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O perigo da paixão nas narrativas esportivas

No tempo atual, um elemento que desperta cada vez mais paixões é o esporte. Estas paixões podem tanto se manifestar na prática, cada vez mais difundida, de diferentes modalidades esportivas, como nos discursos elaborados a partir destas atividades (vide a robusta cobertura da imprensa mundial a megaeventos como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo de Futebol).

Quando se considera os discursos da imprensa brasileira sobre o esporte, em especial sobre o futebol, é possível perceber que existe uma tendência de muitos dos autores destas narrativas se deixarem influenciar por seus afetos pessoais mesmo que o Jornalismo tenha como um dos seus elementos fundantes um compromisso público segundo o qual esta atividade deve ser realizada com rigor, imparcialidade, distanciamento e precisão.

Este fenômeno fica bem evidente em programas televisivos ou radiofônicos nos quais o objetivo principal não é o esforço pela transmissão da informação mais imparcial e precisa possível, mas a realização de um espetáculo no qual têm livre trânsito a chacota e a troça.

Nesta dinâmica, a opinião (mesmo a questionável quando se considera o interesse público) tem amplo espaço, e com ela o fenômeno que é atualmente chamado de pós-verdade, que consistiria na dinâmica segundo a qual fatos objetivos têm menos influência para definir a opinião pública do que o apelo à emoção ou crenças pessoais.

Quando se observa um comentarista esportivo que, apesar de evidências contrárias, defende cegamente um determinado ponto de vista, ou um portal de notícias esportivas que se esmera em divulgar rumores que não possuem qualquer prova, estamos diante de manifestações deste fenômeno, o da pós-verdade.

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Diferentemente de outras áreas do jornalismo, o esportivo, historicamente, pouco se apegou em suas pautas e análises à relações com a política, economia, cultura e dados e estatísticas oficiais. As experiências de vida, muitas vezes construídas sob estereótipos, norteiam, até hoje, grande parte do trabalho da mídia esportiva.

Estar atento a este tipo de fenômeno e desnaturaliza-lo é importante para quem se propõe a realizar pesquisas que se voltem para as narrativas sobre o esporte. Caso este movimento não seja feito é grande o risco de se cair na armadilha de assumir opiniões questionáveis baseadas em paixões e que possam colocar em risco o trabalho realizado.

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