A Maior das conquistas: fazer o impossível

ImageLendo a postagem de meu amigo Ronaldo, sobre as interações e todo o debate sobre o esporte e o prazer, a competição x o lúdico, comecei a pensar em como essas coisas se relacionam. Em minha humilde concepção, observando como as coisas acontecem na atualidade, que nos chega quase que inevitavelmente pelos meios de comunicação, o que move os atletas atualmente é o dinheiro. Falei em minha ultima postagem aqui sobre os garotos do basquete que não se preocupam em seguir seu coração e jogar somente no seu clube favorito, mas, ao contrário, jogam até mesmo pelo maior “rival”, sem se importar com paixão, preocupados apenas em garantir um improvável e sonhador futuro no esporte. Mesmo na várzea, os que ainda reúnem condições etárias e físicas sonham com uma oportunidade no milionário esporte midiático. A esse respeito, idade tardia pra começar, veja-se o exemplo do futebolista Liédson (atacante, atualmente no Flamengo), que  começou sua vitoriosa carreira aos 22 anos de idade, no Esporte Clube Poções, da Bahia. A própria trajetória profissional de Liédson, que vestiu em sua carreira 7 camisas diferentes, demonstra o qual distante estamos da paixão no esporte profissional midiático.

Isso porém, nem sempre foi assim. Houve um tempo em que se praticava um esporte pela paixão pura e simples. O maior exemplo, novamente em minha humilde opinião, é a do alpinista e explorador Sir Edmund Hillary (1919-2008). Este senhor, um incansável e sonhador neozelandês, conquistou não apenas o Monte Everest (fato que jamais será repetido na história; uma montanha só pode ser conquistada, escalada pela primeira vez, uma única vez, obviamente). Hillary e seu parceiro sherpa (nepalês) Tenzig Norgay alcançaram o cume do planeta em 29 de maio de 1953.

Além de ser o primeiro homem a chegar ao topo do mundo, Hillary foi ao pólo sul e aproximou-se do pólo norte, em 1958 (o famoso “three poles challenge”, o Everest sendo o terceiro pólo). O desafio seria conquistado apenas em 1994, pelo alpinista norueguês Erling Kagge. Isso é uma coisa que apenas uns poucos homens conseguiram até hoje. O último foi Eric Larsen (2009). Imagine-se as dificuldades impostas a quem se atreveu a desafiar as terríveis forças da natureza há 60 anos…

Quando perguntado porquê ele quisera escalar a montanha mais alta do mundo, Sir Edmund Hillary sempre respondia: “porque diziam que era impossível”.

O Everest sempre me fascinou. E a audácia de Hillary, consequentemente. Por tudo isso, homens como ele e o rei Pelé (o primeiro a fazer mil gols e o único até hoje a conquistar o título mundial de futebol cinco vezes) estão milênios adiante dos esportistas atuais. O que é uma medalha olímpica (são distribuídas centenas a cada edição) se comparada a feitos como estes? O que é um campeonato que se repete anualmente? Nada. O que estava em risco nestes casos? Nada… Competem para ganhar prêmios em dinheiro, melhores contratos, etc.

Alguns dados sobre o Monte Everest:

  1. Mede mais de 20 edifícios Empire State Building (New York)
  2. No Nepal, os nativos o chamavam de Chomolungma (Deusa mãe da Terra) e ainda de “montanha tão alta que nenhum pássaro consegue sobrevoar”.
  3. O primeiro a pensar na escalada foi Clinton Thomas Dent, em 1885.
  4. Em 1916 Alexander Mitchell Kellas escreveu um estudo,  ‘A Consideration of the Possibility of Ascending the Loftier Himalaya’ em que analisou a empreitada e considerou seu fisiologicamente realizável.
  5. A partir daí formou-se, em 1920, na Inglaterra, o Mount Everest Commitee, subordinado à Real Geographical Society.
  6. A primeira tentativa de escalada foi em 1924, quando os exploradores britânicos George Mallory e Andrew Irvine desapareceram perto do cume.
  7. Mais de 4000 pessoas tentaram escalar.
  8. 660 pessoas conseguiram.
  9. Atualmente a escalada dura no total, três meses, e custa em torno de 30 mil dólares (60 mil reais) por pessoa.
  10. 142  (ou mais) morreram tentando. A maioria morre na descida, tendo ou não atingido o cume. As causas incluem cansaço, congelamento ou falta de oxigênio. Seus corpos continuam lá, intactos, mumificados pelo gelo eterno. O resgate naquelas condições extremas é inviável.

        

Enquanto eu escrevia esse texto, soube do falecimento de outro “super-herói”, que fez o impossível, Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na lua, morreu ontem, aos 82 anos em Cincinatti, Ohio.

A notícia, entretanto, é falsa. Homens assim nunca morrem.

Mais sobre esses assuntos: Scholastic, Wikipedia 1, Wikipedia 2,  Wikipedia 3, Save the Poles

6 pensamentos sobre “A Maior das conquistas: fazer o impossível

  1. É curiosa a relação, em muitos ocasiões, do prazer com o “proibido”. Quando pensamos num esporte com um alto índice de morte de seus praticantes, podemos nos questionar: se é tão fácil morrer fazendo isso, por que se atrevem a fazer? Realmente, uma parte de cada um de nós busca essas sensações que vêm por meios “perigosos”; seja escalando o Everest, cobrando um pênalti com “cavadinha” ou seja lá o que for…!

  2. Acredito que não há grau de comparação possível. Nada se compara a um feito como ao do Armstrong ou do Hillary. Nem os mil e duzentos gols do Rei Pelé…

  3. O que me intriga é conhecer a natureza do sentimento que impele o homem a tentar sobrepujar forças naturais tão poderosas. Instinto de aventura? Auto-afirmação como espécie dominante no planeta? Objetivos financeiros? Conquista de notoriedade pública? Só tenho a certeza de que é um sentimento poderoso que faz com que o indivíduo anule por completo o seu instinto de preservação e ponha sua vida em risco extremo para realizar algo tão efêmero. O que move estas pessoas?

    1. O que as move é a vontade de se eternizar, de marcar seu nome na História Mundial. Da mesma maneira que os Grandes governantes fazem monumentos.

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