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Um Tabu com mais de 100 anos no Futebol brasileiro

“É isso mesmo. Enquanto o Campeonato do Nordeste e a Copa Sul-Minas vão digerir boa parte dos estaduais já em 2002, com o aval de clubes como Grêmio, Cruzeiro, Vitória e Sport, os campeonatos carioca e paulista devem segurar, pelo menos por mais um ano, a regionalização total do futebol brasileiro” (Revista PLACAR, 15.05.2001, p. 6).

A previsão falhou. Os campeonatos estaduais não foram digeridos. Renovaram-se e existem até hoje. As copas regionais, por outro lado, murcharam. O Rio-São Paulo e o Sul-Minas desapareceram. A Copa Centro-Oeste e a Copa Norte deram lugar à Copa Verde, um torneio de importância menor que conta até com a participação de algumas equipes semi-amadoras. Só a Copa do Nordeste manteve a mesma importância.

Então vamos falar de um campeonato estadual. Mais especificamente, do único campeonato estadual que ainda não teve um campeão do interior. É o campeonato carioca, um dos primeiros a serem realizados no Brasil. Começou em 1906.

Entre os seus campeões, estão quatro gigantes do futebol brasileiro (Flamengo, Fluminense, Vasco da Gama e Botafogo), os tradicionais América e Bangu e dois clubes pequenos, o São Cristóvão e o Paissandu. Todos da cidade do Rio de Janeiro.

Os clubes do interior, que mais chegaram perto de quebrar o tabu, foram o Americano e o Volta Redonda. São os únicos de fora da capital que chegaram a ser vice-campeões estaduais. Um, em 2002, e o outro, em 2005.

O Americano no Campeonato de 2002

O campeonato carioca de 2002 se viu cercado, desde o início, dos piores sentimentos. Foi ofuscado pelo Torneio Rio-São Paulo, naquela época em que os campeonatos estaduais pareciam prestes a serem engolidos e digeridos pelos regionais. A emissora de TV detentora dos direitos de transmissão decidiu não exibir suas partidas (em especial, as partidas das semifinais e da final, que foram realizadas no mesmo mês da Copa do Mundo 2002 Japão-Coreia do Sul). O regulamento da competição sofreu críticas severas e o presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, Eduardo Viana, voltou a ser tratado como o pai de todas as mazelas do futebol carioca (algo que já vinha acontecendo na imprensa há alguns anos, aliás). Aquele campeonato de 2002 parecia um campeonato amaldiçoado e fadado ao fracasso e à desgraça. Em alusão ao apelido Caixa d’Água, pelo qual era conhecido o presidente da Federação, o campeonato foi chamado de “Caixão 2002”.

Da cidade de Campos dos Goytacazes, veio a surpresa da competição. O Americano foi campeão da tradicional Taça Guanabara (primeira fase da competição) e da também tradicional Taça Rio (segunda fase da competição). Orgulho da torcida: foi o primeiro clube do interior a conquistar essas duas taças. É verdade que os clubes grandes, com presença garantida na terceira fase, não escalavam seus times titulares, o que ajuda a explicar por que os finalistas da Taça Rio foram Americano e Bangu. Mas os finalistas da Taça Guanabara foram Americano e Vasco da Gama. E entre os atletas vascaínos daquela decisão estavam os conhecidos Alex Oliveira, Léo Lima, Euler e Romário. O Americano venceu por 2 a 1, de virada.

Imagem 1: Americano, campeão da Taça Guanabara 2002.
(Fonte: internet)

Na terceira fase, o Americano estava no grupo A, ao lado de Bangu, Botafogo e Vasco da Gama. Ficou em primeiro lugar. Passou à fase seguinte (a semifinal) e superou o Friburguense. Assim, chegou à final ostentando um desempenho de enorme respeito. Vinte vitórias, quatro empates e nenhuma derrota, enquanto o seu adversário, o Fluminense, tinha doze vitórias e nove derrotas, além de cinco empates. Um desses empates foi contra o Bangu, na semifinal que virou escândalo. Os banguenses ficaram tão revoltados com a anulação do seu gol no fim da prorrogação que o clube impetrou uma ação judicial para anular a partida. O árbitro foi punido severamente. Não atuaria mais em competições da Federação de Futebol do Rio de Janeiro. Mas o público carioca pouco se importava com tudo isso. Estava preocupado mesmo era com a seleção brasileira, que jogou na Copa do Mundo um dia depois da semifinal entre Fluminense e Bangu. O Brasil venceu a Bélgica por 2 a 0 nas oitavas-de-final.

O processo judicial iniciado pelo Bangu só foi concluído em 2009. A semifinal não foi anulada.

O Fluminense, classificado para a final, adotou uma nova postura e transformou em prioridade máxima a conquista do título estadual. Era o ano em que o clube chegava ao seu centenário e a vitória daria realce à comemoração. Foi escalado o time titular para a decisão, disputada em duas partidas (ambas no Estádio do Maracanã, ambas sem exibição televisiva). E deu Fluminense. Vitória na primeira partida por 2 a 0 e na segunda por 3 a 1.

O campeão, em 28 partidas, juntou 47 pontos. O vice-campeão, com o mesmo número de partidas, juntou 64. O Americano nunca havia tido antes e não voltou a ter depois uma chance tão real de ser campeão do Estado. Vacilou na decisão, quando sofreu suas duas únicas derrotas no campeonato.

 Volta Redonda no Campeonato de 2005

No campeonato carioca de 2005, a surpresa foi o Volta Redonda. Chegou à final da Taça Guanabara (primeira fase do campeonato) e enfrentou o Americano. Aquela decisão, pela primeira vez com dois clubes de fora da capital, foi chamada de “Festa do Interior”. Confronto acirrado, só decidido na disputa por pênaltis, que o Volta Redonda venceu por 3 a 2.

Imagem 2: Volta Redonda, campeão da Taça Guanabara 2005.
(Fonte: GE – internet)

Na Taça Rio (segunda fase do campeonato), a capital se impôs. Um Fla-Flu decidiu o campeão em partida única. Vitória do Fluminense por 4 a 1.

Os campeões da Taça Guanabara e da Taça Rio partiram para a grande decisão estadual, em duas partidas no Estádio do Maracanã. E foi emocionante.

O Fluminense começou vencendo a primeira partida por 2 a 0 e parecia que o Volta Redonda seria tranquilamente reduzido à sua condição de clube pequeno. Veio, então, a reação surpreendente. O time do interior marcou quatro gols e o Fluminense só conseguiu diminuir para 4 a 3 aos 43 minutos do segundo tempo. O carismático Túlio, que havia feito história no Botafogo, agora fazia das suas no Volta Redonda e provocava os rivais com frases marotas após a vitória.

Na segunda partida, com mais de 63.000 torcedores no estádio, o Volta Redonda precisava apenas do empate para ser campeão e melhorou ainda mais a sua situação ao marcar 1 a 0 no início do primeiro tempo. Desde 2003 o time não perdia por dois gols de diferença. Sua torcida vibrava e sentia que o tabu estava caindo. Era um momento histórico.

Eis a decepção: o Fluminense empatou o jogo no fim do primeiro tempo e virou o jogo com um gol de Marcão. Aos 47 minutos do segundo tempo, quando todos já se preparavam mentalmente para uma dramática disputa por pênaltis, o goleiro Lugão falhou e permitiu a cabeçada de Antônio Carlos, que marcou o terceiro gol tricolor. Repetindo: o Volta Redonda não perdia por dois gols de diferença desde 2003. Deixou acontecer justamente na partida que o colocaria na história do futebol carioca e fluminense.

O técnico do Volta Redonda, Dário Lourenço, reclamou com dureza do árbitro. Também achou péssimo que o zagueiro Schneider e o goleiro Lugão tenham chegado a um acerto contratual com o Fluminense antes da partida. Um acerto que virou notícia. “Isso abalou os jogadores”, declarou Dário. Os jogadores do Fluminense, por sua vez, desabafavam e faziam graça com Túlio, que tanto os havia provocado.

Para quem acredita que uma espécie de barreira psicológica abate os jogadores de times pequenos em grandes decisões, o caso do Volta Redonda em 2005 é exemplar.

Os campeonatos cariocas de 2002 e 2005 foram os únicos em que clubes do interior se sagraram vice-campeões.

O campeonato carioca ainda é o único estadual do Brasil que nunca teve, como campeão, um clube de fora da capital. Alguns dizem que quando esse tabu cair, aí sim, o campeonato carioca poderá ser extinto. Outros dizem que quando isso acontecer, aí teremos certeza: o campeonato jamais será extinto.

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Quem venceu as invencíveis do Esporte Clube Radar?

Estamos em época de decisão do Campeonato Brasileiro de futebol feminino (Corinthians e Internacional se enfrentam na final) e, mais uma vez, haverá bons debates sobre o desenvolvimento profissional dessa prática esportiva no país. Quanto o futebol feminino brasileiro já avançou? Em que velocidade pode, realmente, continuar avançando? O quanto a CBF deve ajudar?

Nesses debates, inevitavelmente fala-se no que já foi feito, ou seja, comentam-se os êxitos do passado. E logo surge a lembrança do Esporte Clube Radar, o time que foi um fenômeno do futebol feminino brasileiro na década de 1980.

Mas já se falou muito sobre a hegemonia quase absoluta do Radar naquela época. Vamos variar um pouco, então. Falemos daqueles que desafiaram aquela hegemonia e ousaram vencer o time que foi hexacampeão brasileiro de 1983 a 1988.

O Radar nunca foi derrotado?

“O Radar jamais perdeu uma partida”. Essa é a lenda que consagra a imagem do time imbatível. No filme-documentário sobre a equipe (“Radar! Um time! Uma Nação!”, direção de Douglas Lima e Jefferson Rodrigues), é dita uma frase com esse tom de invencibilidade: “Que eu me lembre, no Radar, nós nunca perdemos um jogo”.

Mas está registrado: o Radar foi derrotado, sim. Poucas vezes, mas foi.

O Radar foi derrotado duas vezes?

Na internet, é comum ler que o Radar foi derrotado apenas duas vezes. Alguns sites, porém, corrigem essa informação: foram duas derrotas nas 71 partidas internacionais, não no total de partidas disputadas pela equipe.

As duas derrotas internacionais foram sofridas diante de equipes dos Estados Unidos. A primeira foi no ano de 1985, em um “Mundialito” disputado na cidade de Cabo Frio (Rio de Janeiro). O Radar, representando o Brasil, foi derrotado por uma equipe chamada Ajax Soccer Club (da Califórnia), que representava os Estados Unidos. O resultado foi 1 a 0.

A segunda derrota, em 1986, aconteceu em outro “Mundialito”, disputado na Itália. Dessa vez, não houve uma equipe representando os Estados Unidos. A própria seleção norte-americana disputou o torneio e venceu o Radar (que novamente representava o Brasil) pelo placar de 2 a 1.

Atletas do Ajax Soccer Clube, que venceu o Radar no Mundialito de 1985, em Cabo Frio (Revista Placar, 22/02/1985)

O Radar foi derrotado quatro vezes? Ou cinco?

Em 1996 (sete anos depois do Radar encerrar suas atividades), uma reportagem da revista Placar informou que a equipe havia sofrido, ao todo, “apenas quatro derrotas em trezentas partidas disputadas” (edição 1119). Então, seriam as duas derrotas internacionais já citadas e outras duas contra equipes brasileiras. A própria revista Placar, em outra edição (n. 767), já havia informado quais eram essas equipes: o Bangu e a seleção do Pará.

Acontece que a mesma revista Placar também já citou cinco derrotas do Radar, não quatro. Essa informação está na edição 848, de agosto de 1986. Pode ter sido um equívoco da revista. Ou há uma quinta derrota desconhecida do Radar em sua vitoriosa história?

Problema grave para quem quer pesquisar esse assunto é a falta de fontes. Os feitos do Radar foram muito mal registrados. O clube foi hexacampeão brasileiro, mas sua história não está assentada nos arquivos da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, da CBF e de várias outras instituições. Não se sabe com exatidão se o Radar foi derrotado quatro, cinco ou quantas vezes mais. É nesse ambiente nublado pela inexatidão que surge a versão lendária do “time que nunca perdeu” ou que perdeu apenas duas vezes. Versão repetida várias vezes e, naturalmente, absorvida por parte da imprensa e pela internet, mesmo que as escassas fontes existentes a contrariem.

Sobre a derrota do Radar diante da seleção do Pará, quase nada se sabe. Poderia (ou deveria) ser louvada pelos futebolistas paraenses como uma das vitórias mais gloriosas do futebol de seu Estado, mas o feito, lamentavelmente, caiu em esquecimento.

Já a derrota diante do Bangu foi muito melhor registrada. 

Bangu x Radar em 1983

Em 1983, o futebol feminino foi regulamentado pelo Conselho Nacional de Desportos (CND). Antes, era uma prática formalmente ilegal. Depois da regulamentação, surgiu uma onda de interesse e entusiasmo. No mesmo ano, foi realizada a primeira Taça Brasil de futebol feminino e, em seguida, o primeiro campeonato carioca. A imprensa, animada, noticiou bastante.

Na Taça Brasil, o Radar foi campeão com certa facilidade. Disputou apenas duas partidas e não levou nenhum gol. Na decisão, venceu por 5 a 0 a equipe do Ponto Frio, de Goiás (uma partida que terminou em pancadaria e expulsão de todas as jogadoras da equipe goiana). No campeonato carioca, foi diferente: o bicheiro Castor de Andrade, patrono do Bangu Atlético Clube, decidiu montar um time capaz de se impor perante o Radar. A competição, com duas equipes fortes, tornou-se interessante.

O Radar, invicto, foi o campeão do primeiro turno. Continuou invicto no segundo turno, mas empatou com seus adversários em quatro partidas e o campeão foi o Bangu, que venceu mais e somou mais pontos.

Assim seria a decisão: o campeão do primeiro turno contra o campeão do segundo, em melhor-de-três. Na primeira das três partidas decisivas, o Bangu venceu por 1 a 0. Segundo o Jornal dos Sports, aquela foi a primeira derrota sofrida pelo Radar desde a sua fundação. Castor de Andrade, certamente, se orgulhou muito pela vitória do seu clube. Mas o título de campeão carioca feminino ficou com o Radar, que venceu a segunda partida por 1 a 0 e a terceira por 3 a 0. 

Para piorar, a disputa entre Bangu e Radar que se tornou mais conhecida em 1983 não foi nenhuma das três partidas decisivas do campeonato carioca. Foi a que decidiu o primeiro turno, semanas antes. Terminou com uma invasão de campo e perseguição feroz ao árbitro Ricardo Durans. Os perseguidores eram todos ligados ao Bangu. Até Castor de Andrade correu atrás de Durans, que foi agredido e quase terminou linchado. No dia seguinte, o acontecimento foi comentado nos jornais, rádios e TVs de todo o país. O Bangu não foi campeão e ainda ficou mal falado.

Ficou mal falado, mas entrou na galeria heroica dos poucos times femininos que conseguiram vencer o Radar.

Se o Radar ostentava com orgulho a imagem de time imbatível, imagine o quanto podem se orgulhar aqueles que, desafiando a lógica, venceram o time invencível.

Perseguição ao árbitro Ricardo Durans (Jornal dos Sports, 13/10/1983)
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Sanções esportivas: Rússia hoje, outros antes

Contra a invasão russa na Ucrânia, impõem-se sanções. Várias. Inclusive esportivas.

Sanções esportivas não têm tanto impacto quanto sanções econômicas, claro. A escassez de recursos econômicos é muito mais grave do que a impossibilidade de disputar competições esportivas. Mas quando há o objetivo de isolar e desmoralizar um determinado país ou região, sanções esportivas internacionais podem ser decisivas, porque explicitam esse isolamento e desmoralização, ou seja, explicitam que aquele país ou região se tornou um pária para a comunidade de nações (ou está a caminho de se tornar). O caso mais lembrado, evidentemente, é o da África do Sul, que sofreu sanções de quase todas as entidades esportivas globais como reação ao seu regime de apartheid, condenado universalmente.

África Do Sul: o país que foi um pária do esporte mundial

Em 1964, a África do Sul foi impedida de disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio. O mesmo aconteceu em 1968, nos Jogos Olímpicos da cidade do México. Em 1970, o país foi definitivamente expulso do COI. Uma expulsão com enorme impacto simbólico, sem dúvida. O COI, afinal, era uma das entidades mais conhecidas e respeitadas do planeta.

Já na FIFA, houve um pouco mais de dificuldade. Em 1961, a FIFA suspendeu a África do Sul pela primeira vez, mas o presidente da entidade, Stanley Rous, discordava dessa suspensão. Achava melhor buscar outra solução e reintegrou os sul-africanos em 1963. No ano seguinte, uma nova suspensão foi aprovada pela Assembleia Geral. O assunto era um foco de divergências entre os membros da FIFA. A expulsão, enfim, foi aprovada apenas em 1976, dois anos depois de João Havelange ser eleito presidente da FIFA (com amplo apoio dos representantes africanos, que exigiam aquela expulsão).

Até o fim da década de 1970, a maioria das entidades esportivas internacionais impôs punições específicas, suspensões ou expulsões à África do Sul. Envolver-se em competições com outros países passou a ser cada vez mais difícil para os sul-africanos. Em 1976, a seleção de rugby da Nova Zelândia disputou partidas na África do Sul. Em reação, vários países africanos exigiram do COI que os neozelandeses fossem expulsos das Olimpíadas daquele ano, com sede na cidade de Montreal. O COI, sustentando-se em argumentos jurídicos, não atendeu à exigência, o que provocou um grande boicote aos Jogos Olímpicos, com a adesão de 25 países africanos, acompanhados por Iraque e Guiana. Logo no ano seguinte, a comunidade britânica de nações chegou a um acordo interno que recomendava com veemência um boicote esportivo de todos os seus membros à África do Sul. Foi o chamado Acordo de Gleneagles. 

Em 1980, já havia sido atingido o objetivo de tornar a África do Sul um país-pária na comunidade esportiva mundial. Os sul-africanos participavam de poucos eventos esportivos internacionais e, quando conseguiam participar, era comum que houvesse protestos, como no ano de 1981, quando a seleção de rugby do país disputou uma série de partidas na Nova Zelândia e nos Estados Unidos. As manifestações contra essas partidas foram tamanhas que a última disputa foi realizada quase em segredo, em uma pequena cidade do Estado de Nova York, com a presença de apenas 30 torcedores. Consolidando ainda mais toda a pressão contra o regime segregacionista sul-africano, a ONU aprovou, em 1985, uma Convenção Internacional contra o Apartheid nos Esportes.

Protesto de neozelandeses contra a excursão da seleção sul-africana de rugby em 1981. Fonte: internet

Com a extinção do regime de apartheid, entre 1990 e 1994, a África do Sul passou a ser aceita em todas as entidades esportivas internacionais. Em 1992, esteve presente nas Olimpíadas de Barcelona, após 32 anos de sua última participação.

Rodésia: expulsa das Olimpíadas em votação apertada

Um caso menos conhecido é o da Rodésia na década de 1970.

Em 1965, um governo rodesiano, amparado pela minoria de origem britânica, proclamou a independência da região. Em 1970, adotou o regime republicano. A comunidade internacional, porém, não reconheceu o novo país, pois estava consolidada a ideia de dar respaldo, no continente africano, apenas a governos formados pela maioria nativa.

Mesmo sem ser reconhecida internacionalmente, a Rodésia foi admitida pelo COI nos Jogos Olímpicos de 1972, com algumas condições (entre elas, a de que participassem como um território colonial britânico e sob a antiga bandeira colonial da Rodésia do Sul). As condições foram aceitas.

Os países africanos protestaram. Alegaram que a Rodésia era um Estado ilegal, não reconhecido internacionalmente e de viés racista. Sua delegação, portanto, deveria ser expulsa dos Jogos Olímpicos. Caso contrário, haveria um boicote das nações africanas. O presidente do COI, Avery Brundage, resistiu à pressão, mas o assunto foi à votação no comitê executivo da entidade faltando apenas quatro dias para a abertura do evento. Em decisão apertada, foi aprovada a expulsão da Rodésia: 36 votos a favor, 31 contra e três abstenções. Avery Brundage se mostrou indignado: “As pressões políticas no esporte estão se tornando intoleráveis”. Para alguns dirigentes do COI, a delegação da Rodésia, formada por atletas brancos e negros, era um exemplo de bom convívio entre etnias e deveria ser protegida, não expulsa.

Avery Brundage, Presidente do COI em 1972. Fonte: internet

A expulsão da Rodésia dos Jogos Olímpicos de 1972 ajudou a isolar o país, que se dissolveu no fim daquela mesma década de 1970. Após diversas negociações diplomáticas, foi oficializada, em 1980, a República do Zimbábue, um novo Estado independente, com governo formado pela maioria nativa africana e reconhecido internacionalmente.

Naquele mesmo ano de 1980, o Zimbábue participou das Olimpíadas de Moscou. Conquistou uma medalha de ouro no hóquei sobre a grama feminino.

Iugoslávia: “geração roubada pela guerra”

Em 1992, o conflito envolvendo as repúblicas que formavam a Iugoslávia deu origem a um caso de sanção esportiva internacional que chamou muita atenção à época.

O Conselho de Segurança da ONU aprovou, no fim de maio, a Resolução 757, que impunha sanções ao governo iugoslavo sediado em Belgrado. Parte da resolução abordava a exclusão dos iugoslavos de competições esportivas. Estava comprometida, então, a participação da Iugoslávia na Eurocopa daquele ano, cuja sede seria a Suécia. O início da competição estava marcado para poucos dias depois de aprovada a sanção.

Os dirigentes da FIFA e da UEFA preferiam manter os iugoslavos na Eurocopa. Discordavam da interferência política em assuntos esportivos e havia uma situação relevante a considerar: apesar do técnico e de alguns atletas terem abandonado a delegação em razão do conflito militar, a seleção iugoslava continuava pluriétnica. O técnico substituto era croata e havia jogadores sérvios, montenegrinos, eslovenos e bósnios. Aquela equipe podia ser considerada um símbolo de tolerância e convívio, ao contrário dos ódios que moviam o conflito na Iugoslávia. 

Seleção da Iugoslávia (1992). Fonte: internet

Apesar das preferências dos dirigentes, a resolução do Conselho de Segurança da ONU não podia ser ignorada. A delegação iugoslava, que já estava hospedada na Suécia, foi excluída da Eurocopa. Os jogadores e a comissão técnica, após receberem a notícia, se prepararam para deixar o país, mas encontraram dificuldades, já que o tráfego aéreo rumo a Belgrado estava proibido, em razão do isolamento político e diplomático da Iugoslávia. Depois de algum esforço de negociação, puderam viajar, sentindo-se injustiçados e um tanto humilhados. A seleção da Dinamarca foi convocada às pressas para substituir o time excluído.

Foi convocada às pressas e surpreendeu. Terminou campeã, vencendo a Alemanha na final por 2 a 0.

A sanção esportiva contra a Iugoslávia permaneceu em vigor até abril de 1996. Foi considerada pela comunidade internacional uma sanção legítima, tendo em vista as atrocidades que chocaram o mundo durante o conflito entre as repúblicas iugoslavas. Mas também sofreu críticas. Os defensores da separação entre política e esporte ficaram extremamente contrariados nesse caso. Os atletas que foram impedidos de jogar pela Iugoslávia em 1992 reclamaram amargamente nos anos seguintes. Considerado um time de grande qualidade, com chance de entrar para a história do futebol mundial, já foram chamados de “geração roubada pela guerra”.

Em 1998, com a seleção da Iugoslávia classificada para a Copa do Mundo da França, novas sanções esportivas foram exigidas por parte da opinião pública europeia. O motivo para essas novas sanções seria o conflito do Kosovo. Dessa vez, porém, os iugoslavos foram mantidos na competição. Chegaram às oitavas-de-final e terminaram em décimo lugar.

Rússia: o novo pária do esporte internacional

A invasão russa à Ucrânia teve início em fevereiro. Rapidamente, foram impostas sanções esportivas. O COI proibiu a participação da Rússia em suas competições. Atletas e equipes russos ainda poderão ser admitidos, mas como participantes individuais, não como representantes do seu país. Diversas outras entidades esportivas internacionais aprovaram suas próprias sanções: ginástica, ciclismo, tênis, atletismo, judô, automobilismo e outras.

A FIFA impôs sanções severas. Nas Eliminatórias da Europa para a Copa do Mundo de 2022 (Catar), a seleção da Rússia estava classificada para a fase de repescagem. Seu adversário seria a Polônia. A partida, porém, foi cancelada e a Rússia foi sumariamente desclassificada. A seleção feminina também foi excluída de todas as competições, assim como todos os clubes de futebol do país.

O esporte russo, em cerca de dois meses, foi reduzido à situação de pária internacional.

As sanções estão em sintonia com o clamor antirrusso que se ergueu poderosamente na comunidade internacional depois de iniciada a invasão. Mas também há críticas e questionamentos. Alguns comentaristas perguntam por que outros países, que também se envolvem em conflitos armados e desrespeitam violentamente os direitos humanos, não sofrem sanções semelhantes. A Arábia Saudita e o Irã, por exemplo, estão envolvidos (inclusive militarmente) na guerra civil do Iêmen, que atormenta a população local há oito anos. Há denúncias graves de crimes de guerra. As seleções saudita e iraniana estão classificadas para a Copa do Mundo do Catar e, evidentemente, participarão sem qualquer objeção por parte da FIFA. Outros questionam a sustentação legal para se impor sanções a entidades esportivas russas que não tiveram absolutamente nenhuma responsabilidade pela decisão de invadir a Ucrânia. Os dirigentes esportivos russos pretendem levar esse questionamento à Corte Arbitral do Esporte.

Separar o esporte da política é uma atitude pluralista, pois se baseia na ideia de que a comunidade esportiva deve acolher atletas de todas as convicções (e também de todos os países, independentemente da ideologia ou do sistema político que os regem). Mas quando a realidade se agita, as tensões se aguçam e surge uma onda de indignação, esse pluralismo pode recuar (e dizem alguns que se trata de um recuo muito justo e sadio). As autoridades esportivas da Rússia continuarão defendendo a louvável separação entre esporte e política, mas já perceberam o tamanho do recuo que os colocou em posição de isolamento quase total. E sabem que enquanto houver invasão, esse recuo não muda. Talvez piore.

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Atlético de Alagoinha: o bicampeão improvável e o seu polêmico presidente

Vem da Bahia uma das histórias mais surpreendentes do futebol brasileiro atual. Mais especificamente, de uma cidade chamada Alagoinhas.

O Atlético de Alagoinhas (cujo nome oficial é Alagoinhas Atlético Clube) foi fundado como clube profissional em 1970 e não demorou para chegar à decisão do Campeonato Baiano. Em 1973, disputou o título de campeão estadual contra o Bahia, que venceu a final por 2 a 0. Os atleticanos só voltariam a uma decisão estadual 47 anos depois. Fez história nas décadas seguintes como um time pequeno do interior nordestino. Uma história de poucos recursos, muita dificuldade e resultados pífios, como é comum de acontecer com os times de cidades menores.

Ser dirigente de um clube como esse não é o grande sonho de nenhum futebolista. Tanto é assim que o Atlético, em 2019, passou por uma eleição sem candidatos para a sua presidência. A situação foi contornada com um acordo interno, que deu origem à candidatura única de Albino Leite.

Aqui a história começa a ficar interessante.

Albino Leite não se destaca por ser um dirigente de ideias muito modernas. Não é um gestor de clube-empresa. Seu estilo é mais parecido com o de Eurico Miranda. Está longe de ser um gerente frio e calculista que faz a análise ponderada da conjuntura e toma decisões racionais. Albino é passional, polêmico, brigão e vive se metendo em confusão.

Em pleno ano de 2020, quem apostaria em um dirigente desse tipo?

Mas o Atlético de Alagoinhas surpreendeu naquele ano e, pela segunda vez em sua história, chegou à decisão do Campeonato Baiano. Na final, novamente o Bahia, assim como em 1973. Foram dois empates nas duas partidas decisivas e as equipes partiram para a disputa por pênaltis. O Bahia venceu por 7 a 6. E logo depois o presidente Albino polemizou: reclamou da arbitragem e cogitou uma anulação da partida decisiva.

“Eu não posso falar que foi garfado. Solicitei as imagens do VAR. Enquanto não tiver isso na mão, não posso ter um resultado do meu ponto de vista. Preciso analisar. Mas se essa bola [do gol do Bahia] tiver realmente 100% fora, meu irmão (sic), aí as ações jurídicas e esportivas vão ter de trabalhar, trabalhar direitinho”.

Albino Leite, após a final do Campeonato Baiano de 2020

E lá foi o Atlético de Alagoinhas disputar a Série D de 2020. O vice-campeão baiano, passando por dificuldades econômicas (como de costume), não chegou às fases finais. Albino Leite resolveu desabafar. Em um vídeo, após uma partida contra o Bahia de Feira, o presidente reclamou da torcida do próprio time, que chamava de amadora a diretoria do Atlético. Em seguida, anunciou a conta bancária do clube e pediu dinheiro: 50 reais de cada torcedor.

Albino Leite no dia em que pediu 50 reais para cada torcedor do Atlético de Alagoinhas.

“É a hora de ajudar nossos atletas, que são pais de família. Eu já não estou aguentando mais, eu preciso pagar a folha dos jogadores”.

Albino Leite, após vitória diante do Bahia de Feira na Série D de 2020

Fácil perceber que o Atlético de Alagoinhas, mesmo sendo vice-campeão estadual, continuava sendo uma aposta arriscada.

Aposta arriscada, mas em 2021 lá estava o clube, novamente, na final do Campeonato Baiano. O Atlético enfrentou o Bahia de Feira. Empatou a primeira partida, venceu a segunda e se sagrou campeão baiano pela primeira vez em sua história. Albino Leite, consagrado, entrou em confusão poucos dias depois.

Segundo um radialista da cidade de Alagoinhas, os jogadores campeões de 2021 não haviam recebido a premiação conforme combinado. Albino foi à rádio falar do assunto, discutiu com o radialista, o bate-boca viralizou na internet e aumentou a fama do presidente do Atlético fora da Bahia.

Atlético e Albino seguiram em frente. Na primeira Copa do Nordeste do clube, em 2022, as perspectivas não eram muito otimistas, mas o time conseguiu passar da primeira fase. Um êxito que foi bastante comemorado. O Atlético foi desclassificado logo em seguida, ao enfrentar o Fortaleza, quarto colocado da Série A de 2021 e classificado para a Libertadores da América de 2022. O Fortaleza, aliás, foi o campeão daquela Copa do Nordeste. Confusão envolvendo Albino Leite? Sim, a Copa do Nordeste também teve. Após a partida entre Atlético de Alagoinhas e Ceará, em fevereiro, o presidente do clube baiano foi denunciado por ter invadido o vestiário dos árbitros e os ameaçado de morte. Albino negou que isso tivesse ocorrido. Segundo uma nota divulgada à imprensa, ele assumiu que “cobrou, sim, com veemência a arbitragem”, mas sem invadir vestiário ou fazer ameaças de morte.

Doze dias depois da desclassificação na Copa do Nordeste diante do Fortaleza, lá estava o Atlético, pela terceira vez seguida, na final do Campeonato Baiano. O adversário dessa vez era o Jacuipense. Na primeira partida da decisão, em Alagoinhas, houve empate em 1 a 1. Logo no dia seguinte, foi anunciada a demissão do diretor de futebol do Atlético, Luiz Matos. Como era de se esperar, surgiram comentários de crise interna, mas o clube declarou oficialmente que o diretor se demitiu por questões pessoais.

A situação era um tanto problemática: diretor de futebol recém-demitido, suspeita de crise interna e partida decisiva no estádio do adversário (que havia sido o primeiro colocado na primeira fase da competição). O Atlético, mais uma vez, parecia ser a aposta mais arriscada. Pois bem: o time foi ao município de Riachão do Jacuípe, venceu a decisão por 2 a 0 e se tornou o primeiro clube do interior baiano a ser campeão estadual duas vezes seguidas.

Atlético de Alagoinhas, campeão baiano de 2021.

O Atlético de Alagoinhas, certamente, não está muito acima dos outros clubes baianos. Falta-lhe dinheiro, sobram incertezas. Diante do Bahia e do Vitória, continua sendo um nanico. Inspira pouca confiança. E quem imaginaria que o clube presidido pelo agitado Albino Leite acumularia êxitos por três anos consecutivos?

O Atlético acumulou: chegou a três decisões seguidas do campeonato estadual e venceu duas. Quem puder que explique.

Albino Leite, aliás, poderia ser reeleito com alguma facilidade para a presidência do clube. Já declarou que não se candidatará. Talvez surja alguma polêmica em razão dessa declaração. Tudo bem: de polêmica, ele entende.

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Futebol nordestino e taça Libertadores: uns chegaram, outros quase

E o Fortaleza, quem diria, chegou à Taça Libertadores da América. Um clube que em 2017 ainda estava na Série C.

Foi uma ascensão meteórica. Subiu à Série B de 2018, depois à Série A de 2019 e se impôs como um clube que desafiava os grandes do país. Ficou em quarto lugar nessa Série A de 2021. É o quarto clube nordestino a chegar na prestigiada competição continental. Antes, apenas Bahia, Náutico e Sport haviam se classificado.

Participações nordestinas, em 62 disputas da Libertadores (de 1960 a 2021), foram apenas seis. O Bahia esteve na competição três vezes (1960, 1964 e 1989), o Sport duas (1988 e 2009) e o Náutico uma (1968). É fácil perceber, então, que a Libertadores, para o futebol do Nordeste, é uma raridade. Chegar lá é um feito merecedor de enorme comemoração, exatamente como fez o time e a torcida do Fortaleza.

“Libertadores, prazer, soy Fortaleza” (foto: Jornal do Ceará)

Para os nordestinos que ainda não chegaram à Libertadores, fica a frustação. Frustração por não participar de uma competição que ganhou (e continua ganhando) cada vez mais importância com o passar dos anos. E o que é mais grave para alguns torcedores: fica também o amargor de ver o arquirrival se vangloriar da sua façanha. Um amargor que se torna ainda pior para os que já chegaram muito perto de também se classificarem, mas perderam a chance. É o caso do Santa Cruz, do Ceará e do Vitória.

O Santa Cruz chegou perto da Libertadores no ano de 1975, durante a disputa do Campeonato Brasileiro. Depois de começar com um desempenho mediano na primeira fase, o time melhorou nas duas etapas seguintes da competição e se classificou à semifinal, que seria disputada em partida única contra o Cruzeiro. O local do jogo seria o estádio do próprio Santa Cruz (o Estádio do Arruda).

Três dias antes da partida contra o Cruzeiro, o Santa Cruz havia vencido o Flamengo no Estádio do Maracanã por 3 a 1. Foi essa vitória que classificou o time para a semifinal, além de eliminar os flamenguistas da competição. O entusiasmo depois dessa partida contagiou a torcida em Recife.

O Santa Cruz, então, vinha de uma empolgante vitória no Rio de Janeiro e precisava de um novo êxito em seu próprio estádio para chegar à final do Campeonato Brasileiro (e, consequentemente, se classificar à Libertadores do ano seguinte). Parecia bem possível e alguns achavam que não seria tão difícil.

Mas o jogo foi duro e estava empatado em 2 a 2 aos 45 minutos do segundo tempo. Foi quando o cruzeirense Palhinha marcou o terceiro gol do seu time. O Cruzeiro classificou-se à decisão e o Santa Cruz perdeu a oportunidade de ir à Taça Libertadores da América. Oportunidade que não se repetiu mais na história do clube.

Flamengo 1 X 3 Santa Cruz (Maracanã, 1975) Imagem: Museu da Pelada (internet)

O Santa Cruz não chegou à final, mas o Vitória, de Salvador, chegou. E chegou duas vezes.

Primeiro, chegou à final do Campeonato Brasileiro de 1993, mas naquele ano apenas o campeão se classificava à Libertadores, ao lado do campeão da Copa do Brasil. O Vitória, então, precisava vencer o seu adversário na decisão. Era o Palmeiras. Nas duas partidas da final, os palmeirenses venceram. Por 1 a 0 (em Salvador) e por 2 a 0 (em São Paulo).

Em 2010, o Vitória chegou novamente a uma decisão que valia vaga na Taça Libertadores. Dessa vez, era a final da Copa do Brasil. O adversário, assim como em 1993, era um time paulista: o Santos, que já contava com o talento de Neymar. Na primeira partida da final, em Santos, o time local venceu por 2 a 0. A segunda partida, em Salvador, foi vencida pelo Vitória, mas por 2 a 1, o que deu o título de campeão ao Santos pelo saldo de gols da final. 

Além dessas duas decisões nacionais, o Vitória esteve perto da competição sul-americana em mais duas oportunidades: 1999 e 2013.

Em 1999, o clube chegou à semifinal do Campeonato Brasileiro, Caso passasse à final, estaria classificado para a Libertadores. Mas foi desclassificado pelo Atlético Mineiro em uma partida realizada no Estádio Barradão, o estádio do próprio Vitória, que recebeu naquela noite mais de 30.000 torcedores. Os atleticanos venceram a terceira partida da semifinal pelo acachapante placar de 3 a 0.

Em 2013, os quatro primeiros colocados do Campeonato Brasileiro classificavam-se para a Libertadores do ano seguinte. O time de Salvador chegou à última rodada com chances de terminar a disputa exatamente em quarto lugar, mas precisava derrotar o seu adversário. Esse adversário era, de novo, o Atlético Mineiro. A partida, em Belo Horizonte, terminou empatada em 2 a 2 e o Vitória, afinal, ficou na quinta colocação, dois pontos a menos do que o Botafogo, que foi o quarto colocado. Decepção rubro-negra mais uma vez.

Palmeiras 2 X 0 Vitória (final do Campeonato Brasileiro de 1993) Imagem: YouTube

O Ceará teve sua grande chance de ir à Libertadores no ano de 1994, quando chegou à final da Copa do Brasil. O adversário nas duas partidas da final foi o Grêmio. Em Fortaleza, a primeira partida terminou empatada em 0 a 0.

Na segunda partida, em Porto Alegre, o Grêmio marcou um gol logo aos 3 minutos de jogo. Aos 31 minutos do segundo tempo, deu-se o lance que revolta os torcedores do Ceará até hoje: Sérgio Alves foi derrubado na área adversária e o seu time exigiu a marcação do pênalti. O árbitro Oscar Roberto de Godoy considerou o lance normal e, diante das reclamações, deu cartão vermelho ao próprio Sérgio Alves. Outro jogador do Ceará, Vitor Hugo, também recebeu cartão vermelho pouco depois, o que deixou o time cearense em condição de desvantagem irremediável. O resultado final foi 1 a 0 para o Grêmio. Mais de 25 anos depois, os protestos cearenses contra a arbitragem ainda continuam.

Grêmio 1 X 0 Ceará (final da Copa do Brasil de 1994) Foto: jornal O Povo (Ceará)

O Ceará só voltou a estar perto de se classificar para a Libertadores nos dois últimos Campeonatos Brasileiros: 2020 e 2021. Em 2020, porém, o time chegou à última rodada do campeonato já sem chance matemática de classificação. Em 2021, foi um pouco diferente.

Na 33ª rodada da Série A de 2021, o Ceará impôs uma goleada por 4 a 0 ao rival Fortaleza. O placar empolgou a sua torcida e colocou o time na luta pela classificação à Libertadores. Mas nas cinco rodadas seguintes, que ainda restavam até o fim do campeonato, o Ceará vacilou e obteve apenas uma vitória. Em sua última partida, contra o Palmeiras, precisava vencer para ainda ter a chance de ficar em oitavo lugar e, assim, conquistar uma vaga na Libertadores de 2022. Foi derrotado e ficou em 11º lugar. A goleada de 4 a 0 diante do Fortaleza de nada adiantou.

Chegar perto e não se classificar é frustrante, mas os clubes e suas torcidas não desistem porque sabem que essa não é uma opção.

O próprio Fortaleza, que hoje comemora sua primeira classificação para a Libertadores, serve de exemplo. O clube conheceu bem essa experiência de chegar perto, mas não se classificar. Na Taça Brasil de 1960, foi o vice-campeão. Naquela ocasião, porém, apenas o campeão era indicado para a Libertadores. Na Taça Brasil de 1968, o Fortaleza voltou a ser o vice-campeão e poderia, com justiça, ser indicado junto com o campeão (o Botafogo) para a Taça Libertadores de 1969. Mas aquela Taça Brasil de 1968 apresentou sérios problemas e sofreu um atraso fora do comum. Chegou ao fim apenas em outubro de 1969. O Brasil, assim, ficou sem representantes na Libertadores daquele ano.

O Fortaleza, com direito a ir à Libertadores em 1969, não foi. Mais de meio século depois, tem direito a ir novamente. “Dessa vez vai jogar”, como disse Cassio Zirpoli.

Serve de inspiração, talvez, para Santa Cruz, Vitória, Ceará e outros.

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O fardo de Ramírez

O jogador Ramírez. Reprodução: Internet

O racismo é uma atitude detestável.

E precisa ser combatido.

Dito isso (são as duas primeiras frases deste artigo), é importante dizer também que a luta contra o racismo não se faz com injustiças.

O atleta colombiano Juan Pablo Ramírez Velásquez (também conhecido como Índio Ramírez), do Esporte Clube Bahia, carrega um fardo de injustiça que já não devia mais estar em suas costas.

Foi acusado, em dezembro de 2020, de ter praticado racismo em uma partida contra o Flamengo pelo Campeonato Brasileiro. Teria ofendido com injúria racial o jogador Gerson. Ramírez negou.

O colombiano foi afastado do time pela direção do próprio Bahia. O clube, sem demora, contratou peritos para analisar o caso. Esses peritos não encontraram nenhuma prova de que houve injúria racial. O presidente do Bahia, diante disso, reintegrou o atleta ao time. “A gente se esforçou, esforçou e não conseguiu identificar uma outra prova ou circunstância além da palavra da vítima”.

Nem os peritos contratados pelo Bahia, nem qualquer outra investigação comprovou a prática de racismo por parte de Ramírez. O STJD, então, fez o óbvio: arquivou o caso por falta de provas.

Ramírez poderia respirar aliviado. Ou não?

O fardo continua. No último dia 9 de outubro, o GE (mais especificamente, o GE São Paulo) produziu uma matéria televisiva que foi veiculada nacionalmente. O assunto era um relatório sobre casos de racismo no esporte em 2020.

A matéria de 3 minutos e 16 segundos dedicou meio minuto à denúncia contra Ramirez.

Disse a reportagem:

  • na súmula da partida, o árbitro declara que não ouviu nenhuma ofensa
  • o atleta Gerson prestou queixa e foi registrado um boletim de ocorrência, mas o Ministério Público solicitou o arquivamento do inquérito (solicitação atendida por um juiz)

Evidência contra Ramírez, além da acusação de Gerson, nenhuma.

Eis a situação: para o árbitro da partida, para os peritos contratados pelo Bahia, para o STJD, para o Ministério Público e para a Justiça comum, não se pode dizer que Ramírez praticou racismo. Para o GE, a denúncia contra Ramírez pode ser chamada (como foi) de “caso de discriminação racial no futebol”, desprezando-se a palavra “denúncia” e sem qualquer ênfase para o fato dessa denúncia não ter sido comprovada.

Por quanto tempo mais a denúncia contra Ramírez (não comprovada e judicialmente arquivada) será exposta nacionalmente em matérias recheadas de casos de racismo (esses outros, sim, documentados e comprovados)?

Por quanto tempo mais Ramírez carregará esse fardo?

Guilherme Bellintani (Presidente do E. C. Bahia). Afastou Ramírez do time e o reintegrou três dias depois. Reprodução: Internet

Para completar, algumas palavras sobre o princípio da presunção de inocência.

O Esporte Clube Bahia, em nota oficial publicada horas depois da denúncia contra Ramírez, declarou que o seu atleta negava “veementemente” a acusação, mas seria afastado assim mesmo, pois “a voz da vítima” deveria ser preponderante nesses casos.

Passaram-se dez meses e ainda não se comprovou que houve um ofensor e, portanto, um ofendido (ou seja, uma “vítima”). Já o Bahia, muito apressado, chamou Gerson de “vítima” menos de seis horas depois de encerrada a partida contra o Flamengo e o fez em uma nota oficial divulgada pela internet.

Alguém poderia ter advertido o presidente do Bahia que, se Gerson já era considerado “vítima”, Ramírez já era considerado “culpado”. E poderia também, logo em seguida, lembrar-lhe que isso afrontava o princípio da presunção de inocência, consolidado ao longo de muitas décadas e à custa de muito esforço intelectual.

Talvez até alguém o tenha feito, já que o presidente decidiu reintegrar Ramírez quatro dias depois daquela famigerada partida contra o Flamengo.

Atualmente, Ramírez ainda é atleta do Bahia e disputa partidas normalmente.

Parte da imprensa (dita progressista e que adotou a bizarra tese do “a voz de quem denuncia é a voz da vítima e deve predominar desde o momento em que a denúncia é feita”) poderia seguir o exemplo do presidente do Bahia e retirar das costas de Ramírez esse fardo que não lhe cabe.

Talvez aconteça algum dia. O GE, por enquanto, ainda acha que não é o momento, apesar do que já decidiu o STJD e a Justiça comum.

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O torneio de futebol olímpico que merece ser lembrado: Los Angeles, 1984

Nos Jogos Olímpicos de 1984, realizados em Los Angeles, o torneio de futebol passou por uma mudança radical. Atletas profissionais passaram a ser admitidos. Até a Olimpíada anterior, apenas amadores podiam participar. Essa restrição havia sido decisiva para o sucesso dos países comunistas nos torneios de 1952 a 1980. Seus atletas, oficialmente, tinham outras profissões e praticavam o esporte como atividade de lazer, o que era uma falsidade (uma falsidade evidente e comentada às claras, aliás). Eram atletas, na realidade, que se dedicavam muito ao futebol. Estavam em nível comparável ao dos jogadores profissionais dos países capitalistas. E enfrentavam, nas Olimpíadas, seleções formadas por amadores (juniores, muitas vezes). Acontecia o que era óbvio. Hungria, União Soviética, Iugoslávia, Polônia, Alemanha Oriental e Tchecoslováquia foram as seleções campeões olímpicas no período 1952-1980, sendo a Hungria campeã três vezes. Predomínio absoluto dos países que estavam à sombra do regime comunista sediado em Moscou.

Com a mudança de 1984, equipes da América do Sul, da Europa capitalista e até de outras regiões do planeta passariam a ter chances reais de êxito. Isso deveria despertar o interesse dos seus torcedores. Consequentemente, aumentaria o público que acompanhava as partidas nos estádios e, em especial, nas transmissões televisivas. A expectativa era de audiência alta e bons lucros. Um acordo entre o COI e a FIFA, então, extinguiu a distinção entre atletas amadores e profissionais no futebol olímpico. Para a FIFA, que defendia e promovia a expansão do profissionalismo no futebol, foi uma vitória de grande significado. Seu presidente, João Havelange, enfatizava a importância daquela mudança ao falar sobre o acordo com o COI.

Mas para que a hegemonia do futebol comunista não fosse substituída por uma outra hegemonia (a das poderosas seleções da CONMEBOL e da UEFA), criou-se uma outra restrição. Ficou estabelecido que as equipes vinculadas a essas duas entidades não poderiam ter jogadores que já tivessem disputado partidas da Copa do Mundo. Assim, países da África e da Ásia, por exemplo, ganhavam uma vantagem considerável, já que podiam escalar atletas profissionais e com experiência em partidas de Copa do Mundo ou de qualquer outra competição. A disputa, desse modo, ficava mais nivelada. Era necessário promover esse nivelamento para que o torneio fosse, de fato, atraente e mantivesse a audiência alta (algo que não acontecia nos torneios olímpicos de futebol).

Alemanha Oriental – Medalha de ouro em 1976

No Brasil, as novas regras não fizeram surgir maior interesse pelo futebol olímpico. Os torcedores continuaram mais interessados nos campeonatos estaduais do que na seleção que viajaria para os Estados Unidos. O torneio em Los Angeles era considerado uma disputa de importância inferior. Nem a CBF parecia muito atenta aos Jogos Olímpicos. Na primeira convocação dos atletas, foram chamados apenas amadores, como se a antiga restrição ainda existisse. Alguns dias depois, a Confederação divulgou uma outra lista: foi convocada uma seleção com 17 atletas, sendo onze jogadores titulares do Internacional (de Porto Alegre) e mais seis. O técnico, Jair Picerni, havia trabalhado em apenas três clubes paulistas: Ponte Preta, Internacional de Limeira e Santo André. Não era um currículo de peso. Aquela, afinal, era uma seleção que não tinha a admiração da torcida e não inspirava confiança na imprensa.

Na primeira fase, o Brasil estava no grupo C e enfrentou as seleções da Arábia Saudita, Alemanha Ocidental e Marrocos. Foram três vitórias brasileiras. A partida mais difícil foi contra os alemães. O resultado final foi 1 a 0, com um gol de Gilmar Popoca (em cobrança de falta) aos 43 minutos do segundo tempo. Contra a Arábia Saudita, o placar foi 3 a 1. Contra o Marrocos, 2 a 0.

Veio, então, a partida contra o Canadá nas quartas-de-final. Foi quando a seleção brasileira começou a atrair maior atenção. Os canadenses, sem grande tradição futebolística, se mostraram mais fortes do que se esperava. Começaram vencendo, com um gol de Mitchell aos 13 minutos do segundo tempo. O Brasil empatou 14 minutos depois (gol de Gilmar Popoca, que já era tratado como um dos melhores jogadores da seleção). A partida foi para a prorrogação e, depois, para a disputa por pênaltis. Foi a vez de outro Gilmar se destacar (o goleiro). Defendeu duas cobranças e a seleção brasileira venceu por 4 a 2.

No ano seguinte, o futebol do Canadá voltaria a mostrar força. Contando com vários jogadores desse time olímpico de 1984, a seleção canadense ficou em primeiro lugar nas eliminatórias da CONCACAF e se classificou pela primeira vez para uma Copa do Mundo. 

Na semifinal, a adversária do Brasil foi a Itália. A disputa olímpica, enfim, se tornou interessante para os torcedores brasileiros. Comentava-se bastante sobre a possibilidade da seleção chegar à final do torneio de futebol e conquistar, pela primeira vez na história, uma medalha. Os mais animados chegavam a dizer, com exagero, que aquela semifinal era uma revanche da traumática vitória italiana na Copa do Mundo de 1982. A partida foi emocionante. Houve empate em 1 a 1 no tempo regulamentar. Na prorrogação, o Brasil venceu por 1 a 0 e se classificou. Uma medalha, pelo menos, já estava garantida.

Gol do Brasil em Los Angeles (1984)

Na noite de 11 de agosto de 1984, os brasileiros tinham duas finais olímpicas para assistir. No futebol, Brasil contra França. No vôlei, a seleção masculina enfrentaria os Estados Unidos. Havia muita confiança e milhões de televisores ligados por todo o país. O Brasil podia comemorar, naquela noite, duas vitórias que entrariam para a história esportiva nacional.

A decepção foi dupla. A seleção de vôlei norte-americana, com o apoio de sua torcida e enorme confiança, venceu por 3 sets a 0. Na final do torneio de futebol, a França se impôs e venceu por 2 a 0.

O futebol francês passava por uma das suas melhores fases. Menos de dois meses antes, a sua seleção profissional havia sido campeão da Europa. O técnico da seleção olímpica da França era o próprio técnico campeão europeu, Henri Michel, que montou para as Olimpíadas um ótimo time, com jogadores jovens, mas já inseridos no futebol profissional francês. Alguns desses jogadores campeões em Los Angeles foram escalados para a Copa do Mundo de 1986. Entre esses estava o atacante Xuereb, que foi o artilheiro do torneio olímpico com 5 gols (empatado com Cvetkovic, da Iugoslávia).

Gilmar Popoca foi considerado pelo COI o melhor jogador da competição. Era um dos seis convocados que não jogavam no Internacional. Seu clube, naquele ano de 1984, era o Flamengo. Jogou por mais 14 anos e chegou a ser contratado por clubes de Portugal, México e Bolívia. A conquista da medalha de prata em Los Angeles foi a que lhe deu maior projeção.

A decisão foi disputada no Estádio Rose Bowl e teve público de 102.000 pessoas. Outras partidas também tiveram públicos numerosos. Um sucesso indiscutível, para satisfação de João Havelange, que tanto havia defendido as novas regras para o torneio de futebol. No entanto, as emissoras de TV dos Estados Unidos falavam pouco sobre a competição, o que levou Havelange a reclamar publicamente e a exigir uma atitude do presidente do COI, Juan Antonio Samaranch.

Brasil- Medalha de prata em 1984 

Uma novidade marcante foi a presença de nomes famosos do futebol profissional. Além do já citado Henri Michel, o italiano Enzo Bearzot, técnico campeão da Copa de 1982, esteve em Los Angeles. Era o técnico da seleção olímpica da Itália. Esteve em Los Angeles também o camaronês Roger Milla, que havia ficado famoso na Copa do Mundo de 1982 ao marcar o gol de empate de sua seleção contra a Itália. Ele participou do torneio olímpico e até marcou um gol, mas a seleção de Camarões não passou da primeira fase. Henri Michel, Bearzot e Milla foram os pioneiros. Depois vieram outros. E o torneio passou a exibir, principalmente da década de 1990 em diante, atletas e técnicos conhecidos mundialmente (e até campeões da Copa do Mundo). Ronaldo Fenômeno e Messi foram alguns desses. Na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, Neymar participou e foi campeão.

E assim o torneio olímpico de futebol perdeu a sua aparência de disputa amadora e de “campeonato das seleções comunistas”. Mas ainda haveria uma última vitória olímpica “vermelha”: a União Soviética, em 1988, venceu o Brasil na final e foi a campeã nos Jogos Olímpicos de Seul. 

A inclusão de atletas profissionais no torneio de 1984 satisfez João Havelange, mas a ideia não era seguir adiante até criar uma competição de tanto prestígio que pudesse ser considerada uma “segunda Copa”. Manter o torneio olímpico abaixo da Copa do Mundo foi uma preocupação constante da FIFA ao longo de várias décadas e assim continua sendo até hoje, com a manutenção de normas restritivas para os atletas dos times masculinos. Atualmente, impõe-se um limite de idade, admitindo-se três exceções.

O torneio olímpico, então, continuou sendo, mesmo com as mudanças de 1984, um torneio cheio de atletas jovens e alguns muito promissores. Promissores como havia sido o goleiro Carlos, que participou da Olimpíada de 1976 e dez anos depois foi titular da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1986. Os jovens promissores em 1984 foram o alemão Brehme (campeão na Copa do Mundo de 1990), o brasileiro Dunga (campeão na Copa do Mundo de 1994) e o italiano Baresi (vice-campeão na Copa do Mundo de 1994), entre outros que também poderiam ser destacados.

Por tudo o que trouxe de novo (atletas profissionais, a primeira medalha brasileira, altíssima audiência televisiva, participação do técnico campeão da última Copa do Mundo,…) e por ter iniciado uma nova fase na história do torneio olímpico de futebol, aquela competição de 1984 merece ser lembrada e relembrada várias vezes. Foi, sem dúvida, uma das mais interessantes.

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A Superliga de 48 horas e uma nova posição sobre a polêmica de 1987

Imagine que um grupo de clubes europeus (uns 12 ou 16) encaminham, em conjunto, a seguinte mensagem para a UEFA:

“Não temos mais interesse em fazer parte do sistema sob a sua gestão. Vamos fundar uma liga à parte e passaremos o ano disputando um campeonato nosso. Podem excluir os nomes de nossos clubes de suas competições: Champions League, Europa League, FA Cup, Copa do Rei, etc”.

Evidentemente, é um direito deles.

Mas se esses clubes, ao fazerem isso, provocam uma onda de revolta em seus próprios torcedores, podemos concordar que trata-se de uma decisão pouco inteligente.

Foi mais ou menos o que aconteceu com o anúncio da superliga europeia, no último dia 18 de abril. 

Formar uma liga à parte, do modo como foi ensaiado, significa pôr-se fora de competições tradicionais, que despertam sentimentos poderosos nos torcedores. Foi essa perspectiva que fez eclodir até manifestações de rua (em especial, dos britânicos).

Tabela 1
Fonte: Imagem enviada pelo autor

Escrevi um artigo sobre a ideia de uma superliga global, que estava sendo cogitada. Foi publicado neste blog no dia 5 de abril. Nesse artigo, está dito que “a tendência na governança esportiva global é a da unidade” e, seguindo essa tendência, a superliga global “provavelmente não será afrontosa à FIFA”. De modo surpreendente, optaram por serem afrontosos. Muito afrontosos. Liderados pelo presidente do Real Madri, os doze clubes decidiram apressar a marcha e pisar duro. Repentinamente, anunciaram a criação de uma superliga europeia não negociada com a UEFA ou FIFA. A superliga global viria depois de algum tempo, talvez. 

Importante repetir: repentinamente e não negociada. Isto é, foram à guerra. Mas sem apoiadores poderosos que estivessem dispostos a se manifestar abertamente e, pior, sem contar sequer com a adesão de suas próprias torcidas. Parece que algum estrategista não calculou bem. O vídeo em que o proprietário do Liverpool se desculpa com torcida foi o momento mais constrangedor da derrocada dessa superliga, que existiu por 48 horas ou menos.

Tabela 2
Fonte: Imagem enviada pelo autor

Entre os atletas também houve preocupação. Perceberam que poderiam ser alijados de competições importantes, o que diminuiria a sua visibilidade e seus ganhos econômicos. Sentiram-se inseguros.O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também se manifestou contra a superliga. Tudo desabou em torno de Florentino Perez, que permanece, insistente, acreditando no projeto que acalentou. 

As desistências dos clubes da superliga vieram rapidamente, uma após a outra. E essas desistências fizeram o projeto recuar, é claro. Mas recuar não é se extinguir. Não é impossível criar uma superliga europeia que consagre a superioridade quase permanente (vide tabelas 1, 2 e 3) dos maiores clubes do continente europeus. E quando se fala em maiores clubes do continente europeu é preciso incluir os alemães, que não estavam presentes nesse primeira tentativa de superliga. Mas criar essa superliga sem antes consolidar o apoio de seus torcedores, sem dar segurança aos atletas, sem garantir o apoio de empresas poderosas (grandes empresas internacionais de comunicação, principalmente) e sem uma boa negociação com a UEFA e a FIFA, será extremamente difícil. Florentino Perez escolheu justamente esse caminho mais difícil.

Tabela 3
Fonte: Imagem enviada pelo autor

* * *

No Brasil, uma repercussão interessante da confusão europeia: surgiu (mais uma vez) um debate sobre o polêmico ano de 1987.

Um número restrito de clubes decide criar uma liga com campeonato próprio e faz isso em afronta a uma entidade reconhecida pela FIFA. Eis o que se passou nesse caso da superliga europeia de 2021 e assim aconteceu também no caso da Copa União de 1987 no Brasil. Uma semelhança visível. Ou não?

Na internet, essa semelhança foi abordada em vários sites. O assunto ganhou visibilidade. E até a Rede Globo decidiu tocar no assunto.

No programa Esporte Espetacular do dia 25 de abril, após uma reportagem sobre o fracasso da superliga europeia, o apresentador Lucas Gutierrez anunciou uma “top 5 de ideias furadas de competições no futebol brasileiro e mundial”. O top 4 foi a Copa União.

A Globo, que por vários anos tratou o Flamengo como o campeão brasileiro oficial de 1987, assumiu outra postura no programa do dia 25. Lucas Gutierrez perguntou: “Diz aí: quem é o campeão brasileiro de 87?”. Logo depois, o mesmo Lucas Gutierrez completou: “Eu não vou meter o meu bedelho nessa história”.

E disse mais: “A verdade é que a Copa União de 1987 foi uma bagunça”. Isso foi dito em um programa da empresa televisiva que mais apoiou a Copa União. Seria uma autocrítica velada?

Foi citada até a esdrúxula situação do Guarani em 1987: o clube, que foi vice-campeão brasileiro de 1986, foi jogado pelo Clube dos Treze no módulo amarelo, que era tratado pelo próprio Clube dos Treze como uma segunda divisão. O apresentador Lucas Gutierrez também fez graça com esse absurdo: “Entendeu? Eu também não”.

E assim o Flamengo perdeu mais uma batalha nessa disputa que pode ser chamada de “Guerra de 87”. O clube de maior torcida do Brasil dizia-se campeão brasileiro daquele ano, mas não disputou a Taça Libertadores da América de 1988 (disputá-la era um direito do campeão brasileiro) e viu a Justiça confirmar, em diversas instâncias, o título de campeão dado pela CBF ao Sport Recife. O que ainda restava aos flamenguistas era o apoio da Rede Globo. Um apoio importantíssimo, por razões óbvias. O Esporte Espetacular nos mostrou que até isso se esvaiu.

Mas há algo que Florentino Perez pode aprender com Márcio Braga e Carlos Miguel Aidar, os dois dirigentes com maior destaque no Clube dos Treze em 1987. Antes de afrontarem a CBF, garantiram o apoio convicto de patrocinadores poderosos e da maior emissora de TV do país (enquanto a Confederação, por outro lado, estava em crise). Foi assim que a Copa União, mesmo em atrito com um órgão reconhecido pela FIFA, se mostrou tão relevante e por tanto tempo. Bem mais tempo que a superliga europeia de 48 horas.

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A Superliga global: o futuro do futebol está chegando?

Ao caminhar pela cidade de Manaus, não será difícil encontrar alguém usando a camisa de um clube de futebol europeu, como o Barcelona, o Juventus ou o Manchester United. Alguns, além de usar a camisa, se dirão até torcedores do clube, com seu modo próprio de torcer por uma agremiação que não se comunica em língua portuguesa e possui sede e estádio a milhares de quilômetros de distância.

O mesmo acontecerá em Teresina, Cuiabá, Uberlândia e milhares de outras cidades brasileiras. Mas o Brasil possui um futebol forte e o predomínio, entre os seus torcedores, ainda é dos clubes do próprio país. O apreço por clubes europeus mostra-se muito mais intenso em outras regiões, de futebol menos desenvolvido. A superpopulosa China, os riquíssimos países árabes e toda a África, por exemplo. 

É o futebol globalizado do século 21, com clubes globais, suas torcidas globais e acompanhamento diário por uma imprensa global, com destaque para os sites da internet e canais de TV internacionais (ESPN, Fox Sports e outros). Falta apenas que surja uma liga e um campeonato global de clubes. A ideia, pelo menos, já existe. A princípio, cogitou-se uma superliga de clubes europeus. Depois, a proposta evoluiu para uma superliga global, que seria disputada pelos clubes mais ricos da Europa, alguns grandes clubes da América do Sul e clubes convidados de outros continentes. A Associação Mundial de Clubes, recém-fundada, é a principal defensora do projeto.

Seria uma liga fechada, ou seja, participaria da competição promovida por essa entidade apenas os seus membros e convidados. Não haveria um direito assegurado à participação por razões de mérito. O clube campeão continental da África, por exemplo, não teria, em razão desse título, direito a ingressar no campeonato da superliga.

Que título deveria ser dado ao campeão dessa superliga global? O impulso óbvio é o de chamá-lo de campeão global ou de campeão mundial. Esse impulso, porém, se choca frontalmente com um princípio que se tornou inquestionável para a FIFA e pode ser expresso assim: campeão mundial é o vencedor de uma competição que incluiu todo o mundo. Uma liga fechada, que pode excluir por inteiro um ou mais continentes, está longe disso. É baseado nesse princípio da FIFA que são realizadas as fases preliminares continentais das Copas do Mundo (fases preliminares que são chamadas no Brasil de “eliminatórias”).

O princípio defendido pela FIFA tem lógica e é considerado “muito justo”, mas não se impôs em alguns casos históricos. Um exemplo é o da competição que foi a antecessora do atual campeonato mundial de clubes da FIFA. De 1960 a 2004, foi realizada uma disputa anual entre o campeão continental europeu e o campeão continental sul-americano. Era chamada oficialmente de Copa Intercontinental (denominada também de Copa Europeia-Sul-Americana). Na grande maioria das vezes, o vencedor dessa disputa foi tratado pela imprensa e pelos torcedores como campeão mundial de clubes. A ausência de clubes de outros continentes em uma disputa que se considerava “mundial” provocou críticas, mas elas não abalaram a sua relevância. A competição, aliás, ganhou prestígio renovado de 1980 em diante, principalmente entre os sul-americanos. Até a FIFA a tratava com respeito. Os títulos dos “campeões mundiais de clubes” (conquistados de 1960 a 2004) continuam sendo reconhecidos como tal, com algumas exceções apenas em alguns países europeus. Algo parecido pode acontecer com a superliga global.

Florentino Perez – Presidente do Real Madrid, primeiro presidente da Associação Mundial de Clubes e defensor da superliga global.

Outro caso que pode (e merece) ser citado: a fase final do campeonato promovido pela liga de beisebol dos Estados Unidos (MLB) é chamada até hoje de World Series (Série Mundial), embora seja a fase final de um campeonato nitidamente nacional, com a participação de apenas uma franquia canadense. Críticas podem ser feitas a essa designação, mas nenhum impacto tiveram até hoje. A World Series continua sendo uma das mais ricas e prestigiadas disputas esportivas do planeta.

Se a superliga global de futebol vier a alcançar poder econômico e prestígio semelhante ao da MLB, poderá chamar o seu campeão de “campeão mundial” e suportar as contestações (ou desprezá-las). Mas as contestações, nesse caso, provavelmente virão da FIFA. Essas, parece óbvio, não poderão ser ignoradas, suportadas ou desprezadas.

Outra situação possível: o surgimento de uma segunda liga global, com clubes que sejam relevantes em seus países e tenham alguma projeção internacional (mas não possam, apesar disso, ingressar de modo permanente na superliga, que será fechada, como já foi dito). Pode acontecer, então, de termos dois clubes tradicionais e poderosos sendo igualmente chamados de “campeões mundiais” no mesmo ano. Estabelece-se, então, uma disputa simbólica, às vezes sem vencedor consensual.

Mas o que começa com aparência de crise depois pode se transformar em oportunidade: caso haja muito interesse em decidir qual desses dois campeões globais é mais merecedor do título, uma disputa pode ser promovida, com boas perspectivas de divulgação e lucro. Caso semelhante pode ser citado na história esportiva dos Estados Unidos. De 1960 a 1969, o futebol americano teve duas ligas rivais (a AFL e a NFL). A cada ano, duas franquias festejavam o título de “grande campeã”, sem definir qual das duas deveria ser tratada como a autêntica campeã daquela temporada. Em janeiro de 1967, foi realizada pela primeira vez uma disputa entre as campeãs das duas ligas. A partida ganhou o nome de Super Bowl e é disputada até hoje. Tornou-se o evento esportivo de maior magnitude dos Estados Unidos e está entre os mais valiosos do mundo.

Para evitar desavenças, contestações e duplicidade de campeões (que geram dúvidas entre os espectadores e diminuem o prestígio das competições), a tendência na governança esportiva global é a da unidade. Poucos esportes ainda não possuem confederações internacionais e nacionais unificadas, como exige o COI. A superliga global, seguindo essa tendência, provavelmente não será afrontosa à FIFA. Também não deve ter interesse em ser tão fechada e excludente a ponto de estimular o surgimento de uma liga rival. Mesmo com todas essas cautelas, a superliga provocará mudanças gigantescas no futebol mundial, caso seja realmente instituída e conte com clubes que não disputem campeonatos nacionais. Será o futebol global chegando à sua plenitude. Um grande clube alemão que seja membro da superliga e não dispute o campeonato de futebol da Alemanha se tornará um clube do mundo, com torcedores de todo o planeta. E assim, em algumas décadas, poderá existir uma torcida organizada (e apaixonada) do Borussia na cidade de Maceió, que se reunirá para torcer por seu clube “do coração” em uma partida da superliga contra o brasileiríssimo Flamengo. Uma aberração para os tradicionalistas. Uma possibilidade que a interconexão global já anuncia?

As seis confederações continentais da FIFA.
Artigos

O retorno de Mato Grosso à primeira divisão do futebol nacional

Em 4 de agosto de 1968, o Operário de Várzea Grande estreou na Taça Brasil. Venceu o Atlético Goianiense por 2 a 0. Foi a primeira partida de futebol que um time de Mato Grosso disputou em uma competição nacional de clubes. Começou bem.

O Operário disputou mais três partidas naquela Taça Brasil. Venceu uma e perdeu duas. Ficou em segundo lugar no seu grupo. Classificou-se para a fase seguinte apenas o primeiro colocado (o Atlético Goianiense). O futebol de Mato Grosso teve que esperar cinco anos para voltar a disputar uma competição nacional de primeira divisão.

Vagas garantidas para Mato Groso até 1986

O Esporte Clube Comercial (da cidade de Campo Grande) foi incluído no Campeonato Brasileiro de 1973 porque a CBD queria ampliar o número de Estados com representantes na competição. O número de clubes participantes subiu para 40 em 1973, depois 42 em 1975, 54 em 1976, 62 em 1977. Chegou a 94 em 1979. Assim, os mato-grossenses tiveram vagas garantidas pela CBF na primeira divisão do Campeonato Brasileiro de 1973 a 1986.

Vagas garantidas, mas resultados nada animadores. Nenhum clube do Estado chegou a ficar entre os dez primeiros colocados durante todo esse período. O melhor desempenho foi o do Mixto Esporte Clube no campeonato de 1985. Ficou em 14º lugar. Já o Mato Grosso do Sul se destacava com o Operário de Campo Grande, que ficou em terceiro lugar no ano de 1977 e quinto em 1979. Os torcedores do Estado recém-criado podiam fazer galhofa: a separação de 1977 deixou o bom futebol no sul e os maus resultados no norte.

Jogadores do Mixto em 1985. 14º lugar no Campeonato Brasileiro. Fonte: Trivela

1987: o futebol de Mato Grosso fora da primeira divisão nacional

Em 1987, o futebol brasileiro passou por uma de suas maiores crises (a maior, na opinião do autor desse artigo) e o Campeonato Brasileiro teve o seu formato bruscamente modificado. Na Copa União (que a CBF também denominou de módulo verde), estavam os grandes clubes do país (congregados no Clube dos 13) e mais três clubes convidados. No módulo amarelo, estavam mais 16 clubes. Segundo a CBF, um desses 32 clubes (dos módulos verde e amarelo) seria o campeão brasileiro. E não havia nenhum clube de Mato Grosso entre os 32. Podia-se dizer, portanto, que pela primeira vez desde 1973 o futebol mato-grossense não estava incluído na primeira divisão nacional. E assim continuaria sendo por muito tempo após 1987.

No ano 2000, uma exceção. O Campeonato Brasileiro daquele ano foi realizado pelo Clube dos Treze e não teve divisão principal e divisão inferiores. Foi uma competição única com 116 participantes, em razão de uma outra crise que abalou o futebol nacional (a crise do rebaixamento do Gama em 1999). Ainda assim, esse campeonato excepcional, chamado Copa João Havelange, dividiu os clubes em quatro módulos e o único clube de Mato Grosso inscrito na competição (o União Rondonópolis) foi colocado em um dos módulos inferiores. Todos sabiam, de fato, que os módulos verde e branco equivaliam à terceira divisão e era no módulo branco que estava o representante do futebol mato-grossense.

Depois do ano 2000, Mato Grosso ficou vários anos sem representantes não só na primeira divisão (Série A), mas também na segunda (Série B). Além disso, os clubes mato-grossenses não conseguiam boas colocações na terceira divisão (Série C). Sequer chegavam à fase final. Foi assim até o campeonato de 2010. No campeonato de 2011, a situação começou a mudar.

Luverdense e Cuiabá: a nova geração do futebol mato-grossense

O Luverdense Esporte Clube ficou entre os oito melhores da Série C de 2011. Disputou a segunda fase, que era a fase semifinal, mas não conseguiu ficar entre os quatro clubes que ascenderam à Série B do ano seguinte. Em 2012, o Luverdense novamente superou a primeira fase e enfrentou a Chapecoense nas quartas-de-final. Caso vencesse essa disputa, subiria para a Série B de 2013. Não venceu, mas o acesso à Série B parecia estar cada vez mais perto.

Aconteceu, enfim, em 2013. O adversário nas quartas-de-final, dessa vez, foi o Caxias, do Rio Grande do Sul. O Luverdense venceu os dois jogos da disputa. Por 2 a 1 em Caxias do Sul e por 2 a 0 em Lucas do Rio Verde. “A cidade está em festa”, declarou o site do Globo Esporte de Mato Grosso.

O Luverdense ficou na Série B por quatro anos (2014 a 2017). Sua melhor colocação foi o nono lugar em 2016. No ano seguinte, foi rebaixado para a Série C. Mas o futebol mato-grossense não ficou muito tempo ausente da Série B. Já no ano de 2018 o Cuiabá Esporte Clube chegou às quartas-de-final da Série C. O adversário nessa fase decisiva da competição foi o Atlético do Acre. O Cuiabá, após vencer a primeira partida na Arena Pantanal e empatar a segunda no Estádio Florestão (Rio Branco), se classificou para a Série B de 2019.

Luverdense e Cuiabá, os dois clubes de Mato Grosso que chegaram à Série B na década de 2010, eram clubes novos, profissionalizados depois do ano 2000. Eram a nova geração do futebol profissional mato-grossense, que surgiu após a crise dos clubes tradicionais (Mixto, Dom Bosco e Operário de Várzea Grande).

Essa nova geração enfatizava a ideia de que um clube de futebol profissional precisava ser uma empresa desportiva eficiente e devia abandonar os improvisos típicos do amadorismo. O Cuiabá, por exemplo, foi comprado em 2009 pelo grupo empresarial Dresch e passou a ser tratado exatamente como uma empresa desportiva. Aliás, orgulha-se por ser o primeiro clube-empresa do futebol de Mato Grosso. Em entrevista à ESPN, o vice-presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch, referiu-se à agremiação como uma “empresa saneada e enxuta”, não um clube saneado e enxuto. Uma empresa sem atraso no pagamento de salários, sem acúmulo de dívidas e sem outros problemas que marcaram os clubes tradicionais por tantos anos. As expectativas, então, eram boas.

Na Série B de 2019, o Cuiabá ficou em oitavo lugar com 52 pontos. Causou boa impressão e, no ano seguinte, a confiança cresceu. Thiago Mattos, do canal mato-grossense Chaco Bola (YouTube), arriscou que o Cuiabá chegaria a 60 pontos na Série B. Errou por pouco. O Cuiabá somou 61 pontos (17 vitórias e 10 empates em 38 partidas), ficou em quarto lugar e subiu à Série A de 2021.

Festa no vestiário: Cuiabá subiu à Série A. Fonte: G1 Mato Grosso

Cuiabá em festa

A grande festa do Cuiabá Esporte Clube aconteceu na penúltima rodada da competição. Em Maceió, o CSA enfrentou o Brasil de Pelotas. Esse jogo terminou com o placar de 1 a 1, o que garantiu a classificação do clube cuiabano entre os quatro melhores da Série B. A ótima notícia foi dada aos atletas do Cuiabá quando eles ainda estavam se aquecendo para enfrentar o Sampaio Corrêa naquela mesma noite. Jogadores e dirigentes comemoraram no gramado da Arena Pantanal e, minutos depois, o time estava pronto para mais uma partida oficial. Os torcedores, impedidos de entrar no estádio em razão da pandemia da Covid-19, vibraram e soltaram fogos de artifício nas ruas próximas ao local da partida.

O feito do Cuiabá foi tamanho que até os rivais o parabenizaram. Operário de Várzea Grande, Dom Bosco, União de Rondonópolis e Luverdense publicaram na internet as suas felicitações pelo êxito. O governador do Estado se manifestou entusiasmado: “Que alegria! Que alegria! Que alegria! (…) Estou muito alegre. Se Deus quiser, vamos fazer bonito no ano que vem”. O prefeito de Cuiabá também saudou a ascensão do clube da cidade à Serie A. A rede hoteleira cuiabana começou a rever suas projeções para 2021.

Dom Bosco parabeniza o Cuiabá. Fonte: internet

Em 5 de outubro de 1986, o Operário de Várzea Grande foi derrotado pelo Vasco da Gama no Estádio de São Januário. Derrotado com goleada: 6 a 0. Foi a última partida disputada por um time mato-grossense na primeira divisão nacional. A próxima será em breve. E o Cuiabá Esporte Clube acredita que pode obter resultado bem melhor.