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O novo realismo de Ted Lasso

O fenômeno dos haters nas redes sociais me fazem lembrar do futebol, afinal desde muito as arquibancadas e, até mesmo, as narrativas da imprensa são uma espécie de escola de formação de gente que destila opiniões raivosas, sem o mínimo pudor. É certo que esse sentimento é parte das nossas vidas e, também, é parte do futebol, afinal, em um espetáculo no qual as afetividades são constantemente acionadas, não podíamos imaginar que apenas o discurso do amor pudesse servir de alimento para o universo futebolístico. Há muito espaço para o seu reverso. A socióloga Janet Lever não deixou de reconhecer que o futebol é um poderoso produtor de símbolos compartilhados e, por isso, os “pontos focais de hostilidade também unem as pessoas” (1983, p. 157).

Olhando à primeira vista, o futebol poderia corroborar as constantes visões negativas acerca da humanidade sendo referencial as ideias que o filósofo Thomas Hobbes defendeu em seu Leviatã, e que partiam da hipótese de que o ser humano é naturalmente inclinado para o mal. Devido a essa característica, para Hobbes faz-se necessária a intervenção de leis rígidas para que o ser humano consiga sair de seu estado natural e adentre no estado civil.

De acordo com Rutger Bregman (2021), essa hipótese poderia ser denominada de “teoria do verniz”[1] o que implica dizer que as leis socialmente compartilhadas e estipuladas por alguma instância de poder – como por exemplo o Estado – serviriam como um mecanismo de controle da nossa tendência à maldade, à traição e diversas atitudes condenáveis. Mas esses mecanismos de contenção formariam uma camada de verniz fina que com certa facilidade pode ser descascada, trazendo à cena nossa “verdadeira natureza”.

O ambiente futebolístico é um daqueles em que essa camada de verniz se mostra por vezes frágil. Assim, como outros ambientes de trabalho, o mundo do futebol espetáculo está longe de ser um lugar acolhedor. A competitividade é grande e os interesses financeiros pautam grande parte das ações. A vaidade é imensa e as emoções são exaltadas, o que, frequentemente, deriva em variadas manifestações de violência. Em quais outros ambientes de trabalho, os profissionais são alvo de agressões verbais constantes no momento mesmo em que desempenham suas funções? E tudo isso ocorre de modo explícito e, muitas vezes, legitimado, por seus próprios colegas. E legitimado por nós torcedores.

No futebol, podemos ouvir afirmativas do tipo “a arbitragem roubou o jogo”, “tal jogador é limitado e não tem condições de vestir tal camisa”, “esse técnico é um burro” ou “esse técnico precisa ser demitido”. Frases desse tipo são ditas pela torcida, mas também por jornalistas que expressam sua opinião em veículos de comunicação massivos.  E isso tudo é feito tendo como motivação, muitas vezes, emoções de momento que perdem a força com o tempo, mas podem deixar de herança estragos em carreiras ou mesmo na vida psíquica de alguém.

Esse ambiente hostil poderia ser diferente?

A série Ted Lasso[2] nos faz refletir sobre essa possibilidade.

Fonte: Beyond Games. biz

Nos últimos cinco anos, são diversas as produções seriadas – documentais ou ficcionais – que têm o esporte como tema. Nessa listagem grande e variada, Ted Lasso se destaca pelo humor simples e porque de modo despretensioso nos mostra que a convivência humana pode ser boa, mesmo em meio a um mundo tão competitivo no qual somos estimulados a desconfiar do outro, a menosprezá-lo e, frequentemente, tratá-lo como potencial inimigo.

Ted Lasso nos faz pensar sobre a possibilidade de um “novo realismo”, proposta trazida por Rutger Bregman em seu instigante livro Humanidade. Uma história otimista do homem.

Quem já não foi taxado de romântico ou mesmo iludido pelo simples fato de ter demonstrado algum tipo de fé na humanidade? Quantas vezes já não ouvimos – ou mesmo falamos – que na vida é preciso ter sempre cuidado, afinal somos cercados por pessoas que estão prontas para nos apunhalarem pelas costas.  Geralmente essas afirmações são proferidas com profundo orgulho de quem se considera não uma pessoa pessimista, mas sim realista.

É absolutamente interessante o sentido que a palavra realismo adquiriu em nosso cotidiano. Ser realista significa basicamente compreender a natureza humana como essencialmente ruim. Bregman se pergunta: Por que não pensar o contrário? Por que ser realista implica olhar o mundo e as pessoas a partir de um viés negativo? O que chamamos de realismo, portanto, é uma interpretação possível, enviesada, e que está longe de corresponder a alguma verdade a respeito da nossa existência.

É verdade que não faltam exemplos do poder destrutivo que carregamos em nós mesmos. Guerras, violências cotidianas, a fome, a escravidão enfim, o “o horror, o horror” como gritou o personagem Kurts de Coração das trevas de Conrad, é uma das marca a breve história da espécie humana na terra.

Mas poderíamos listar evidências da nossa capacidade de ajudar quem precisa, de promovermos lutas pelo bem-estar coletivo, na possibilidade de sentirmos alegria no simples ato de olhar o dia nascendo e na nossa capacidade de inventarmos modos de estamos juntos.

O futebol, aliás, é uma dessas invenções

Rutger Bregman propõe que deveríamos construir um “novo realismo”, a partir de uma visão mais otimista sobre a humanidade. Exemplos não faltariam – e o autor elenca alguns – bastaria uma mudança de perspectiva em relação a narrativa construída acerca da nossa história.

O seriado Ted Lasso nos faz imaginar a viabilidade desse novo realismo.

Ted Lasso: um olhar otimista, mas não ingênuo

O personagem que dá nome a série nasceu, em 2013, de um comercial feito para promover a transmissão do campeonato inglês pela emissora americana NBC. Na campanha, o ator Jason Sudeikis interpreta um técnico de futebol americano que vai treinar o Richmond FC., um time da Premier League. O objetivo era brincar com características do futebol que provocam estranhamento no público americano como, por exemplo, o fato de o jogo terminar sem necessariamente ter um vencedor.

Em 2020, Ted Lasso – também interpretado por Jason Sudeikis – se transformou em protagonista de seriado homônimo. O mote da história é o mesmo da propaganda, o que representa um desafio e tanto, afinal não é nada fácil justificar a contratação de um técnico de futebol americano por um clube que disputa a Premier League, uma das mais importantes competições daquele futebol inventado pelos ingleses. 

A solução narrativa encontrada soa como um tanto exagerada e um tanto melodramática ao recorrer a um tópos muito comum da ficção: a vingança. Mas nada é tão simples assim quando se trata da série Ted Lasso

Ted Lasso chega a Premiere League para treinar o modesto Richmond. Sua contratação foi parte dos planos da personagem Rebecca Welton que se tornou proprietária do clube como resultado da divisão de bens após um processo de divórcio. Por ter sido abandonada pelo marido que a troca por uma mulher mais jovem e publicamente sentir-se humilhada, Rebecca resolve vingar-se do ex-marido – e ex-dono do Richmond -, destruindo aquilo que ele mais amava. Para isso chama Ted Lasso, um treinador de futebol americano que havia ficado famoso após protagonizar a comemoração de uma vitória de seu time, com uma engraçada dança que viralizou na internet.

Você poderia pensar que dificilmente esse tipo de contratação seria possível, afinal de contas o futebol é um negócio e tratá-lo a partir de motivações pessoais, somente traria prejuízos financeiros. Mas prejuízo para quem? Rebecca Welton é milionária e sua fortuna não seria comprometida caso o Richmond, por exemplo, deixasse de existir. O mesmo poderíamos pensar em relação aos irmãos Avram e Joel Glazer que se tornaram proprietários do Manchester United ao herdarem o clube do pai, Malcom Glazer, falecido em 2014. A família Glazer deixaria de ser bilionária caso o Manchester United fechasse as portas?

O enredo de Ted Lasso, portanto, está longe de parecer impossível e até mesmo soa como uma provocação ao contexto esportivo contemporâneo. Afinal, a partir do momento em que um clube de futebol se torna propriedade de uma pessoa, são grandes os riscos dele ficar à mercê dos mandos e desmandos de seu dono ou sua dona. Os movimentos de resistência torcedora ao redor do mundo dão mostras do quanto torcedores sabem desse risco.

Sendo assim, com plenos poderes, Rebecca poderia fazer o que bem entendesse do Richmond, o que inclui insistir em seu plano de vingança. Mas Ted Lasso não um é seriado que reitera lugares comuns e nem os estereótipos da mulher abandonada e ressentida. Rebeca com o tempo se revela uma personagem complexa que vai ocupando seu espaço de protagonismo na série e no clube Richmond.

As mulheres mandam, mas quem joga são os homens e alguns chamam mais atenção fora do que dentro de campo como é o caso de Jamie Tartt. Habilidoso, vaidoso, arrogante, mulherengo e indisciplinado, o personagem é uma alusão – pouco disfarçada – a Cristiano Ronaldo e tantos outros jogadores-celebridade, figuras tão comuns no cenário atual do futebol. Como contraponto a Jamie, há o capitão Roy Kent. Dedicado aos treinamentos e aos jogos, Roy carrega um semblante austero e um temperamento forte, sendo temido e ao mesmo tempo respeitado pelos colegas. Mas esse protótipo de macheza frequenta um fã clube de novelas às escondidas, o que o ajuda a lidar com a necessidade de dar fim à carreira de jogador devido a problemas físicos.

E Ted Lasso?

Dono de uma simpatia que às vezes o torna inconveniente, o técnico é um homem atrapalhado, que não entende absolutamente nada de futebol inglês e que, antes de tudo, opta por tentar viver em harmonia com as pessoas, mesmo tendo motivos para agir de modo oposto. Quando Ted chega à Inglaterra é recebido com severas críticas da imprensa e xingamentos da torcida. Os jogadores o tratam com desprezo ou deboche, fazendo dele um motivo constante de piada. Mas para espanto de todos, mesmo sendo maltratado Ted Lasso não revida com a mesma moeda. E tão pouco oferece a outra face. O treinador tem plena consciência do tipo de tratamento que recebe, mas com o tempo sua relação com os profissionais do clube, com os atletas vai se modificando e transformando-se em amizade, como é o caso de Rebeca.

Pode parecer que estamos caminhando para mais uma história melodramática de redenção em que a mensagem principal a ser passada aos espectadores é a de que a vida é bela e que os conflitos, preconceitos e várias mazelas da vida são vencidos em prol do amor e da amizade. Mas não é bem assim que a série conduz sua narrativa. Embora o clube torne seu ambiente menos hostil, em grande medida, por causa da interferência da figura de Ted Lasso, o Richmond luta a duras penas para se manter na primeira divisão inglesa. As derrotas continuam a gerar preocupação e irritação na torcida, assim como continuam constantes os desafios de integrar, em um mesmo grupo, jogadores com histórias de vida e interesses tão díspares. Jogadores muitos dos quais vindos de fora da Inglaterra e alvos constantes de preconceito.


A série não oferece uma varinha de condão mágica capaz de mudar a realidade e nos fazer sentir algum tipo de catarse redentora ao final de cada episódio. Camaradagem não é um atributo que possamos entender como algo que seja natural ao personagem Ted Lasso. O comportamento de Ted é derivado de uma luta constante consigo mesmo, uma luta metaforizada no trabalho de preparar biscoitos para oferecer de cortesia aos colegas todas as manhãs.

Em Ted Lasso é evidente que o mundo está longe de ser perfeito, mas também está longe de ser uma ruína. Como já foi dito, o seriado Ted Lasso nos faz ver a viabilidade daquele “novo realismo” proposto por Rutger Bregman. E nesse sentido, não importa tanto descobrir se os seres humanos são essencialmente bons ou ruins.

Ted Lasso não nos dá essa resposta. A série apenas demonstra que é absolutamente possível construirmos formas de vidas comprometidas com a empatia. Esse compromisso não nos livrará da raiva ou das dores trazidas pela perda de um ente querido ou pela derrota de nossos clubes de coração. Esse compromisso não nos livrará do enfrentamento diário com nossos medos e traumas. Mas pode nos oferecer a oportunidade de entender que agir com empatia, solidariedade e optar pela alegria da coletividade também são ações absolutamente reais, verificáveis ao nosso redor e não somente ilusões.

Fonte da imagem: O Globo.

Talvez nesse aspecto resida parte dos motivos do sucesso de Ted Lasso junto ao público. Lançado na época da pandemia mundial de Covid, a série se transformou em um sucesso de público e de crítica especializada, chegando a ganhar o  Emmy, em 2021 e 2022, de melhor série de comédia.

Em sites especializados e em resenhas críticas publicadas em jornais é comum lermos que uma das justificativas para o êxito de Ted Lasso é que a série nos trouxe leveza e humor em um momento tão delicado como foi o período pandêmico. O “novo realismo” de Ted Lasso fez sucesso.

Em sua terceira temporada, já lançada na metade do mês de março de 2023, a perspectiva positiva sobre a humanidade será colocada à prova, afinal a tomar pelo fim da 2ª temporada, estará em campo e fora dele, a inveja, a cobiça e a ingratidão.

Ted Lasso é uma série que nos faz refletir sobre profundas questões da nossa vida e o faz tendo o futebol como cenário e metáfora das nossas derrotas e vitórias diárias, sabendo sempre que amanhã o jogo continua.

Referências

BREGMAN, Rutger. Humanidade. Uma história otimista do homem. São Paulo: Planeta, 2021

LEVER, Janet. A loucura do futebol. Trad. A. B. Pinheiro de Lemos. Rio de Janeiro: Record, 1983.


[1] Bregman afirma que a “teoria do verniz” foi assim denominada pelo biólogo holandês Frans de Waal (p.21)

[2] Ted Lasso é uma série estadunidense original da Apple TV, criada em 2020 por Bill Lawrence e Jason Sudeikis.

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Um convite para a leitura do artigo “Esporte, comunicação e sociologia: uma leitura da trajetória acadêmica e da produção intelectual de Ronaldo Helal”

Não são muitos os autores e pesquisadores que têm sua trajetória acadêmica transformada em objeto de análise e homenagem. Pelo menos na tradição acadêmica brasileira, não é comum esse tipo de registro e quando ocorre, sua motivação, além da excelência da pesquisa, se dá por ocasião de aposentadoria ou mesmo falecimento.

Ocorre que Ronaldo Helal está vivíssimo, intelectualmente atuante e atento à pátria que tem calçado chuteiras cada vez menores.[1] Ronaldo segue em sala de aula formando novas gerações pensantes. E segue devotando ao Flamengo, o amor de um torcedor empedernido.

Uma das principais forças de uma obra ou de um conjunto de obras reside na sua originalidade e na sua capacidade de inspirar outros trabalhos construídos a partir do diálogo de ideias, da admiração e da gratidão intelectual.

Não é grande a lista de autores que consegue desempenhar esse papel em determinado campo do conhecimento.

Ronaldo Helal é um deles.

Fonte: Pinterest.

Sua produtividade acadêmica está longe de acabar e sua trajetória, até o momento, é bastante rica significativa. No campo dos estudos sobre esporte e sua relação com os meios de comunicação de massa, algumas de suas obras assumem um papel, eu diria vanguardista.

Suas análises, tendo como centro o papel dos meios de comunicação de massa, deram um novo fôlego aos estudos das relações entre identidade nacional e futebol, em especial, sobre seleção brasileira e as Copas do Mundo. Não somente. O trabalho de Ronaldo também possibilitou que o campo da Comunicação pudesse se renovar ao encontrar nos esportes novas possibilidades de pesquisas centradas em um dos mais importantes fenômenos culturais do Brasil.

São, portanto, sólidos os motivos que levaram o historiador Bernardo Buarque de Hollanda a compor o artigo “Esporte, comunicação e sociologia: uma leitura da trajetória acadêmica e da produção intelectual de Ronaldo Helal” publicado na revista Alceu[2].

Nesse artigo, a vida acadêmica de Ronaldo é compreendida a partir da perspectiva da “viagem como vocação”[3] o que sinaliza para o fato de que sua produção faz do deslocamento geográfico, para além das fronteiras nacionais, um meio de olhar o “país de fora para dentro” como já o fizera importantes intérpretes do Brasil.

É certo que não necessariamente uma viagem para fora do país resulta em uma renovação de perspectiva a respeito daquilo que nos rodeia. É possível ter esse tipo de perspectiva sem sequer sair de nosso próprio quarto ao estilo de Xavier de Maistre, romancista que inspirou fortemente Machado de Assis, autor que literariamente interpretou de modo profundo o Brasil sem nunca dele ter saído.

O olhar de fora para dentro implica não somente o deslocamento físico, mas é fundamental a sua conjugação com um movimento intelectual de tornar estranho aquilo que nos é familiar e de transformar em familiar aquilo que nos era estranho. Esse movimento marca o itinerário da produção de Ronaldo Helal e sua própria visão pessoal de mundo, inquieta, problematizadora, mas fundamentalmente generosa em reconhecer que o conhecimento é feito de processos marcados pela dinâmica da contradição e da necessária renovação do pensamento crítico.

A formação acadêmica de Ronaldo foi construída na frequência a instituições de pesquisa internacionais nas quais teve contato com um importante contexto de produção de estudos acerca do fenômeno esportivo. Somado a esse material, é de se destacar o diálogo permanente com instigantes interlocutores alguns dos quais construiu uma longa história de amizade.   

A produção de Ronaldo é derivada de sua vocação para fazer da viagem uma fonte de formação intelectual e humana. Vocação que pode ser colocada em prática graças ao apoio institucional da UERJ, universidade na qual leciona há 35 anos, e às agências públicas de fomento FAPERJ, CAPES e CNPq.

Termino aqui convidando você a ler o artigo Esporte, comunicação e sociologia: uma leitura da trajetória acadêmica e da produção intelectual de Ronaldo Helal publicado na revista Alceu.


[1] Faço referência a uma a uma frase dita por Hugo Lovisolo em entrevista para o jornal O Globo em 2001.

[2] Link para o artigo: http://revistaalceu.com.puc-rio.br/index.php/alceu/article/download/267/309

[3] Termo criado por pela antropóloga Fernanda Peixoto e utilizada por Bernardo Buarque de Hollanda no artigo em questão

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“Futebol na sala de aula”, de Lívia Gonçalves Magalhães e Rosana da Câmara Teixeira

Dos jogos de várzea ao espetáculo televisivo, é difícil caminharmos pelas ruas do Brasil sem
notar a presença do futebol. É muito importante que essa força comunicativa do futebol seja, também, levada às salas de aula. Essa é a proposta que fundamenta a coletânea de artigos reunidos no livro Futebol na sala de aula, organizado pelas pesquisadoras Lívia Gonçalves Magalhães e Rosana da Câmara Teixeira, duas referências nos estudos sobre futebol no Brasil.

Movidas por paixões clubísticas opostas (quais seriam?), Lívia Magalhães e Rosana da Câmara Teixeira assinam a organização de um livro que eu chamaria de generoso, a começar pela sua proposta inclusiva de democratização de acesso à produção de conhecimento do campo acadêmico.

Fonte: Eduff

A obra é generosa na sua composição, pois reúne autores e autoras de áreas diversas que se
debruçaram sobre a tentativa de fazer do fenômeno futebolístico uma fonte de diálogo e
inspiração para a abordagem, em sala de aula, de assuntos que percorrem o cotidiano de
alunos e alunas do país inteiro.

A sua generosidade é dedicada à memória da antropóloga Simoni Guedes e do geógrafo Gilmar Mascarenhas, de quem fomos alunos nas salas de aula da vida e que nos deixaram valiosos legados no campo acadêmico. Além dessa homenagem, o livro traz textos desses autores que chegaram a acompanhar parte do processo de elaboração da obra.

O prefácio de Futebol na sala de aula é de José Sérgio Leite Lopes e a orelha de Luiz Antônio Simas. Ambos nos dão as boas-vindas a um livro escrito durante a pandemia de Covid-19, e que nos chega em um momento no qual é imperativo construirmos uma sociedade movida pela educação. Educação pensada e praticada como um processo amplo, complexo e cujo sentido nunca será definitivo, pois está em constante construção.

Segue abaixo uma prévia do livro:

PRELIMINAR
Cidadania e legado em debate – Gilmar Mascarenhas

Perseguindo um sonho: a profissionalização de jogadores e jogadoras no futebol – Simoni Lahud Guedes

PRIMEIRO TEMPO

Futebol e Relações Internacionais: o “rude esporte bretão” em tempos de paz e de guerra – Adriano de Freixo

Futebol e literatura no Brasil: um caso crônico – Bernardo Buarque de Hollanda e Marcelino Rodrigues da Silva

Futebol e ensino: ditaduras e autoritarismo no Brasil e na Argentina (1970-1978) – Lívia Gonçalves Magalhães

O futebol no Rio de Janeiro e os projetos de modernização no Brasil Republicano (1902-1945) – Renato Soares Coutinho

História oral e futebol – Sérgio Settani Giglio e Marcel Diego Tonini

SEGUNDO TEMPO

No campo das torcidas organizadas de futebol: interações sociais e aprendizagens – Felipe Tavares Paes Lopes e Rosana da Câmara Teixeira

Violência verbal e a performatividade de gênero no currículo de masculinidade dos torcedores de estádio de futebol em questão – Gustavo Andrada Bandeira e Fernando Seffner

Futebol e gênero: o som do machismo e da homofobia que vem das arquibancadas – Leda Maria da Costa

Ditadura civil-militar e homossexualidades transgressoras: o caso da torcida Coligay – Luiza Aguiar dos Anjos

Do Kanjire ao futebol: dinâmica dos “jogos de guerra” no tempo entre os Kaingang – José Ronaldo Mendonça Fassheber

O futebol como espelho da sociedade brasileira: o que as quatro linhas podem nos ensinar sobre relações raciais no Brasil – Rolf Malungo de Souza

O futebol nas aulas de educação física para além da bola rolando – Silvio Ricardo da Silva, Luiz Gustavo Nicácio e Priscila Augusta Ferreira Campos

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Competições olímpicas de arte e a história das mulheres no esporte

A trajetória das mulheres no esporte durante algum tempo foi contada a partir da ênfase naquilo que não foi ou naquilo que poderia ter sido. Trata-se de uma perspectiva importante e justa que chamou a atenção para o longo silêncio sobre uma parte importante da história do esporte. Essa parte cabe às mulheres e ela é composta de inúmeros eventos e ações que precisam ser trazidos à cena, montando assim um quadro não de lacunas somente, mas de atos e gestos movidos por esforços solitários e coletivos. Esforços que possuem laços com diferentes esferas da cultura e da sociedade, entre as quais a arte.

Diversas foram as vezes em que o esporte foi artisticamente representado. As vanguardas europeias são um exemplo dessa aproximação. A ânsia por tematizar o frenesi da modernidade e seus ícones – entre os quais o esporte – moveu a tinta de artistas futuristas como Giacomo Balla, Umberto Boccioni e Carlo Carrà[1].

Porém, uma das mais fortes demonstrações da relação entre arte e esporte está nas Olympic Art Competitions (Competições Olímpicas de Arte) quase esquecidas hoje em dia, mas que já fizeram parte do programa dos Jogos Olímpicos. Essas competições começaram oficialmente, em 1912, nos Jogos de Estocolmo e terminaram em 1948, em Londres. Elas surgiram da vontade de Pierre Coubertin de relacionar esporte, arte e literatura, pois essa união representaria o que Coubertin considerava como a verdadeira essência dos Jogos Olímpicos, do modo como acreditava terem sido concebidos na Antiguidade.

Essas disputas artísticas foram um momento importante para as mulheres no esporte. Em 1928, o mexicano Ángel Zárraga levou para as competições seus quadros La Futebolista Rubia e La Futebolista Morena nos quais são retratadas jogadoras de futebol parisienses que atuavam nos gramados franceses em uma época considerada como a “idade de ouro” do futebol feminino[2].

Foto 1
La futebolista morena, obra pintada, em 1926, por Ángel Zárraga e inscrita nas Competições Olímpicas de arte de 1928

Porém, as mulheres, também, se destacaram como artistas. E várias delas conseguiram medalhas.

Competições Olímpicas de arte e as mulheres

Pelo menos desde a metade dos anos de 1910, Pierre Coubertin não mediu esforços para a organização de uma conferência consultiva que visava convencer o Comitê Olímpico Internacional sobre a necessidade de se integrar ao Jogos, manifestações que fossem além dos esportes e abarcassem as artes. Richard Stanton, em seu livro The forgotten Olympic Art Competitions, nos mostra o empenho de Coubertin em convidar importantes artistas da época para comporem a conferência, enviando-lhes cartas individuais.

Em 1906, na abertura desse evento, Coubertin fez a leitura intitulada “A Grand Merriage” na qual enfatiza a necessidade de unir músculo e mente[3]. Seu esforço gerou resultado:

A conferência aprovou por unanimidade a ideia de instituir cinco concursos, arquitetura, escultura, pintura, literatura e música, que se juntarão a seguir as Olimpíadas e farão parte delas com o mesmo status das provas atléticas. Os trabalhos apresentados devem ser inspirados na ideia do esporte ou referir-se diretamente ao esporte. Eles seriam examinados por um júri internacional. As obras vencedoras seriam, na medida do possível, exibidas, publicadas ou executadas (como se fossem pictóricas, arquitetônicas, escultóricas ou literárias, ou finalmente, musicais ou dramáticas) ao longo dos Jogos. (tradução minha) [4]

Após alguns percalços, finalmente nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, as competições artísticas foram oficializadas. As principais categorias incluíam Arquitetura, Escultura, Pintura, Música e Literatura[5] tendo sua organização orientada pela nacionalidade. Assim como nos jogos esportivos, as premiações se dividiam em medalhas de ouro, prata e bronze. Em 36 anos foram concedidas 147 medalhas, sendo no total 24 para a Alemanha, 14 para Itália e 13 para a França.

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Competições Olímpicas de arte, 1932, Los Angeles. Júri observando as obras. Fonte: Olympic Museum

O único representante de destaque da América do Sul foi o Uruguai que obteve uma menção honrosa, em 1948, na categoria literatura, prêmio obtido por Clotilde Luisi, uma advogada, escritora e militante do direito das mulheres[6].

Várias foram as mulheres que participaram das Competições Olímpicas de Arte e que ganharam medalha como é o caso da escultora alemã Renée Sintenis que, em 1928, recebeu prata pela obra Footballeur. René era uma mulher que chamava atenção em sua época por seu estilo andrógino e por uma vida pública agitada, sendo com frequência vista em eventos esportivos ou dirigindo carros pelas ruas de Berlim.

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Footballeur, 1928, Renée Sintenis, medalha de bronze. Fonte: Playing Pasts

Outro destaque pode ser dado a Laura Knight que, em 1913, impactou a crítica e o público com seu Self-portrait with nude (Autorretrato com nu). Essa composição mostra uma cena ambientada em um estúdio no qual aparece Knight – vestida – em frente a uma tela em que pinta a modelo nua, Ella Naper.  Ao lado de Laura podemos ver um espelho refletindo o corpo real dessa modelo que posava para a artista. É uma pintura complexa que ao duplicar a imagem, atinge três planos de representação feminina: pintora, modelo e figuração.

Vale lembrar que no período de formação artística de Laura Knight, nas escolas de arte, era desaconselhado e até mesmo vedado que mulheres pintassem diretamente modelos nus, tendo que se limitar a trabalhar a partir de moldes ou copiar desenhos preexistentes. O quadro Autorretrato com nu, em grande medida, pode ser interpretado como uma provocação a essa sanção sofrida pela própria artista.

Knight foi alvo de críticas negativas de quem a considerou imoral e com uma postura considerada como incompatível com uma mulher. Entretanto com o passar do tempo, sua técnica que conjugava realismo e traços de impressionismo, a tornaram um dos principais nomes das artes plásticas da Inglaterra em sua época.  Uma artista muito popular, também, devido às suas pinturas sobre o cotidiano do circo. Laura Knight, em 1936, tornou-se a primeira mulher eleita para membro efetivo da Royal Academy desde sua fundação.

Antes disso, em 1928, Laura Knight foi medalhista das Competições Olímpicas de Arte ganhando a prata com a pintura Bouxeurs. Essa modalidade esportiva, aliás, já havia recebido atenção da artista em obras anteriores como é o caso de Physical Training at Witley Camp (1918), inspirada em cenas presenciadas pela própria artista no campo de treinamento militar Witley, onde soldados canadenses, francês e Belgas se preparavam para a primeira guerra mundial. Desde, então, a pintora costumava representar o boxe em suas produções como é o caso de Youngsters at the ring, Blackfriars (1937). Ainda em relação à temática esportiva, a artista fez o famoso cartaz Rugby at Twickenham by Tram, em 1921.

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Boxeurs, Medalha de prata, Competições Olímpicas de Arte 1932. Fonte: Olympic Museum

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Physical Training at Witley Camp (1918), Laura Knight. Fonte: Allpainter

Foto 6
Youngsters at the ring, Blackfriars (1937), Laura Knight. Fonte: Artnet

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Rugby at Twickenham by Tram, cartaz feito por Laura Knight
Fonte: London Transport Museum

Agora é a vez de falar de Ruth Miller, nascida em Chicago, em 1904, filha de uma família abastada e conservadora da qual tentou desvencilhar-se e ir em busca de mais liberdade. Ruth chegou a fingir um colapso nervoso para não ser matriculada no tradicional Vassar College. Viajou para a Europa, casou-se sem autorização dos pais e estudou artes plásticas durante a efervescência das vanguardas europeias. Provavelmente desse contato surgiram os traços surrealistas que acompanham muitas de suas obras.

Já de volta aos Estados Unidos, em 1932, nos Jogos de Los Angeles, Ruth ganhou a medalha de prata nas competições artísticas com a interessantíssima pintura The Struggle, em que é possível observarmos dois homens, um negro e um branco, cuja luta corpórea pode ser interpretada como uma alusão ao embate racial comum à sociedade americana da época.

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Ruth Miller Kempster, The Struggle, Medalha de prata. Competições Olímpicas de Arte de 1932.
Fonte.: http://lacmaonfire.blogspot.com/

A pintora não deixou de lançar um olhar crítico também sobre os padrões femininos de sua época, como ocorre na bela e provocativa obra Housewife, de 1935. Nela, a partir da técnica de enquadramento usada, nos é passada uma forte impressão do enclausuramento do cotidiano doméstico das mulheres.

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Housewife, 1935, Ruth Miller Kempster. Fonte: Los Angeles Times.

As pintoras aqui mencionadas, de algum modo, deram mostras tanto na arte quanto em suas vidas de que havia espaços mais amplos a serem ocupados pelas mulheres na sociedade. E esse é um dos motivos que norteou a escolha delas para compor este texto. Além desse aspecto, o destaque dessas artistas, nesta postagem, também se justifica pela maior quantidade de informações acessíveis sobre suas carreiras e as obras que as levaram a ser premiadas nas Competições Olímpicas de Arte.

Foram 148 mulheres artistas que concorreram nessa disputa, sendo que 10 ganharam medalhas e cinco conseguiram menção honrosa. São números que dão mostras de uma participação exitosa. Desde a primeira edição oficial, em 1912, foi permitida a presença de mulheres, o que dá mostras de que pelo menos nas competições artísticas dos Jogos, essa questão não foi um problema. Nas regras das Competições Olímpicas de Arte não há passagens que façam alusão a regulações específicas em relação a artistas mulheres, assim como não se encontrava menção à sua exclusão das competições[7].

foto 10
Quadro de medalhistas mulheres nas Competições Olímpicas de Arte nas Fonte.: Natalia Camps Y Wilant. A Female Medallist at the 1928 Olympic Art Competitions: The Sculptress Renée Sintenis. The International Journal of the History of Sport. Volume 33, 2016

Tudo bem diferente do que ocorria com os Jogos Olímpicos esportivos cuja presença feminina foi algo contra o qual o próprio Barão de Coubertin manifestou-se explicitamente diversas vezes. Essa e outras oposições dificultaram sobremaneira a participação de mulheres atletas, mas como já disse, no início desta postagem, a trajetória das mulheres no esporte é fascinante devido ao seu caráter alternativo e em certa medida desobediente.

Afinal enquanto Barão de Coubertin dizia não, a francesa Alice Milliat, criou, e depois dirigiu, a Fédération Sportive Féminine Internationale (F.S.F.I.). Essa instituição durou 15 anos – (1921-1936) – e no decorrer desse esse tempo foi responsável pela organização de quatro edições dos Jogos Olímpicos Femininos.

Mas esse é tema para a próxima postagem.

[1] Sobre a relação arte e esporte há livros e artigos de Victor Andrade de Melo que podem ser consultados

[2] Uso a expressão de Xavier BREUIL no seu Histoire du football féminin en Europe. Paris.: Nouveau Monde Editions, 2011

[3] “to reunite a long-divorced couple – Muscle and Mind”, assim consta no discurso original que pode ser lido no livro de Richard Stanton The forgotten Olympic Art Competitions

[4] Pérez-Aragón, P. y Gallardo-Pérez, J. (2017). Coubertin and the Artistic Competitions in the Modern Olympic Games. Revista Internacional de Medicina y Ciencias de la Actividad Física y el Deporte vol. 17 (68) p.633-649.

[5] Com o tempo outras subdivisões foram acrescentadas

[6] Clotildi Luisi foi uma artista atuante no cenário político da América Latina saindo em defesa de ideias anti-imperialistas. Ela foi amiga de Alfonso Reys, poeta e diplomata Mexicano, com quem manteve intercâmbio intelectual frequente. Sobre a atuação de Luisi ver Mariana Moraes Medina. Crónica de una efusión: Alfonso Reyes, Luisa Luisi y el Comité Uruguay-México. Revista de Historia de América núm. 156, 2019.

[7] Ver  Natalia Camps Y Wilant. A Female Medallist at the 1928 Olympic Art Competitions: The Sculptress Renée Sintenis. The International Journal of the History of Sport. Volume 33, 2016 – Issue 13: Special Issue: Women and Sport

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BBB 20, futebol e outras coisas

Há mais elementos em comum entre futebol e Big Brother Brasil do que imaginamos. Ambos são jogos – cada qual com sua especificidade – que mobilizam a atenção de milhões de espectadores. Por isso, mesmo quem não segue o BBB nas telas, dificilmente evitará que, em algum momento, alguma referência ao programa chegue ao seu conhecimento. Conversas em grupos de WhatsApp, postagens nas redes sociais, memes alusivos a situações ocorridas na casa do BBB, notícias que circulam nos jornais sobre o programa, enfim, são diversos os modos pelos quais é possível, – mesmo que não se queira – ter contato com o mundo Big Brother Brasil. Algo parecido ocorre com o futebol. São várias as pessoas que simplesmente não ligam ou mesmo não gostam desse esporte e, mesmo assim, veem seu cotidiano continuamente perpassado e, diria, muitas vezes, invadido por questões do mundo futebolístico.

Outro ponto de contato reside nas críticas feitas a quem acompanha esses jogos. É bastante comum que esse público seja taxado como alienado, fútil e manipulado já que se prestaria a ocupar seu tempo, seguindo pela TV um bando de gente enclausurada em uma casa vigiada 24h por câmeras. Convenhamos que apaixonados por futebol, também, são alvo de crítica muito semelhante. Quantas vezes já não fomos questionados por frequentarmos estádios ou por acompanharmos de modo sistemático os inúmeros campeonatos nacionais e internacionais que passam na televisão. Isso sem mencionar a frequência com que nossa paixão clubística é ridicularizada.

Big Brother Brasil e futebol são jogos e programas televisivos muito exitosos no Brasil. Cada qual com sua dinâmica competitiva e ambos cercados de câmeras por todos os lados.

Por isso, me sinto bastante à vontade em escrever sobre o Big Brother Brasil20, sobretudo, nessa edição em que o futebol se fez tão presente em momentos decisivos. E me sinto mais ainda à vontade em dizer que foi um dos mais interessantes programas dos últimos tempos da televisão aberta brasileira – juntamente com a novela Amor de mãe. Se faltou futebol em nossos dias e noites, o BBB foi um companheiro à altura, no que diz respeito a capacidade de entreter, de trazer a cena dilemas da sociedade brasileira e, sobretudo, por permitir que eu comemorasse como uma torcedora, a vitória de Thelma, a vencedora da edição deste ano. E eu não fui a única.

Não é meu propósito fazer uma análise profunda do fenômeno BB no Brasil. Longe disso. Há pesquisas sérias sobre o tema, desenvolvidas há anos.

Este texto é construído com certa liberdade e sua intenção principal é traçar uma teia de diálogo entre o reality show, o futebol e algumas questões como machismo e racismo no Brasil.

Machismo, futebol e BBB20

Em janeiro, quando o BBB 20 começou, tínhamos campeonatos de futebol, tínhamos a expectativa do carnaval e, provavelmente, menos medo e desgosto, sentimentos que se tornaram constantes em época de pandemia global. Pelo menos no meu caso, o reality conseguiu proporcionar divertimento e abstração que foram importantes para a manutenção da minha sanidade. Um efeito parecido ao que teria o futebol. Mas se por um lado foi uma rota de fuga, por outro o BBB também mostrou seu potencial para instigar a pensar sobre a sociedade brasileira.

Ano passado, a vencedora do reality dizia muito sobre a atmosfera conservadora do país. Ana Paula Von Sperling havia dado declarações racistas e de intolerância religiosa, chegando a ser indiciada pela Decradi Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância enquanto estava no programa. Entretanto, Paula ficou em primeiro lugar na preferência do público ao final da competição.

Quando o BBB 20 começou, temia que dele saísse mais um vencedor – ou vencedora – com discursos e atos preconceituosos. E não faltaram candidatos com esse perfil. Na verdade, as câmeras da casa mostraram um indisfarçado desfile de racismo e machismo.

Um grupo de homens composto, entre outros, por um ex-ginasta (Petrix Barbosa) e um ex-jogador de futebol (Hadson Nery), não nos poupava de comentários constrangedoramente machistas que depreciavam os corpos das participantes. Então, surgiu a grave denúncia de assédio cometido por Petrix Barbosa no final de janeiro na casa do BBB. A hashtag #Petrixexpulso virou trending topics no Twiter e Polícia Civil do Rio de Janeiro se manifestou exigindo informações sobre o caso.

As imagens mostradas não deixam dúvidas sobre as atitudes abusivas de Petrix. No início de fevereiro, Petrix, um dos ginastas, vítima de abuso do então técnico Fernando de Carvalho Lopes – caso que veio à público em 2018 – foi eliminado com 80% dos votos computados. Porém, o machismo persistiu e virou estratégia de jogo com o teste de fidelidade.

Algumas participantes – muitas delas, influenciadoras digitais – reagiram, protagonizando cenas de empoderamento e ao mesmo tempo promovendo as “tretas”, brigas e discussões, tão esperadas pelo público em geral. Palavras como feminismo e sororidade ganharam força na casa e ecoaram fora dela. Machismo x feminismo foi uma importante disputa que moveu a dinâmica do jogo e a adesão do público.

E os machos tóxicos foram sendo eliminados um a um com expressivas rejeições do público. Mas sobrou Felipe Prior.

Arquiteto, empresário e jogador amador de futebol, Prior esteve no centro das atenções em momentos importantes do BBB em especial no paredão que bateu recorde mundial de participação de público, alcançando mais de 1 bilhão e meio de votos. Do outro lado estava a influencer Manu Gavassi, uma das líderes da reação das mulheres.

É nesse momento que BBB20 e futebol definitivamente se aproximaram.

Embora Prior tivesse participado das conversas e das estratégias dos machos tóxicos, sua personalidade carismática e explosiva, um pouco de sorte nas provas do BBB e seu estilo pretensamente “sincerão” foram elementos que fizeram com que muitas torcidas a seu favor fossem formadas ao longo do programa.

Por estilo sincerão podemos entender agressividade, misturada com altas doses de síndrome de perseguição e uma incansável mania de achar que todas as atitudes se justificam desde que autênticas e coerentes. Segundo essa lógica simplista – adotada por muitas pessoas, aliás – ser grosseiro e preconceituoso, podem ser facilmente transformados em sinônimo de autenticidade. [1]

Prior construiu esse personagem que foi capaz de gerar muitos conflitos nas relações interpessoais, dando dinâmica à narrativa do BBB20.  Felipe jogou usando sua habilidade de irritar agredindo.

Famosos jogadores de futebol e até mesmo clubes declararam sua torcida publicamente ao El Mago, apelido dado a Prior.:

Fonte: UOL.

A adesão à torcida por Prior não é coincidência e, muito menos, se justifica unicamente pelo fato de o participante ser atleta amador de futebol. A questão é que esse participante encarnava muito bem a tipologia do macho sincero, que diz odiar o politicamente correto e que adora soltar verdades que machucam somente os outros e nunca a si mesmo.

Jamais podemos subestimar a capacidade que o futebol – e o esporte de um modo geral – tem de reiterar suas raízes machistas e conservadoras. E no paredão que bateu recorde de votação, alguns importantes representantes do futebol perderam a oportunidade de mostrar que o ambiente futebolístico tem mudado.

A influenciadora digital Manuela Gavassi, autodeclarada feminista, versus o caldeirão de rancor, Felipe Prior. Manuela não era um poço de carisma e seu desempenho no reality, até então, era um tanto, diríamos, blasé, às vezes dando fortes indícios de indiferença e tédio. Ela estava longe de ser naquele momento uma personagem interessante, como posteriormente se tornaria. Ocorre que do outro lado estava Prior que se comprazia com comentários machistas e que se viu envolvido em declarações que envolviam zoofilia.

Prior era o vilão cliché, típicos de melodramas cafonas, a ser eliminado. Mas foi tomado como um herói por Neymar, Gabigol, Gabriel Jesus, e tantos outros jogadores. Foi tomado por herói também por indivíduos conhecidos pela exaltação à violência e ao ódio.:

Fonte: Correio Braziliense.

A postagem acima diz muito sobre o tipo de perfil que Prior era capaz de atrair.

Porém, se o futebol e o BBB são um jogo, e dos mais populares no Brasil, há de se convir que o BBB20 pelo menos foi capaz de alimentar a esperança de que personagens como Prior estão ficando desgastados. O paredão com mais de 1 bilhão e meio de votos determinou a eliminação de Prior e fez parecer que estávamos uma final de campeonato de tantos os gritos de comemoração que se podia ouvir das janelas em muitas cidades do país.

Torcida do BBB também existe jocosidade e, por isso, não faltaram memes, muitos em alusão a Neymar.

Reitero que, infelizmente, não podemos subestimar o futebol e seu instinto conservador. Com a saída de Prior, muitos jogadores afirmaram que o jogo BBB havia perdido a graça.

Fonte: UOL.

Assim como muitas pessoas ligadas ao futebol pensam, perder a graça significa a impossibilidade de se demonstrar machismo, homofobia e racismo, afinal para muita gente no futebol ofensas desse tipo ainda são consideradas uma das brincadeiras mais divertidas.

Fora da casa, Prior é investigado por duas acusações de estupro e uma de tentativa de estupro conforme apurado pela revista Marie Claire[2]. Tenho a curiosidade em saber se Vinícius Jr. continua ansioso para conhecer o ex-BBB pessoalmente.

Com a eliminação de Prior poderíamos encerrar este texto comemorando a derrota do machismo, mesmo que só no BBB20. Do lado de fora, a luta continua imensa.

Porém, o feminismo do BBB20 andou lado a lado com o racismo.

O feminismo e racismo no BBB20

O BBB20 evidenciou a necessidade de um feminismo para os 99%[3], o que implica que o feminismo seja antirracista. Manu Gavassi certa vez afirmou que casais da “mesma cor” são “esteticamente agradáveis”, esse comentário infeliz foi feito após ela se deparar com o casal Marcela e Daniel, ambos brancos e loiros.

Marcela, por sua vez, outra que se autodeclarava feminista, não conseguiu disfarçar um inexplicável incômodo e falta de empatia com Babu, ator, negro e cuja falta de integração com algumas participantes trazia à cena o racismo estrutural que marca a sociedade brasileira. Marcela chegou a declarar que tinha medo de Babu e quando questionada por que, respondeu “De que ele vá gritar”.[4]

Marcela, entretanto, nunca havia comentado sobre, ou mesmo, demonstrado medo de Prior que se comunicava basicamente por intermédio de gritos. Ao contrário, Marcela, nunca deixou de falar com Prior, nem que fosse para discutir. Mas Prior é branco e arquiteto, o que não provocava estranhamento em Marcela, muito menos temor. Já Babu é negro, raça que historicamente foi anexada a características desumanizadoras como monstruosidade, temperamentos irracionais, bestialidade e ferocidade.

O distanciamento de Marcela foi notado pelo próprio Babu que em determinado momento afirmou que “A Marcela me olha que nem uma madame, do mesmo jeito que minha patroa me olhava. Eu tenho trauma desse olhar”.

Babu, não era um poço de doçura, porém, dentre todos os homens que participaram do BBB20 foi aquele que mais se mostrou informado e sintonizado com as importantes pautas da sociedade o que incluía a luta das mulheres por mais igualdade. Mas, tanto Marcela como Manu e Gizelly preferiam a companhia dos participantes Pyong e Daniel. O primeiro, extremamente manipulador e o segundo, provavelmente, um dos mais alienados participantes da história do programa.

Pyong disputou com Babu um paredão que registrou o expressivo número de 385 milhões de votos. Babu venceu. A sua permanência mesmo sendo um indicativo que era um forte candidato,  despertou ainda mais ódio, sobretudo, em Ivy que chegou a chamá-lo de monstro e de debochar do pente que o participante usava “Quem que penteia o cabelo com um trem desse?” disse a mineira. Tentando se defender desse tipo de fala Yvi protagonizou o seguinte diálogo.:

eu sou super contra julgar alguém por conta da pele, isso não existe. Mas ficar usando disso também eu não concordo. Ser preto não é malefício nenhum. Quanto mais morena eu fico mais eu gosto. Eu gosto é muito (…) Muito pelo contrário. Quanto mais morena estou, mais eu gosto. Adoro tomar sol (…) Mas é muita coisinha que incomoda. Mas se incomoda, tudo bem. Mas ficar falando disso, para quê? Todo mundo é igual, todo mundo merece o prêmio, se é branco, moreno, preto. São seres humanos“. [5]

Ivy complementou afirmando que tratar mal alguém por causa da cor de pele era atitude de pessoas doentes e que deveriam buscar ajuda. Trata-se da típica adoção de uma concepção individualista de racismo, ou seja, aquela que entende o fenômeno como derivado de uma patologia manifestada de modo restrito.  A participante repete discursos parecidos com os usados em muitas abordagens que o jornalismo esportivo faz quando trata de temas vinculados ao racismo. Ora o jornalismo esportivo – ou parte dele – entende que se trata de um assunto que não cabe ser discutidos nas mesas redondas, ora entende que o racismo é um ato “isolado” tanto no esporte quanto na sociedade brasileira. Marcelo …. Os perigos de se persistir nesse tipo de interpretação é não dar atenção ao fato de que em países como o Brasil o racismo se manifesta de modo estrutural, ou seja, ele é parte integrante da organização econômica e política da sociedade.  No Brasil, o racismo não é uma exceção, mas uma regra. Uma regra em nosso cotidiano, presente nas brincadeiras ofensivas, no nosso vocabulário e em comentários espontâneos como o que Gizelly fez ao ver a cor da maquiagem da participante Thelma.: “parece barro”.

Babu defendia ardentemente o empoderamento do preto. Quando a casa ficou mais vazia, Babu deu aulas incríveis sobre racismo partindo de um inquestionável local de fala. Ouvindo-o sempre me vinha a mente as primeiras palavras de Mário Filho, nas páginas iniciais do livro O Negro no Futebol “Há quem ache que o futebol do passado era bom. De quando em quando a gente esbarra com um saudosista. Todos brancos, nenhum preto”

A popularidade de Babu foi imensa e chegou aos jogadores de futebol, em especial, o ídolo Gabigol que imitou as danças do ator em uma das comemorações de gol. Babu é flamenguista, característica enfatizada várias vezes em seu perfil no Twitter

Fonte: Twitter.

Babu adora futebol e a torcida dos jogadores poderia muito bem ter se voltado para o seu lado, ao invés de Prior. Há tempos o ator dava mostras de uma personalidade muito mais interessante e progressista do que o arquiteto enraivecido, cheio de clichés de autenticidade. Babu sobreviveu a nove paredões, sendo eliminado no 10º por Thelma.

Os dois na casa eram aliados, mas seus perfis nas redes sociais passaram a trocar ofensas na última semana do programa. Thelma foi chamada de “mucama”, pois segundo alguns, ela se mostrava muito subserviente às mulheres brancas da casa. Em resposta, seu perfil postou #foraBabu. Os perfis fizeram as pazes depois, mas mostraram fissuras em um momento no qual a união contra o racismo era mais importante.

Thelma não possuía o perfil ativista de Babu, o que não significa que o racismo tenha deixado de lhe provocar dores dentro da casa do BBB e ao longo da sua vida. O racismo cria situações constrangedoras e não é tão simples julgarmos aquilo que consideramos como uma falta de posicionamento. Eu, branca, não me sinto nada à vontade de fazer esse tipo de leitura. Thelma foi uma das primeiras – e uma das únicas – a se aproximar de Babu e quase sempre reiterava que uma afinidade os unia.: eram os dois únicos participantes declaradamente negros do programa.

E Thelma chegou à final, ao lado de Manu e Rafaela. Três mulheres que protagonizaram momentos decisivos de enfrentamento ao machismo. Mas apenas uma delas representava afeminismo que também precisa ser antirracista. Para ela foi destinada a minha torcida e meus votos. A mobilização nas redes sociais foi grande contando até com a participação da atriz Viola Davis que retuitou a postagem de Thais Araújo:

Fonte: Catraca Livre.

O BBB tem formação de torcida – de fandoms – que se manifesta sobretudo nas mídias sociais. Quase todas as votações do BBB – com exceção da final – são feitas para eliminar alguém, ou seja, a raiva é um motor importante na mobilização das votações. Raiva que no futebol é sentimento fundamental. A socióloga Janet Lever não deixou de reconhecer que o futebol é um poderoso produtor de símbolos compartilhados e, por isso, os “pontos focais de hostilidade também unem as pessoas”.

É o clássico do ato de secar times rivais pelo simples prazer de ver a derrota alheia. Torcer no BBB é um constante ato de secar.

E os grupos de fãs do BBB fazem barulho e tem um forte poder de mobilização. Há uso de estratégias diversas, aliança com outras torcidas e uma razoável capacidade de persistência. O sistema de votação do programa possui uma proteção contra o uso de robôs, então é preciso paciência e disposição para passar horas votando. Uma mesma pessoa pode votar quantas vezes conseguir. No dia da final, eu votei em Thelma dez vezes, ou seja, quase nada.

Diferentemente do futebol, a torcida tem poder efetivo de influenciar no resultado do jogo. E esse fato pode redobrar o sabor da vitória. Por isso, quando Thelma foi anunciada como campeã, eu tive a certeza de que meus 10 votos fizeram a diferença.

A gritaria que podia ser ouvida nas janelas de diversas partes do país se assemelhava às comemorações de um gol. Mesmo sem o futebol, pudemos experimentar um pouco as delícias do torcer.

Para entender a vitória de Thelma, para entender mais sobre o BBB20 é preciso mergulhar no universo das mídias digitais no Brasil e seu poder de mobilização e formação de torcidas. Para entender o sucesso de programas como o BBB é importante ter em conta que somos um pais que adora novelas e futebol, todos cheios de heróis e vilões e diversos outros personagens que ajudam a conformam um espaço público de debates que outras instâncias não conseguem se desenvolver de modo tão efetivo. Debates muitas vezes repletos de respostas rápidas e julgamentos peremptórios feitos num espaço de tempo curto, mas movido a certezas que parecem eternas.

Discussões sobre futebol e BBB são bem parecidos e ambos refletem a dificuldade de se aceitar a ambiguidade dos fenômenos.

A vitória de Thelma, uma mulher negra que não vem de estratos sociais privilegiados e que se tornou médica, uma profissão formada em sua ampla maioria por brancos, traz certa esperança em um momento tão ruim pelo qual passamos. Essa esperança não significa uma compreensão simplista da realidade. A vitória de Thelma, obviamente, por si só não é indicativa de que a sociedade brasileira está melhor e que suas mazelas estão a caminho de serem solucionadas. O racismo e o machismo não vão desaparecer de um dia para o outro porque ambos são estruturais.  Mudanças se dão com processos às vezes lentos e sempre conflituosos.

Mas a impressão que tive acompanhando o BBB20 é a de que o futebol ainda é muito conservador. É lento na caminhada contra o machismo, não sem motivos Felipe Prior foi El Mago para diversos jogadores. Confesso que ainda não me sinto devidamente representada no esporte que tanto gosto e que em termos lógicos, não me faltaria motivos para detestá-lo, enquanto mulher.

Em relação ao racismo, o futebol aparenta ser mais progressista. Aparenta. Vemos o negro em campo, sendo ídolo de clubes, fazendo história na seleção brasileira, mas no âmbito do comando, o que inclui a ocupação de cargos vinculados a tomadas de decisão, os brancos são maioria. No jornalismo esportivo, o problema persiste. As manifestações racistas ainda ecoam nas arquibancadas do Brasil e do mundo, sem uma intervenção convincente da CBF e da Fifa.

Por isso, o BBB20 conseguiu me representar mais do que o futebol. E assim como o futebol, o BBB é um objeto fértil para pensarmos o mundo que nos rodeia.

 

Notas de Rodapé

[1] Os sentidos que a palavra “autenticidade” tem ganhado merecem um estudo futuro, aliás;

[2] Revista Marie Claire;

[3] Sobre esse tema ARRAUZA, Cinzia; BHATTACHARYA, Tithi; FRASER, Nancy. Feminismo para os 99%. Um manifesto. SP.: Boitempo, 2019;

[4] Fonte: El País Brasil;

[5] Isto é.

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