O Rio e a Copa do Mundo. Será que vai? Vai para onde?

Outro título, já quase bordão, poderia ser “Imagina na Copa…”.

 

Muitos veem tal ideia como um olhar simploriamente pessimista; não eu. Os argumentos são simples, mas o simbolismo das ações (e, principalmente, das “não-ações”) nesse cenário é que determina a minha posição perante esse assunto.

Não pretendo colocar de maneira metódica a análise dos motivos que me direcionam para uma preocupação iminente. Faço isso exatamente para tentar provar que os motivos são tão simples que não é preciso um estudo denso – pelo menos nesses casos aqui apontados – para se perceber que algo está errado, muito errado! E que pode render muitos frutos podres.

Comecemos com a situação do Maracanã, talvez o maior símbolo físico do futebol no Brasil: atrasado, extrapolando o orçamento, suspeitas de superfaturamento e fraudes, mas nem precisamos entrar nesse mérito. Esse é o fato “cru”, já péssimo para a imagem do Brasil enquanto sede de uma Copa do Mundo. Por trás do fato, para mim muito pior, está o simbolismo das ações: falta de responsabilidade, corrupção (?), interesses políticos que passam por cima do interesse público.

Vale lembrar também o episódio que mais marcou a postura irracional (caracterizo assim) de um país que pretende sediar uma Copa a todo custo, mas se esquece do “resto”: a demolição da E.M. Friedenreich, acoplada ao estádio do Maracanã. “Mas já era previsto há muito tempo!”, alguns dizem. De fato, esse interesse não era de hoje, mas nada justifica o ato. O pior é ver pessoas que pouco se relacionam com o âmbito educacional argumentarem com ares de “bonzinhos”: “É uma das melhores escolas ranqueadas nos exames regionais, isso não devia acontecer”. Paciência! Nem se fosse a última colocada nesses exames (falhos!) o ato se justificaria. Nada justifica a derrubada de uma escola, nem a construção de outra.

Depois do Maracanã, falemos do Engenhão. Hoje (27/03), a notícia explode na mídia nacional: o Estádio Olímpico João Havelange é interditado por prazo ilimitado devido a questões de infra-estrutura. Lembra-se o quão recente é esse estádio e quantos problemas ele já enfrentou. Especula-se que o planejamento pode ter sido o problema. Olha aí, a simbologia outra vez: falta de planejamento, ou o erro do mesmo. E podem indagar que esse estádio não foi pensado para a Copa do Mundo, mas sim para as Olimpíadas. Ora, no fim das contas, dá no mesmo! Sem contar que nenhuma construção dessa grandeza pode ser tratada como “descartável”, estando fora de utilização depois de menos de seis anos da sua inauguração (30/06/2007).

Seguindo a lista de “pequenos empecilhos”, pense na situação estrutural da cidade do Rio de Janeiro, hoje, para sediar e tornar cabível um evento do porte de uma Copa do Mundo. Vamos além, pensemos a situação do espaço físico e a consequência dos possíveis eventos naturais. Tornando prático todo esse contexto, tente lembrar o que aconteceu na última chuvarada que açoitou nossa cidade. Agora pense isso acontecendo no decorrer dos jogos, durante a Copa. Se isso não é preocupante, não sei mais o que seria! E a culpa não pode ser colocada em eventos não programados e imprevisíveis. Não tenho muita credibilidade no cenário nacional (mas nem uma escola de renome tem…?!) e estou prevendo todo o caos que seria. Imagino que os envolvidos na realização e preparação da Copa do Mundo, aqui no Brasil, sejam, pelo menos, um pouco mais inteligentes que eu e que isso possa ser evitado.

Há quatro anos atrás, também falava-se dos atrasos na Copa do Mundo, ocorrida na África do Sul. Eram atrasos, se comparados aos “nossos”, talvez, não tão significativos, e alguns “sabidos” ponderavam sobre a viabilidade de um evento como esse num país da África. Será que não passamos por algo semelhante aqui? Ou pior? Será que é só pessimismo mesmo? As coisas se complicam e nem entramos nas questões sobre o bem público, de fato, ao se calcular o “preço” da Copa do Mundo para os setores de base do país: por que não o investimento em educação, saúde, etc, etc…? Com o que a população ganharia mais? É investimento em lazer? De certa, forma sim. O problema é quanto está custando um lugarzinho na arquibancada para aproveitar esse lazer. Quem vai usufruir desse lazer? O povo? Que povo?

Assistindo hoje (27/03) o programa “Redação SporTV”, no canal fechado SporTV, o jornalista José Eduardo de Carvalho – “Zédu” – lançava uma coleção de livros de sua autoria, como uma espécie de comemoração dos 150 anos do futebol. Uma das frases mencionadas por ele, inclusive em seu livro, foi: “O futebol é a cara do país”. É uma alusão entre as semelhanças do estilo de jogo e do modelo social de determinado país: noruegueses são programáticos, jogando bola e vivendo suas vidas. Pensei, a partir dessa frase, o modelo brasileiro e, assim como no futebol, no cotidiano social, nas nossas relações, na arquitetura da situação coletiva nacional, no cenário político, talvez, estejamos sem traço, desorientados, perdidos.

2 pensamentos sobre “O Rio e a Copa do Mundo. Será que vai? Vai para onde?

  1. No Brasil, vivemos sob a disfarçada escravidão da acultura da superficialidade; Impostos excessivos e corrupção; as pessoas decentes viram engrenagens da cadeia de produzir riquezas: Podemos resolver todos os riscos ambientais no Brasil com 3 bilhões.
    A saúde pública pode ser sanada com 15 bilhões!
    A educação pode ficar exemplar com a mesma quantia como a qual, também, podemos proporcionar segurança de primeiro mundo.
    Ou seja, com algumas dezenas de bilhões de reais podemos remodelar num paraíso o país.
    Porque o Governo não resolve esses problemas?
    A desculpa de sempre, falta de recursos.
    O governo negou reposição inflacionária aos professores federais desencadeando, em 2012, um movimento grevista que paralisou as Universidades. Contudo, premia jogadores de futebol com pequenas fortunas: http://www.youtube.com/watch?v=jm7zXywyg-Y/ E, na COPA 2014 e Olimpíadas 2016 os gastos governamentais serão superiores a 100 bilhões: Será como nos Jogos Panamericanos? Obras mal feitas, que se desmancham, ou inúteis? Uma gama imensa de recursos desviados em corrupção?
    Com o desmanche do sistema do ensino, as pessoas não aprendem a pensar, acostuma-se a terceirizar o pensamento sendo praticamente “treinadas” a alimentar o mecanismo de gerar riquezas para os cada vez mais ricos: : http://www.padilla.adv.br/processo/pensamento/

    1. Não sei precisar os valores, mas entendo como assustadora a ação de investimento tão grande direcionada para o futebol, enquanto as bases cruciais para o avanço da sociedade agonizam.

      Há quem diga que tais manobras se ligam ao ideário neoliberal, parte do plano do modelo econômico que vivemos e impera no mundo, o capitalismo. Serviria como forma de despreparar a sociedade, como um todo, para o embate político, deixando o “povão” desguarnecido contra esses “sutis” ataques às questões públicas, como alguns apontam ser o caso da Copa do Mundo de 2014.

      Ficam muitas dúvidas, e o debate só vem a contribuir. Acho que a questão não é definir certezas, mas questionar certas convicções. Já seria um avanço e tanto!

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