As aulas de Tabárez

Óscar Tabárez completou no último dia 08 de março 10 anos ininterruptos à frente da seleção uruguaia. Nunca antes na história, segundo a Confederação Sul-americana de Futebol, um técnico comandou por tanto tempo uma seleção nacional. Quando aceitou o desafio, em 2006, de reconstruir o futebol uruguaio após a sua não-classificação para o mundial daquele ano, Tabárez já havia conquistado o ouro panamericano em Caracas-1983 e comandado seu país na Copa de 1990, totalizando 15 anos de trabalho pelas seleções de base e principal.

Além de ter a missão de levar o Uruguai à Copa do Mundo de 2018 em meio a uma das eliminatórias mais disputadas dos últimos tempos, o treinador de 69 anos também coordena as seleções de base do país. Nos 129 jogos da passagem atual, foram 64 vitórias, 35 empates e 30 derrotas.

Conhecido em seu país como “El Maestro”, o técnico recebeu esse apelido bem antes de ter se transformado em um ícone do futebol. Tabárez foi professor de ensino primário em Cerro, bairro operário em Montevidéu. Em um momento distante da atual realidade espetacular do futebol, quando os salários não eram inflacionados como os pagos hoje em dia aos craques do esporte, foi na sala de aula onde o professor garantiu seu sustento em uma rotina sala de aula/gramados que poucos conseguiriam conciliar.

O protagonismo recente de jogadores uruguaios como Godín, Cavani, Forlán, Loco Abreu e Suárez no futebol mundial além dos resultados expressivos em competições internacionais, como o 4º lugar na Copa de 2010 – melhor colocação de um país sul-americano naquele mundial – e o título da Copa América em 2011,  mostram que as aulas de professor continuam.

tabarez uruguai
As aulas de Tabárez continuam: apenas o local das lições mudou, da sala de aula para os vestiários e gramados.

Foram essas conquistas recentes as responsáveis pela recondução do Uruguai ao protagonismo do futebol mundial. No entanto, para Tabárez, a maior vitória foi a quebra de um estigma: a visão sobre o futebol uruguaio como “violento” em sua essência. Esse preconceito possui origens mais profundas, até mesmo embasadas por teorias deterministas como o Darwinismo Social, na qual foram disseminados visões que caracterizavam sul-americanos,  africanos e  asiáticos como “brutais” e “selvagens”, enquanto aos europeus, “intelectualmente selecionados”, caberia a missão de “civilizar esses povos”.

A evolução técnica empreendida por “El Maestro” foi visível nos últimos anos e contribuiu para essa filosofia de jogo e comportamento ser vista também nos clubes uruguaios. Nos últimos jogos entre brasileiros e uruguaios na Libertadores da América parece que os papéis se inverteram: os clubes brasileiros, outrora porta-vozes do denominado “futebol-arte”, apelaram muito mais para a força física e até mesmo à deslealdade em campo do que em anos anteriores, enquanto as equipes uruguaias não deixaram o calor do jogo tirá-las do foco.

Para saber mais profundamente como aconteceu essa mudança de estigma, o também uruguaio Juan Silvera, pesquisador e integrante do LEME, foi atrás do homem responsável por esse trabalho cada vez mais reconhecido e longevo. Em entrevista concedida com exclusividade, Óscar Tabárez detalhou esse e outros assuntos pertinentes ao futebol contemporâneo, como a globalização do esporte e a formação de novas gerações de atletas.

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