A corrupção é cíclica

O futebol paraibano ainda tenta se recuperar do maior escândalo que sofreu em sua história, depois que a chamada “Operação Cartola”, desencadeada pela Polícia Civil da Paraíba e pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado do Ministério Público da Paraíba, desbaratou no Estado um complexo esquema de corrupção que passava pela tentativa de suborno a árbitros para que esses interferissem nos resultados de jogos dos clubes locais.

Nessa última quarta-feira, inclusive, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, numa decisão de proporções inéditas para o esporte local, resolveu banir do futebol nada menos do que cinco dirigentes e nove árbitros de futebol com atuação no esporte paraibano.

Entre os dirigentes banidos, a propósito, estão o presidente do Campinense e o diretor de futebol do Botafogo-PB, que são dois dos maiores clubes do Estado; o presidente e o procurador do Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol da Paraíba; e o presidente da Comissão Estadual de Arbitragem de Futebol da Paraíba à época das investigações.

Tem mais. Outros três dirigentes do Botafogo-PB escaparam da pena máxima, mas ainda assim foram suspensos por 540 dias de qualquer atividade ligada à modalidade. Todos os condenados, ainda por cima, receberam multas das mais variadas. Para se falar a verdade, de todos os envolvidos, apenas um foi absolvido.

É, sem dúvida, a maior crise ética que o futebol paraibano enfrenta em mais de 100 anos de história, e cujas consequências ainda são difíceis de prever.

Por exemplo, o que fazer com os clubes envolvidos?

O Botafogo-PB é o atual campeão paraibano, enquanto o Campinense é o atual vice-campeão. Posições que, para além da competição estadual, dão vagas em competições nacionais, que reservam um bom dinheiro para seus participantes e abrem uma série de novas oportunidades para os clubes.

A priori, apenas os dirigentes foram condenados. Mas, e se decisões futuras atingirem as agremiações? Os clubes perderão suas vagas nas competições interestaduais? Terão que devolver eventuais verbas recebidas? Serão punidos pela CBF? Difícil responder.

O certo é que a crise ultrapassa as questões desportivas e ganham contornos éticos. E de credibilidade também.

Porque, por exemplo, como fica o nível de confiança do torcedor frente às últimas notícias? Até que ponto a modalidade sofrerá com uma descrença crescente? Uma suspeita perturbadora de que, afinal de contas, era tudo combinado (resultados, escalações de árbitros, vitoriosos e derrotados, etc.) nos subterrâneos do futebol? São outras perguntas difíceis de responder por ora.

O que já se pode dizer agora é que é sempre reconfortante ver cartola de índole duvidosa ser condenado, banido, extirpado do futebol.

Ao mesmo tempo, o seguimento de todo o processo, parece, já está ceivado de novas suspeitas, novos absurdos, novos problemas.

Acontece que o então presidente da Federação Paraibana de Futebol também foi afastado, e também deve ser julgado pelo STJD nas próximas semanas.

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Fonte: PB Agora

Ele era aliado da ex-presidente da entidade, que ficou no cargo por 25 anos e só saiu depois de ser afastada pela justiça comum após ser pega fraudando as eleições internas da entidade.

O sucessor, aliado, como dito, acabou rompendo com a antecessora pouco depois de eleito.

E, após o rompimento, começou a sofrer uma série de pressões que culminaram no seu afastamento durante a Operação Cartola. Em nova eleição, foi sucedido por uma nova pessoa de confiança daquela mesmo que gerira o futebol paraibano por 1/4 de século como se fosse um feudo seu.

Enfim, não dá para ligar uma história com a outra.

Não foi o rompimento de um presidente com sua antecessora corrupta que gerou a Operação Cartola.

Mas, no fim das contas, a conclusão que se chega é que não importa quem saia, quem seja banido, quem seja expulso do futebol; haverá sempre alguém a postos para também se locupletar do esporte quando a oportunidade chegar, quando o cargo estiver vago, quando os contextos lhe forem favoráveis.

A corrupção, parece, é cíclica. Seja nos rincões pobres do futebol paraibano, seja no mundo de glamour e de fortunas da Fifa em sua sede na Suíça.

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