Champions LiGay 2019 e preconceito

Ao que se sabe, o esporte ocupa todas as esferas da sociedade, produzindo e reproduzindo comportamentos, discursos, além de funcionar como referência. É notável que o esporte cumpre papel de amenizar variados tipos de conflitos, sintetizar culturas, assumindo o mito de que seria o espaço no qual obstáculos sociais e raciais não existiriam.

Contudo, os casos de preconceito no futebol, por exemplo, não param de crescer. Segundo levantamento do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, em 2018 foram 93 registros de pelo menos uma manifestação discriminatória entre xenofobia, racismo, misoginia e homofobia, envolvendo jogadores, torcedores e jornalistas que trabalham na cobertura do esporte. O número de casos aumentou de 2017, com 77, para 2018, porque pessoas atingidas estiveram mais dispostas a denunciar as ocorrências, de acordo com o Observatório, que nasceu nas redes sociais em 2015. Inicialmente, o projeto dava conta dos casos de racismo e hoje engloba todas as situações de preconceito no futebol.

Falando especificamente sobre a discriminação contra homossexuais que se observa em todos os contextos sociais, quando se trata do futebol fica mais evidente por a modalidade estar inserida em um espaço de reforço da masculinidade (não obstante, também a inserção da mulher no futebol sempre foi um tabu). Tal cenário foi construído pela forma de apreensão do futebol, que para além de uma modalidade esportiva, fundamenta-se como um campo de relações sociais, de estabelecimento de condutas, temas de conversação, “criando regras de sociabilidade e fidelidades entre homens” (FREITAS, 2012).

Essa contextualização visa abrir espaço para abordar a Champions LiGay 2019, torneio gay de futebol que aconteceu em Brasília nos dias 19 e 20 de abril. Contando com 24 times e mais de 400 jogadores, o torneio não se destaca somente como uma oportunidade para atletas, mas como um espaço para pessoas que são exemplos de superação contra o preconceito.

A Ligay é uma liga amadora de futebol masculino criada em 2017 por André Gomes, presidente do BeeCats – Rio de Janeiro, um dos times participantes. O principal objetivo da competição é combater a homofobia, promovendo o esporte direcionado ao público LGBT. As edições de 2017 e 2018 foram conquistas pela equipe Bulls, de São Paulo. O time campeão de cada edição conquista também a vaga para a Copa do Mundo de Futebol Gay, evento internacional realizado anualmente.

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Fonte: DF Esportes

Para escrever esse texto foi necessária a pesquisa sobre o campeonato nos mais diversos blogs e redes sociais. Contudo, não foi encontrado, nem nas páginas oficiais da LiGayBr no Instagram e Facebook, o nome da equipe que conquistara o título da edição LiGay 2019, em Brasília.

Constata-se que a própria realização deste campeonato é fruto do preconceito social que impera no universo esportivo, especificamente no futebol, ao se criar, supostamente, a necessidade de segregar atletas em torneios diversos. Listar aqui outros exemplos como a Champions LiGay tornaria o pequeno texto uma lista extensa de denúncia contra a homofobia. A pouca, ou quase nenhuma, visibilidade do torneio expressa e diz mais sobre essa realidade. Até quando ficaremos invisíveis a homofobia, principalmente no esporte?

Fontes:

FREITAS, M. Do amor grego à paixão nacional: masculinidade homoeroticidade no futebol brasileiro.

VIERA, JJ. Considerações sobre preconceito e discriminação racial no futebol brasileiro. Artigo apresentado no Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências sociais ANPOCS, no GT Esporte, Políticas e Sociedade. 2002.

PEREIRA, A.; ALFAIA, A.; SOUZA, L. e LIMA, T. Preconceitos contra homossexuais no contexto do futebol. Psicologia e Sociedade 26 (3),  737 – 745.

Champions LiGay 2019, campeonato gay de futebol vai contar com 24 times em Brasília – https://observatoriog.bol.uol.com.br/noticias/2019/04/champions-ligay-2019-campeonato-gay-de-futebol-vai-contar-com-24-times-em-brasilia

Brasília recebe Champions Ligay 2019 – https://dfsports.com.br/brasilia-recebe-champions-ligay-2019/

Casos de preconceito no futebol não param de crescer – https://www.terra.com.br/esportes/casos-de-preconceito-no-futebol-nao-param-de-crescer,a1bea7a019c16394935fc9dc19796af37d33495u.html

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Um pensamento sobre “Champions LiGay 2019 e preconceito

  1. Pessoal, bom-dia! Como sei que vocês também se configuram como um espaço importante de escrita sobre o esporte/futebol e temas sociais e que, além de tudo, caracterizam-se como um espaço de decodificação da linguagem científica para as pessoas em geral, gostaria de sugerir que fizessem mais buscas/pesquisas antes de publicarem algo. Há equívocos de informações aí (como por ex, André Gomes não arquitetou sozinho a liga) e falta de outras (a equipe campeã do primeiro evento de 2019 foi a Beescats, do RJ). Sugiro, fortemente, que busquem textos sobre isso no Ludopédio (maior portal de futebol acadêmico na internet e, ao que parece, parceiro de vcs aí no blog) e meus próprios textos sobre esporte/futebol gay, homossexualidade, preconceitos e afins, pois tenho pesquisado isso há mais de uma década. Atenciosamente, Wagner Xavier de Camargo

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