Artigos

Cheerleading: é muito mais que torcer, é um esporte de força e resistência

por Raffaella Napoli

Você já ouviu falar em cheerleading (em português, a tradução poderia ser “animação de torcida”)? Se esta é a primeira vez em que você lê o termo, saiba que iremos falar de um esporte que, na primeira impressão, mostra uma face, mas que é muito mais profundo e complexo do que podemos imaginar.

A animação de torcida é um esporte nativamente norte-americano – muito presente na cultura de filmes hollywoodianos –, mas que, aos poucos, vem conquistando espaço em território brasileiro e mundial. Ele consiste em um grupo de até vinte pessoas – segundo as regras do campeonato anual da Associação Nacional de Cheerleaders (NCA) –, as quais, além de torcer e incentivar times e plateias, executam acrobacias e movimentos de ginástica. Ela exige alto nível de força, resiliência e preparação física por parte dos atletas. As competições acirradas fazem com que eles precisem, também, de um bom preparo mental.

Por muito tempo, o esporte foi estereotipado e associado a mulheres brancas de classe alta. Parte desse preconceito se dá nos próprios filmes, nos quais as líderes de torcida são vistas como meninas mimadas e de alta renda, geralmente assumindo o papel de vilãs. Contudo, a realidade é bem diferente. O esporte é aberto e inclusivo, com pessoas de todos os gêneros, classes sociais e cor de pele nas equipes.

A série documental da Netflix, Cheer, mostra – sob a perspectiva da Universidade de Navarro, TX – o espaço de acolhimento com as minorias e pessoas de diferentes condições sociais, além de explicitar o dia a dia e a dura realidade que os atletas enfrentam com treinos, estudos, vidas sociais, problemas pessoais e o campeonato mais importante desse esporte. Também é debatido e denunciado temas como lesões, abusos, sexualidade, problemas com drogas e família.

A competição de maior relevância nos Estados Unidos desta modalidade é o “Campeonato Nacional de Cheerleading” que acontece todo ano em Daytona Beach, Flórida. Ele é produzido pela NCA e garante as melhores equipes do país, incluindo a divisão escolar e a universitária, sendo a última a mais competitiva e acirrada. São diversos subgrupos dentro das duas divisões. A subdivisão documentada na série da Netflix é a mais alta, depois do All-stars, intitulada como Advanced Large Coed Junior College Finals (a equipe universitária avançada com maior número de atletas juniores permitidos pelo regulamento).

Cheer nos mostra a divisão universitária, a qual possui dois dias de competição. É possível encontrar acrobacias de elevada dificuldade de execução. Podemos citar os stunts (acrobacia com uma base de duas ou três pessoas que levantam e fazem uma outra pessoa “voar”), tumblings (saltos de grau elevado com piruetas e outros movimentos no ar) e as dificílimas pirâmides (que as equipes executam em uma rotina de mais ou menos dois minutos e quinze segundos). São quase três minutos sem espaço para respirar, com pulos, gritos, giros, saltos e acrobacias que exigem que todos os músculos trabalhem. Quase três minutos para mostrar tudo o que se sabe e tudo o que se treinou durante todo o ano. Ao final da rotina, nos deparamos com respirações ofegantes que buscam desesperadamente um pouco de ar.

Esse esporte nos mostra como é difícil, exaustivo e exigente competir e que vai muito além da visão estereotipada, dos preconceitos criados pela sociedade. Ele mostra a resistência de pessoas apaixonadas, de diferentes classes sociais, etnias e gêneros. O cheerleading retratado pela série da Netflix é um esporte que abraça e aceita a todos, mostrando inclusão e diversidade. Ele quebra a ideologia do patriarcado, de uma sociedade machista e homofóbica. Ensina-nos verdadeiras lições de inclusão e quebra de estigmas, além de romper com a estrutura esportiva conhecida, de confederações, instituições e equipes constituídas majoritariamente por homens.

Que esta breve introdução possa quebrar os preconceitos instalados na sociedade e que abramos nossas mentes para esse esporte que tem muito a nos ensinar e incentivar. Cheerleading não é um esporte para fracos, não é um esporte “de menininha” – é o lugar para o atleta que quer disciplina e que quer levar seu corpo ao limite.

Referências

Associação Nacional de Cheerleaders (NCA)

Série Original Netflix Cheers


Artigos

Práticas de incentivo ao Futebol Feminino

Sabemos que a realidade do futebol feminino brasileiro ainda não é nada acolhedora e inclusiva. Muitas são as barreiras que as mulheres driblam todos os dias para conseguirem praticar sua paixão e perseverarem no esporte. Além do preconceito, a escassez de incentivos prejudica o desenvolvimento do modo de jogar e, consequentemente, o resultado nos campeonatos e a formação de novas atletas.

O Brasil conta hoje com relativamente pouco estímulo ao futebol de mulheres, em comparação com o futebol masculino, fazendo com que a curiosidade e a atração pela modalidade acabem não sendo desenvolvidas em muitas meninas. Afinal, quem não conhece, não tem como amar. Nosso país necessita, portanto, despertar cada vez mais o interesse pelo esporte em jovens mulheres, a fim de que novas atletas sejam formadas.

Felizmente, já podemos enumerar alguns inspiradores projetos que buscam promover o esporte feminino. Aqui falamos de escolinhas profissionalizantes de meninas, como as do Flamengo, PSG e Corinthians. Conseguimos observar um pequeno, mas significativo, aumento na criação de turmas femininas em clubes renomados e em pequenos clubes periféricos. As redes sociais também são grandes aliadas, e certos perfis, como o @dribradoras e o @futdelasbr, colaboram para a promoção do interesse e da prática do esporte por mulheres.

Dentre as instituições de memória, o Museu do Futebol de São Paulo tem acervos e parte do seu projeto voltado exclusivamente para o impulsionamento do futebol feminino, trazendo visibilidade para a causa por meio de história e informação. Um bom exemplo é o podcast “Audioguia Mulheres no Futebol” e exposições sobre o tema, como “Visibilidade para o futebol feminino de 2015” e “Contra-Ataque: as mulheres do futebol de 2019”.
E é com a parceria do Museu do Futebol que vamos contar no nosso “V Seminário Internacional do LEME – Agora é com elas: 30 anos da Copa do Mundo de Futebol de Mulheres”. Juntos, LEME e Museu, vão contribuir para a disseminação do conhecimento sobre o futebol de mulheres. O evento ocorre nos dias 08 e 09 de novembro. Para acompanhar as atualizações sobre o evento, siga o LEME no Instagram e fique de olho na aba do evento aqui no blog.

E para começarmos a aquecer antes do Seminário, indicamos algumas leituras que irão te deixar por pro dentro do tema. Confira!

  • ALMEIDA, Caroline. “Boas de bola”: um estudo sobre o ser jogadora de futebol no Esporte Clube Radar durante a década de 1980. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 2013.
  • BONFIM, Aira. Football Feminino entre festas esportivas, circos e campos suburbanos: uma história social do futebol praticado por mulheres da introdução à proibição (1915-1941). Dissertação – FGV, 2019. Dissertação (mestrado) – Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas, Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais.
  • GOELLNER, Silvana Vilodre. Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades. Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.19, n.2, p.143-51, abr./jun. 2005
  • SALVINI, Leila. MARCHI JÚNIOR, Wanderley Uma história do futebol feminino nas páginas da Revista Placar entre os anos de 1980-1990. Movimento. Porto Alegre, v. 19, n. 01, p. 95-115, jan/mar de 2013.
  • KESSLER, Claudia. Mulheres na área gênero, diversidade e inserções no futebol. RS: Editora da URFGS.
  • KESSLER, Claudia. COSTA, Leda; PISANI, Mariane. As mulheres no universo do futebol brasileiro. Santa Maria: Editora UFSM, 2020