Em 1990, Óscar Tabárez treinou o Uruguai na Copa do Mundo da Itália, naquela que seria a sua primeira passagem como comandante da seleção principal de seu país. Nas palavras do próprio ‘El Maestro’, o time “não foi bem” no torneio. Ao regressar para o Uruguai, a opinião pública apresentava, em geral, certo pessimismo em relação aos bons resultados da celeste olímpica no futebol no futuro. Apesar de títulos importantes, como a medalha de ouro conquistada nos Jogos Pan-americanos de Caracas em 1983 e dos títulos da Copa América naquele mesmo ano e também em 1987, os resultados em Copas do Mundo estavam, para jornalistas, torcedores e dirigentes, aquém do histórico de boas participações do país, bicampeão olímpico em 1924 e 1928 (títulos considerados à época como campeonatos mundiais), bicampeão mundial da FIFA, em 1930 e 1950, além de semifinalista nas Copas de 1954 e 70.

Os resultados frustrantes em mundiais era, entre outros fatores, reflexo do processo de globalização do futebol, que acirrou a concorrência não só entre empresas do mundo inteiro e países por expansão de mercado consumidor, mas também entre times e seleções esportivas. O futebol – e o esporte como um todo – é um fenômeno político, cultural e econômico, e não ficou a par deste conjunto de rápidas e complexas transformações no futebol.
O mundo havia mudado e, quando teve a segunda oportunidade de treinar a seleção principal, após a não-classificação do Uruguai para a Copa de 2006, Tabárez encarou um desafio inerente aos novos tempos e sobre o qual já tinha refletido:
“Após minhas experiências pela Europa e alguns anos sabáticos antes de ter esta segunda chance, eu me perguntava como fazer para competir com reais chances nesta ‘geopolítica do futebol’, na qual a Europa é o centro, o poder do futebol em termos econômicos e de organização e levam o jogador que querem, de qualquer lugar cada vez mais cedo.”
No caso específico do Uruguai, seus indicadores socioeconômicos e demográficos impõem uma barreira a mais no caminho para o desenvolvimento do futebol e à renovação de jogadores:
“Não temos poder econômico e organizacional comparáveis aos existentes na Europa. Sobre os jogadores de alto nível, temos menos na América do Sul, e, no Uruguai, pela pequena taxa de crescimento populacional, temos um terço de atletas federados que a Alemanha possui.”
Diante dessas adversidades, o caminho vislumbrado pela Associação Uruguaia de Futebol, em parceria com o comando técnico das seleções de base e principal, foi o enaltecimento de uma cultura de feitos históricos já alcançados pelo Uruguai no futebol. A filosofia de pensamento positivo, respeito ao adversário, de aceitação das derrotas que acontecerem, mas, sobretudo, de muita disposição em campo passou a ser adotada com melhor aplicação na formação de atletas desde as seleções juvenis até o time principal. Na Copa do Mundo de 2014, pudemos ter uma noção de como tal filosofia se aplica em campo: mesmo com a derrota na estreia para a surpreendente Costa Rica, o Uruguai não se abateu, atuou com bravura nas partidas seguintes, venceu Inglaterra e Itália e, assim, se classificou para as oitavas-de-final, sobrevivendo ao “grupo da morte” daquele mundial.

Na semana passada, o Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte divulgou a primeira parte da entrevista concedida por Óscar Tabárez a Juan Silvera, nascido no Uruguai e pesquisador do LEME. Clique no vídeo abaixo e acompanhe a segunda parte dos ensinamentos de ‘El Maestro”:
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