Crepúsculo precoce

Antes de entrar no assunto desse texto, gostaria de compartilhar com vocês uma experiência empírica que fiz no último carnaval. Avesso que sou à bagunça, ‘muvuca’, etc, fui, como de costume, para meu retiro espiritual nas montanhas, longe de qualquer distração mundana. Lá, obviamente, não fui atingido pelas notícias, sejam orais, “boca-a boca” (ou seria boca a ouvido?), ou mediadas. Assim me propus o seguinte experimento: Quanto tempo levará até que eu venha a ser informado, contra a minha vontade, sobre a Escola de Samba vencedora do desfile? A apuração, todos sabem, ocorre na quarta feira de cinzas. Eis que só vim a ser atingido pela mídia no domingo após o desfile das campeãs. Estava na casa de outrem quando fui informado, ainda a contragosto, pelo programa “Esquenta”, veiculado pela Rede Globo de Televisão, e quase simultaneamente, li o título de uma crônica do jornalista Sérgio Cabral cujo título já insinuava a notícia: “Uma aula da Vila Isabel” (jornal Lance, RJ, 17/03/2013). Ou seja, era perfeitamente possível abster-se, ao menos parcialmente, do sensacionalismo e do frenesi capitaneados pelos veículos jornalísticos. Fica o tema para uma pesquisa laboratorial futura: o “viver sem a mídia”. Agora sim, vamos ao artigo propriamente dito:

Tivemos a chance de testemunhar recentemente, dois fatos raríssimos, um, eu jamais ouvi falar, nem vira imagens tão impressionantes: trata-se da queda do meteorito nas redondezas de Chelyabinsk, Sibéria (porque será que esses trecos não caem num endereço mais populoso, digamos, no Central Park, NY, ou o distrito de Kanto, no Japão? Será a providência divina?). Estranhamente, minhas buscas na página da maior autoridade no assunto Espaço Aéreo/Sideral, A Agência Espacial Norte Americana (NASA) foram infrutíferas. Parece que a NASA não tinha conhecimento do meteorito até que fomos atingidos. E quanto ao programa ‘Near Earth Objects’, que se propunha a mapear os asteroides em rota de colisão? Pelo visto o meteorito (com diâmetro estimado entre 17 e 20 metros) também pegou os cientistas espaciais de surpresa, bem como as 1500 vitimas machucadas, segundo dados extra-oficiais [i]. Após o impacto, a agência divulgou notas, óbvio, mas nada antes do impacto. Ao menos eu não achei. Eles estavam tão preocupados em rastrear o 2012DA14 [ii] que se ‘esqueceram’ do meteorito sem nome (referem-se a ele como the object ou Chelyabinsky impactor). Um relato da NASA sobre o evento pode ser lido aqui . Confesso que sou fascinado por meteoros, cometas e afins, e queria assistir a um evento desses, mas após ver essas imagens, comecei a mudar de ideia…

O evento parecido mais recente havia sido em 1908, na região de Tunguska, também na Rússia [iii]. Descobri inclusive que um evento parecido, de menor envergadura, ocorreu aqui na região tupiniquim, em 13 de agosto de 1930: um meteorito explodiu na Amazônia, próximo ao rio Curuçá [iv]. Como em 1930 era um pouco mais complicado o registro de imagens, não achei nenhum vídeo do evento. Deixo as imagens do meteorito de 2013:

O outro evento raríssimo, que não ocorria há meio século, é de origem antropológica… Eis que o maior líder religioso do planeta, o Papa Bento XVI, renuncia ao cargo [v] (a cultura popular talvez diga ser o único grande líder, já que as demais denominações religiosas, tais como Budismo, Judaísmo, Islamismo, etc ‘não parecem’ estar reunidas sob a égide de um líder único, como o Catolicismo. Daí resulta a força desta instituição, a meu ver. Pensemos… Instituições tidas como tradicionais e poderosas atualmente, digamos General Motors, Coca Cola, Shell, Exxon, Wall Mart, nenhuma sequer se  aproxima da ‘Instituição’ Vaticano, com seus mais de dois mil anos de história). Nestes dois milênios, apenas 06 (seis) papas abdicaram do trono. O último havia sido Gregório XII, em 1415, aos 90 anos de idade. Bento XVI completará 86 anos em abril, já de volta a Cardeal. Apenas como curiosidade, o Papa João Paulo II tinha 84 anos quando faleceu. É muito difícil ter as duas coisas mais básicas à perseverança, nesta idade crepuscular:  saúde e motivação para continuar.

Voltando agora ao assunto principal deste nosso espaço virtual… O esporte. O que esses dois assuntos, queda de objetos celestes e renúncia de líderes têm a ver com o esporte? Aparentemente nada, certo? Mas consegui, em minha estranha forma de pensar, visualizar uma conexão… Vi ambos os eventos como “quedas”, o que me remete a queda ou renúncia de expoentes em outras áreas. Para ficarmos apenas na área esportiva, vou enumerar os atletas que “penduraram as chuteiras” precocemente (nome, esporte, país de origem, motivo, idade) [vi]:

  1. Gustavo Kuerten, Tênis, Brasil, lesões, 31 anos.
  2. Björn Borg, Tênis, Suécia, depressão, 26 anos.
  3. Anna Kournikova, Tênis, Rússia, lesões, 23 anos.
  4. Michael Jordan, Basquetebol, Estados Unidos, desmotivação, 30 anos.
  5. Jim Brown, Futebol Americano, Estados Unidos, motivos pessoais, 29 anos.
  6. Justine Henin, Tênis, Bélgica, desmotivação, 26 anos.
  7. Barry Sanders, Futebol Americano, Estados Unidos, 30 anos.
  8. Shawn Johnson, Ginástica, Estados Unidos, lesões, 21 anos.
  9. Martina Hingis, Tênis, Suiça, desmotivação/acusação de doping, 23 anos.
  10. Acelino ‘popó’ Freitas, Pugilismo, Brasil, motivos pessoais, 31 anos.
  11. Manny Pacquiao, Pugilismo, Filipinas, motivos pessoais, 31 anos.
  12. Sandy Koufax, Beisebol, Estados Unidos, lesões, 30 anos.
  13. Ian Thorpe, Natação, Austrália, desmotivação, 24 anos.

É possível identificar um padrão nessas retiradas: Dinheiro + Fama X Dor + treinamentos. A recompensa, na maioria desses atletas, já havia sido atingida. As cifras alcançadas, os pódios, medalhas, recordes superados. Porque continuar, quando já se atingiu uma marca, às custas de horas de treinamento exaustivo, dores, críticas (sempre há os críticos, mesmo nas vitórias), meses longe da família, sacrifício de projetos pessoais, etc? O esporte de alto rendimento é diferente de outras áreas onde o corpo não é tão exigido (na pesquisa acadêmica, por exemplo…).

Para estes atletas, sua ferramenta de trabalho, seu corpo, é muito sacrificado a cada nova exibição.

#Cá entre nós, que roubo esses preços dos ingressos pra Copa das Confederações, hein?! R$150 pra ver um jogo de futebol? Me lembrou aquele filme engraçadíssimo… Os Deuses devem estar loucos

#Ainda estou pensando no meteorito e no Papa… Será que os dois eventos estariam interligados? Como aquela história dos cometas trazerem maus presságios?


[i] A maioria das vítimas apresentava ferimentos por estilhaços de vidro, devido a janelas quebradas pela explosão (fonte).

[ii] Trata-se de um asteroide com diâmetro presumido entre 30 e 50 metros que estava em possível órbita de colisão com a Terra, com a data de aproximação máxima prevista para 15 de fevereiro de 2013, mesmo dia do impacto em Cheliabinsky.  O DA14 passou a 27.700 km, 16 horas antes da queda do Cheliabinsky impactor (fonte).

[iii] Estima-se que o objeto de Tunguska teria aproximadamente 60 metros de diâmetro (fonte).

[iv] Fontes: 1, 2, 3.

[v] Fontes: 1, 2, 3.

[vi] Algumas listas, com fotos: 1, 2.

Um pensamento sobre “Crepúsculo precoce

  1. A renúncia do líder máximo da igreja católica está envolta em obscuridade. Os reais motivos não nos foram revelados e nem nunca serão. Há algo por trás disso tudo muito além do que saúde e motivação limitadas. Mas, acreditemos nessa hipótese e deixemos que a história siga seu curso. Quanto à queda do meteorito, pode ser que realmente seja uma espécie de sinalização, aviso celestial sobre coisas que não andam muito bem, tudo é possível, por isso tais objetos nunca atingem regiões populosas. O objetivo não é o da tragédia ou de dizimar os habitantes e sim, apenas alertar.
    Incrível tal evento ter passado despercebido pelos poderosos detectores da NASA e ainda pelos diversos observatórios meteorológicos espalhados ao redor do globo com seus batalhões de cientistas que se revesam em turnos para nunca deixar o nosso espaço aéreo descoberto. A observação é constante. Isso faz com que ainda mais a queda de Chelyabinsk esteja envolta em mistério. “Quem” camuflou a visibilidade do objeto aos olhos dos nossos pesquisadores?
    Creio que os dois acontecimentos ocorridos durante o nosso “carnaval” sejam o marco de um tempo de mudanças que vem por aí. Ou talvez não, podem ser apenas coincidências. Mas fica impossível para o curioso cérebro humano não especular diante de tais fatos.
    Como também especulamos sobre o porque de valores tão altos para os ingressos da pré-copa. Mas nesse caso, não precisamos evocar Michel de Notredamme para descobrir. Tais eventos nunca são destinados ao acesso da população local. São eventos turísticos para o quais o Brasil e suas maravilhosas belezas naturais servem de moldura, apenas. Com valores tão salgados consegue-se selecionar o nível dos frequentadores, evitando assim, a presença nos estádios das classes menos favorecidas, que sustentam os campeonatos locais durante o ano inteiro lotando as arquibancadas, mas que nesse período precisam ficar escondidas dos olhos do mundo, sendo literalmente varridas para debaixo do tapete. Sabemos que a estratégia dos feriados nas datas de jogos importantes tem como objetivo além de minimizar o caos no trânsito, retirar boa parte da população das ruas “limpando” a cidade para os visitantes. Nosso país é um grande e lindo salão de festas alugado para quem pagar mais e o nosso povo nada mais que os funcionários de um buffet de luxo, aqueles que ficam lá no fundão da cozinha. apenas servindo aos convivas…
    “Brasil, um país de todos”. Em “todos” leia-se “abastados”.

Deixe uma resposta para ValerieCancelar resposta

Descubra mais sobre Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading

Pular para o conteúdo