhetes. Os lucros provêm da venda de mercadorias, patrocínios de empresas a venda de direitos de transmissão e, na última década, as apostas online. Este tipo de apostas tem sido especialmente importante para a MLB e a NFL. Nos pequenos mercados como Cincinnati ou Baltimore, onde as equipes pouco jogam, empresas como DraftKings e FanDuel mudaram o negócio do esporte profissional. Antes da chegada dessas empresas, as partidas dos times de cidades com pouco apelo comercial contavam com baixa audiência, tanto online como na televisão. Porém, com a legalização das apostas online nos Estados Unidos, milhares de pessoas começaram a acompanhar as partidas, não por sua qualidade, mas pelo interesse monetário no resultado. Uma década atrás teria sido impensável uma relação entre as ligas desportivas e as empresas de apostas. Entretanto, na atualidade, a DraftKings é sócia oficial das quatro grandes ligas esportivas com sua logomarca colocada nas plataformas digitais de cada uma delas.
Apesar das queixas midiáticas pelas mudanças na cultura desportiva por conta da pandemia, com estádios sem público (ou com público de papelão), a ausência de espectadores ao vivo representa cifras relativamente menores para as empresas multimilionárias donas das equipes. Em 2020, a demanda tem sido voltar a jogar o mais rápido possível – com o público fora do estádio, protegido em suas casas, vendo os jogos pela televisão e, em milhares de casos, apostando online.
Canadá vs. Estados Unidos
Em julho, a cidade de Toronto e a província de Ontario aprovaram o pedido da única equipe canadense da MLB, os Toronto Blue Jays, para jogarem suas partidas como mandantes em Toronto. Porém, de última hora, o governo canadense anulou essa determinação. A MLB havia decidido não restringir o deslocamento dos times. O problema era que o Canadá não permitia que as equipes cruzassem a fronteira, já que em junho a curva da pandemia estava achatando e nos Estados Unidos o vírus continuava avançando rapidamente. Assim, os Blue Jays tiveram que utilizar um estádio inferior em Búfalo para seus jogos em casa.
A decisão canadense ressaltou as diferenças na maneira com a qual os dois países enfrentaram a pandemia desde março. Nos Estados Unidos, o governo nacional não tomou uma posição de liderança durante a crise. Não apensas ignorou os conselhos de seus especialistas em saúde pública, como também o presidente Donald Trump desarmou, ameaçou e marginalizou as entidades científicas governamentais. Enquanto isso, no Canadá, o governo nacional coordenou uma resposta centralizada, confiou na comunidade científica e deixou de lado as diferenças políticas com os governos provinciais e municipais para adotar uma estratégia comum e coordenada contra o COVID-19.
Em março, com exceção do tráfego comercial, o Canadá fechou a fronteira com os Estados Unidos. O exílio dos Blue Jays representa a posição da maior parte da população canadense: a fronteira deve permanecer fechada e o funcionamento da MLB é arriscado – um risco generalizado nos Estados Unidos, apoiado (ou tolerado) por seu governo nacional.
LA Times
Esporte e cultura política
A NFL e a MLB são ligas desportivas que dependem muito mais da cultura política encarnada por Trump do que a NHL e NBA, especialmente no que se refere à questão racial, que cada vez define mais as crescentes diferenças entre o Partido Democrata e o Partido Republicano. Existem cada vez menos jogadores brancos em ambas as ligas, com um aumento notável nos últimos vinte anos de jogadores latinos na MLB e negros na NFL. De todo modo, em um país no qual a porcentagem de pessoas brancas segue diminuindo, o público da MLB e da NFL, tanto nos estádios, como na televisão, é cada vez menor, e, por sua vez, mais branco e mais velho. Faz pouco tempo que os Atlanta Braves abandonaram seu estádio no centro da cidade, colocando em perigo dezenas de pequenos negócios que dependiam da atividade comercial ao seu redor. Mudaram-se para um estádio novo fora da cidade. Para a segregação racial que segue definindo muitas cidades estadunidenses, essa mudança marcou o abandono de um lugar povoado por pessoas negras para uma área percebida como mais “tranquila” pelo público branco que assiste às partidas. O beisebol como negócio que confirma a segregação racial pode ser visível em muitas cidades. Em Detroit, os estádios de futebol e beisebol ficam a poucos metros de uma estrada que permite a um público quase completamente branco chegar a municípios suburbanos de carro, estacionar em vagas de estacionamento localizadas ao lado dos estádios, assistir à partida e voltar para os subúrbios sem entrar na cidade “perigosa” e com uma população majoritariamente negra.
Em 2016, Colin Kaepernick, o quarterback do San Francisco, se ajoelhou durante o hino nacional antes das partidas, em protesto pela brutalidade policial contra a comunidade negra. Os dirigentes da NFL, perplexos, não sabiam o que fazer. Trump os criticou pela indecisão, assim como por não terem punido Kaepernick e sua suposta falta de respeito com a bandeira e o hino nacional. Como no caso da MLB, o futebol acabou cedendo às demandas de um público cada vez mais branco e mais velho, um grupo demográfico do qual Trump depende eleitoralmente: a liga e as equipes conspiraram para negar um contrato a Kaepernick e, desde aquela temporada, ele nunca mais voltou a jogar.
A decisão da MLB e da NFL de não embarcar em um modelo de isolamento em bolhas para organizar suas temporadas acaba manifestando a cultura política de seu público, que tende a apoiar Trump. Esse apoio inclui hesitações sobre o perigo do COVID-19, ressentimento racial com as pessoas negras e latinas nas cidades que supostamente são fontes do vírus e a ideia de que a retomada das economias local e nacional está parada pelos controles “desnecessários” (distanciamento social, máscaras, quarentenas, lojas fechadas) impostos por governos locais e nacionais.
Essa política pode ser notada também nas temporadas de futebol universitário, outro negócio multimilionário, e suas duas ligas mais importantes. A Big 10 inclui universidades públicas dos estados de meio-oeste do país (Illinois, Indiana Michigan e Wisconsin, entre outros), que, em geral, conseguiram controlar a pandemia com uma política de distanciamento social, máscaras, quarentenas, lojas fechadas. A Big 10 cancelou sua temporada 2020. A Southeastern Conference (SEC) inclui universidades públicas de estados que não conseguiram controlar a pandemia (Alabama, Florida, Luisiana y Texas, entre outros) e nos quais se resiste ao uso de máscaras, muitos negócios permanecem abertos e prevalece uma suspeita generalizada sobre as autoridades de saúde pública. A SEC ainda segue com a ideia de organizar a temporada 2020.
O efeito David Stern
Por que a NBA e a NHL optaram pelo modelo da bolha? Ainda que esteja em Nova York, a NHL conta com capitais e fortes influência culturais canadenses. A metade dos jogadores, assim como sete das trinta equipes da liga são oriundas do Canadá. O Canadá também conta com um público numeroso, leal e fervoroso. Por outro lado, a política canadense frente à pandemia (incluindo os êxitos) também influenciou a rápida decisão da NHL de basear suas duas bolhas nas cidades de Toronto e Edmonton.
No entanto, existe um fator mais importante. Nem as políticas, nem os negócios das duas ligas desportivas são ligadas ao Partido Republicano nos Estados Unidos, o que abriu a possibilidade de uma estratégia contra o vírus livre da visão de Trump. Em parte, isso representa o legado de David Stern, o ex-dirigente da NBA que fez crescer o negócio de sua liga a nível nacional e internacional de 1990 a 2014, enquanto que a MLB e a NFL estavam em declínio. A sua postura no esporte levava em conta – e fomentava – as mudanças culturais nos Estados Unidos e o fato de que o público de basquete estava cada vez mais diversificado, com ampla representação da comunidade negra. Os dirigentes atuais da NBA (Adam Silver) e da NHL (Gary Bettman) começaram suas carreiras sob a liderança de Stern na NBA e se formaram com seu modelo de gestão – mais distante das influência de um ou outro partido político e mais ágeis para adaptarem-se a um cenário cultural, político e econômico que muda constantemente.
Como no caso da NFL, há uma história importante de discriminação racial na NBA. Mas, diferentemente da indecisão da NFL frente aos protestos de Kaepernick e de sua reação conspiratória, em 2015 quando o dono do Los Angeles Clippers, Donald Sterling, deu uma declaração racista, Silver o expulsou da liga e Sterling teve que vender as ações da equipe. Como discípulos de Stern, Silver e Bettman entendem como enfrentar as circunstâncias variáveis melhor que os dirigentes e que os donos das equipes de beisebol e de futebol americano. Assim, quando chegou a pandemia, ao contrário da MLB e da NFL, e com mais liberdade para agir, ponderaram as alternativas e elegeram a opção mais segura e mais rentável.
Uma bolha comprometida
Desenvolver sua atividade em uma bolha não implica abdicar da realidade política e social. Após o reinicio da temporada, e depois do assassinato do cidadão negro George Floyd pelas mãos da polícia no final de maio, muitos dos jogadores da NBA decidiram substituir seus nomes nas camisas por mensagens que remetessem à luta contra o racismo e a brutalidade policial, entre outras causas políticas e sociais. Os jogadores, muitos dos quais têm uma larga história de ativismo político e social, contaram com a anuência da NBA. Ao final de agosto, Jacob Blake, outro cidadão negro, foi baleado pela polícia. Indignados com o episódio, os jogadores boicotaram várias partidas, interrompendo a temporada. O grande protesto se propagou rapidamente para outros esportes, incluindo a NHL, a MLB e a NFL. Há poucos dias a NBA decidiu, junto com as outras ligas e com os donos das equipes, retomar a temporada, comprometendo-se com uma série de medidas “para abordar uma ampla gama de temas, incluindo o aumento do acesso ao voto, a promoção do compromisso cívico e a defesa da reforma policial e da justiça penal”. Silver declarou que aprova o “compromisso (dos jogadores) de lançar luz sobre temas importantes de justiça social” e continuou dizendo que “embora não caminhe nos mesmos sapatos que os homens e mulheres negros, posso ver o trauma e o medo que causa a violência racial e como continua o doloroso legado da desigualdade racial que persiste no nosso país”. Enquanto isso, Trump, incomodado pelo ativismo dos jogadores e o apoio da NBA, manifestou que a associação dirigida por Silver “se converteu em uma organização política” e que não pensa que “isso seja algo bom para o esporte ou para o país”. LeBron James, estrela da NBA e articulador dos protestos declarou: “Estamos fartos. Exigimos uma mudança”. Resta ver se a mudança que prevalecerá, não apenas no esporte, mas nas esferas culturais, políticas, sociais e econômicas mais amplas, é a impulsionada pelos jogadores e dirigentes da NBA ou a que promove Trump. As eleições de novembro indicarão, em parte, o rumo da mudança.
Texto originalmente publicado no site Marcha no dia 01 de agosto de 2020.
* Doutor em História. Professor na Universidade de Trent.
** Doutor em Filosofia e História do Esporte. Professor na Universidade do Estado de Nova York (Brockport).
Lakers reservam dois lugares: a camisa 2, para Gianna, filha de Kobe, que também morreu no acidente aéreo e a camisa 24 para o grande ídolo (Foto: Divulgação)
No post “Uma crônica para Kobe Bryant”, Marina Mantuano escreveu (e, diga-se de passagem, muito bem) sobre o dia em que Kobe nos deixou. Hoje, depois de exatos cinco meses de sua partida, faço este texto sobre sua história e seu legado.
Kobe Bean Bryant, carinhosamente apelidado de “Black Mamba”, foi vítima de um acidente de helicóptero e faleceu no dia 26 de janeiro de 2020, em Calabasas, Los Angeles, EUA. O ala-armador estava com uma de suas filhas, Gianna Bryant, que também não sobreviveu. É impossível não associar a história de Kobe com a National Basketball Association (NBA), especialmente com o time do Los Angeles Lakers.
Enquanto jogador, sua carreira começou no draft de 1996, quando foi escolhido pelo New Orleans Hornets e transferido, sem ainda ter jogado nenhuma partida, para o Lakers. Kobe foi trocado pelo pivô Vlade Divac, ídolo do Lakers naquela época. Uma vez que Kobe tinha apenas 17 anos de idade, seus pais tiveram que assinar com ele o contrato junto a equipe californiana.
No início do ano 2000, o Black Mamba levou o Lakers ao topo, vencendo cinco vezes a temporada regular da NBA (2000, 2001 e 2002, 2009 e 2010) e o FIBA Americas Championship (2007), além de ter conquistado duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos (2008 e 2012).
Para Michael Jordan, maior nome da história do basquete, Kobe Bryant era seu irmão mais novo. “Kobe deu tudo de si. Deixou tudo na quadra (longa pausa para aplausos). Kobe e eu éramos amigos muito próximos. Quando o conheci melhor, quis ser o melhor irmão mais velho possível. Quando Kobe Bryant morreu, um pedaço de mim morreu. Descanse em paz, meu irmão mais novo”, disse Michael Jordan ao encerrar seu discurso no funeral de Kobe.
Kobe Bryant e Michael Jordan em jogo histórico entre Lakers e Bulls em 1997 (Foto: VINCENT LAFORET/AFP)
Kobe Bryant fez história dentro das quadras jogando por 20 anos no Los Angeles Lakers e depois continuou sua carreira como investidor e empresário, fundando sua própria marca de produtos esportivos, a Kobe Inc.
Black Mamba ganhou quatro vezes o prêmio NBA All-Star Game Most Valuable Player Award (MVP), duas vezes o prêmio ESPY – Melhor Atleta da NBA (2008 e 2010), uma vez o MVP – Most Valuable Player (2008), teve as camisas 8 e 24 aposentadas no Lakers, a camisa 24 aposentada no Dallas Mavericks (póstumo) e ganhou o Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação (2018) com “Dear Basketball”.
Conhecido por sua capacidade de pontuar, Kobe Bryant se tornou o segundo maior pontuador em único jogo da NBA no dia 22 de janeiro de 2006. Ele fez 81 pontos na vitória do Los Angeles Lakers por 122 a 104 sobre o Toronto Raptors, ficando atrás apenas da lenda Wilt Chamberlain, com 100 pontos. No jogo memorável de Kobe, ele converteu 28 de 46 arremessos, sendo sete em 13 de três pontos, além de 18 de 20 lances livres. Pegou seis rebotes e deu duas assistências, em 42 minutos. Sem dúvida, foi o maior jogo e o mais importante da carreira de Kobe.
LeBron James, jogador de basquete, fez um post de despedida no dia 27 de janeiro – um dia após a morte de Kobe – relatando que continuará o legado de Kobe Bryant. “Eu literalmente acabei de ouvir sua voz no domingo de manhã antes de deixar Filadélfia para voltar para Los Angeles. Não achamos nem por um milhão de anos que seria a última conversa que teríamos. Estou com o coração partido e arrasado, meu irmão!! Cara, eu te amo mano. Meu coração vai para Vanessa e as crianças. Prometo que continuarei seu legado!”, expõe LeBron em seu Instagram. Outros atletas de diferentes esportes, como Tom Brady, Patrick Mahomes, J. J. Watt, Thiago Silva, Neymar, Alexandre Pato e artistas como Belo, Murilo Rosa, Péricles, Marcelo Serrado, Roberta Rodrigues, Xênia França também prestaram sua solidariedade ao craque.
Post de Despedida (Fonte: Instagram de LeBron James)
A partida de Kobe é, sem dúvida, uma grande perda e deixa um vácuo para o esporte, em especial para o basquete. Sua história, suas conquistas, seu legado, seu exemplo e seus ensinamentos são, porém, muito maiores e já estão eternizados na nossa história. Kobe: para sempre um ídolo.
Os maiores jogadores do mundo, franquias reconhecidas, basquete de alto nível, sucesso profissional e talvez o sonho de todo jogador de basquete. Tudo isso pode não importar quando o assunto é saúde mental, que ultimamente esteve em voga na NBA. A ‘doença do século XXI’, assim como é chamada a depressão, ganhou espaço nos últimos… Continuar lendo O limite entre o glamour e a saúde mental
É notória a mudança em que vive a NBA. O tradicional all-star game que antes era disputado entre os melhores das conferências Leste e Oeste, agora é feito por uma seleção de capitães decididos pelos fãs da liga via internet. As restrições aos jogadores em quadra é maior se comparada com épocas passadas, quando as provocações e… Continuar lendo Pense duas vezes antes de comprar uma jersey
Na última quinta, 31/05, foi o primeiro jogo da final da NBA, da série “melhor de sete”, entre Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers, campeões das conferências oeste e leste da liga, respectivamente. Esse é o quarto ano consecutivo que os times se enfrentam na final da NBA. Esse primeiro jogo foi para a prorrogação… Continuar lendo LeBron, ladrão, roubou meu coração!