Baby-Fútbol: a fonte de talentos do Uruguai

O Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte divulga, nesta semana, a última parte da entrevista do treinador da seleção uruguaia, Óscar Tabárez, ao pesquisador do LEME Juan Silvera. Na primeira e na segunda parte deste bate-papo, foram abordadas respectivamente a mudança de estigma do futebol praticado pelo país – tido antes como violento e que passou a ser visto, nos últimos anos, prioritariamente pela técnica – e a globalização do esporte mais popular da Terra, que impôs uma competitividade ainda maior entre as diversas “escolas de futebol”.

Como fatores responsáveis por alavancar o nível técnico de times e seleções de um país a médio/longo prazo, podem ser citados uma boa estrutura de treinamento e de preparação de atletas, a coordenação entre as categorias de base e, sobretudo, um projeto de renovação constante.

Tabárez admite os desafios do Uruguai em avançar nesses fatores; um deles em especial. Segundo o último censo realizado no Uruguai, em 2011, a população do país é de aproximadamente de 3,4 milhões de habitantes. Para o treinador, imprensa esportiva uruguaia e torcedores, esse é um número que dificulta a renovação de jogadores de futebol.

O fenômeno denominado Baby-Fútbol é marca característica da cultura uruguaia e pouco visto em outros países, mesmo naqueles com certa tradição no futebol e maior desenvolvimento socioeconômico. Durante a semana, mas principalmente aos sábados e domingos, cerca de 3000 partidas acontecem, em pequenos campeonatos, entre times amadores formados por pais e empreendedores locais, nos quais crianças, muitas delas de 4 anos, disputam jogadas em campos muitas vezes irregulares nos bairros das principais cidades do país, como Montevidéu e Salto.

Algumas das partidas atraem significativa quantidade de expectadores. As comunidades locais também se envolvem com o evento e promovem feiras e churrascos, o que impacta positivamente na economia local. De acordo com Tabárez, aí está a principal fonte de talentos da ‘celeste olímpica’:

“Nos finais de semana, a atividade que reúne mais pessoas no futebol do Uruguai considerando o profissional e o amador é o Baby-Fútbol: 300.000 pessoas por final de semana, entre árbitros, crianças, treinadores e pais, que vendem produtos para obter o sustento dos times. É um fenômeno incrível! Todos os jogadores da seleção uruguaia, do presente e do passado, como Francescoli, Recoba e Suárez, passaram pelo Baby-Fútbol“, afirma ‘El Maestro’.

baby futbol
No Uruguai, as partidas juvenis e amadoras atraem crianças de 4 anos para os gramados. Em outros países que possuem paixão pelo futebol e melhores condições econômicas, como o México, a iniciação de jovens a esses torneios começa geralmente mais tarde, aos 12 anos.

No entanto, Tabárez aponta alguns gargalos desse fenômeno: a falta de estrutura, de desenvolvimento de fundamentos técnicos nas crianças, o que, segundo ele, torna mais difícil reverter à medida que os pequenos jogadores chegam às categorias de base dos clubes e o estímulo à competição em um momento no qual o esporte deveria ser encarado como lazer, saúde e socialização. Além disso, o Baby-Fútbol não se repete de maneira tão marcante na realidade das meninas que praticam futebol no Uruguai.

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