Qual Copa teremos?

vaitercopaDe um lado, um discurso ufanista, dos direitos de transmissão, da Copa das Copas, do legado que mudará as capitais brasileiras. De outro, o #nãovaiterCopa, o medo das manifestações, as reportagens francesas e o “dinheiro queimado em estádios que não ficarão para ninguém”. Menos de cem dias para que nós, no centro desse gramado, possamos entender o que o Mundial reserva à nação.

Brasil que construiu um discurso de país do futebol ao longo dos anos, baseado numa tradição que reúne glórias e craques dentro das quatro linhas com o oportunismo de governos fora dos campos que viam/vêem no esporte a chance de aglutinar nossas terras continentais num só país. A Seleção Brasileira foi e ainda é umas das principais representações da cultura e identidade nacional (o livro “A construção da Nação Canarinho”, de Carlos Eduardo Barbosa Sarmento é uma dica de leitura sobre isso).

blog 3 Justamente, no ano em que a Seleção Brasileira de Futebol completa seu centenário, nos vemos entre torcer com o amor da “pátria de chuteiras” e lutar nas ruas contra a vergonha do “time político da CBF” e dos gastos públicos. A instituição que veste camisa amarelo ouro vai passar por uma dicotomia que vem crescendo desde as relações pós-Copa 94 (CPI da Nike, contratos milionários, amistosos caça-níqueis, ingerência em convocações, gerações de jogadores ricos e desinteressados) e que, a meu ver, chega ao seu auge em 2014.

Nessa “quaresma”, período em que os últimos estádios serão entregues, sem jogos de seleções, ou seja, antes do assunto Copa passar a ser o único na imprensa, é interessante refletirmos sobre os últimos sete anos. Desde que foi escolhido sede, o país trocou Ricardo Teixeira por Marín, ouviu Jérôme Valcke dizer que “merecíamos um chute no traseiro” e que “menos democracia” seria melhor para organizar um torneio. Vimos o jeitinho brasileiro se enquadrar no “padrão Fifa”, mortes nas obras dos estádios, desvios de Reais. Fulecos surgirem, Caxirolas rodarem. Uma Seleção na pressão vencer o evento teste. E as ruas tomadas por black blocs e “blocos do eu sozinho”.

A partir deste 12 de março, serão três meses. Período que a imprensa provavelmente vai construir a imagem de expectativa. Quem será o craque da Copa? Quem levanta a taça? Sediaremos pior que a África do Sul (último torneio)? Repetiremos o Maracanazzo de 1950?

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Para os fãs do esporte, é um momento único de receber um megaevento na sua casa. De viver todos os sonhos de menino que cresce com os pés na bola. Do jornalista esportivo de estar em uma Copa. O discurso da “imprensa oficial” hoje é rebatido com as redes sociais. Temos mais críticas aos porões do futebol do que exaltação aos craques. Será um desafio para todos os jornalistas envolvidos. Qualquer que seja o tom adotado nas reportagens, teremos o contraditório para questionar. Resta estudar essa postura da mídia e a construção do evento.

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blog 2 Por hoje, a minha dúvida é de qual imagem teremos deste Mundial: o rosto de Neymar (na vitória ou na derrota) ou a máscara de Guy Fawkes (símbolo das manifestações de junho de 2013). E apesar dos problemas, acredito que teremos Copa. Mas qual Copa especificamente, já não sei.

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