Que venham mais finais às moscas; ou Viva o soccer business!

Reprodução: Irlan Simões

Meses atrás recebi do colega André Pugliesi, editor do site UmDois Esportes, um “áudio de ZAP” pra lá de caricatural. O autor reclamava com os interlocutores, dentro de um grupo de torcedores/sócios do mesmo clube, da baixa qualidade da discussão naquela seara, o que lhe obrigava a repensar a sua presença.

Nas palavras do lamentante locutor, ninguém ali entendia de business, nem de futebol, muito menos de soccer business. Era preciso que todos parassem para ouvi-lo com maior atenção, dada a sua posição de autoridade intelectual frente aos demais colegas – ou ele fatalmente se retiraria.

Poderia ser uma anedota a meramente se tornar piada interna ou chacota externa, mas é a caricatura perfeita de um tempo em que torcedores e sócios de clubes resolvem ser, eles mesmos, atores da depredação do pouco que anda restando de futebol nos tempos atuais. Os tempos em que esse tal de “business” investiga, acusa, julga e manda prender.

Eles estão por aí há um bom tempo. A turma que bate palma para anúncio de renda de jogo – após a prática de ingressos a preços desumanos -; que acha saudável fazer piada sobre o preço acessível do plano do sócio do clube rival – como se não fosse a sua própria torcida a vítima de uma política de associação desleal.

É a mesma gente que exaltou a proposta de “final única” da Conmebol para a Copa Libertadores e para a Copa Sulamericana, adotando por aqui o formato “consagrado” na geograficamente privilegiada, estruturalmente acessível, dignamente assalariada e futebolisticamente estrelada Europa.

Nem vale a pena retomar as problemáticas que renderam o vergonhoso cenário de um estádio às moscas em plena final da Sulamericana. Interessa mais – e é preciso que isso seja levado mais a sério – a capacidade de muitos em defender coisas inaceitáveis para, por prazer, sadismo ou orgulho, sentirem-se partícipes dessa farsa de soccer business evolution.

São várias escalas, é evidente, mas essas figuras se identificam com facilidade por um implacável fervor ideológico e por um irredutível senso de superioridade intelectual.

Na mentalidade deles, são aqueles lá de fora, os críticos obtusos, avessos “ao que há de mais moderno” os verdadeiros pesos mortos do futebol brasileiro.

(Quando na verdade é a nossa própria condição estrutural – que as bochechas-rosadas dos senhores teimam em não compreender – que joga contra essas ideias esdrúxulas.)

Os torcedores do Athletico, vítimas de toda essa presepada, ainda saíram de culpados por não lotarem o estádio da final – incapazes de se deslocar mais de 1500 km para um país alheio, com tempo de planejamento restrito a menos de 30 dias, em meio a uma crise econômica sem precedentes.

“Não há dúvida: quem defende a final única é contra o torcedor, não tem qualquer preocupação com os hábitos e a cultura da arquibancada e, portanto, não entende do que é feito o futebol sul-americano.”, publicou o sempre certeiro Douglas Ceconello.

Se o caso de defender essas coisas é o de inevitavelmente provocar debandada dos especialistas do “soccer business“, então é o que precisa ser feito: conscientizar o torcedor de arquibancada que essa turma não tem menor ideia do que está falando, só segue cartilha pronta e/ou advoga pelo próprio interesse político, financeiro e profissional.

Foi-se o tempo em que alguém podia se dar ao direito de se enganar com a solução mais milagrosa da última semana. Que a melancólica final vazia da Sulamericana seja, enfim, um ponto de retorno.

E que corram pra longe os mercadores das cloroquinas do futebol!

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