Violência, esportes e fanatismo

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Instigado pela recente postagem de meu amigo monsieur Alvarô, que versou sobre A violência num jogo de futebol no Egito (cá entre nós, alguém sabia que tinha gente no Egito? E que jogavam futebol por lá? Vejam a que ponto o fanatismo pode chegar…), episódio que deixou dezenas de mortos, comecei a investigar a violência entre os aficionados por esportes, os aqui chamados (erroneamente, em minha opinião) “torcedores” – não torcem coisa alguma; veja a definição do verbo ‘torcer’ aqui.

Primeiro, temos que averiguar se a violência “extra-campo” ocorre em todos os esportes ou apenas em alguns, como no futebol. Esse foi o ponto de partida.

A academicamente contestada Wikipédia cita alguns casos de violência no esporte (veja aqui); o mais antigo datando de 1879, em um jogo de críquete. A lista segue com diversos casos na Victorian Football League – VFL (que nada tem a ver com o soccer jogado por aqui) –, a maior parte objetos atirados no campo, invasões e agressões a árbitros. A primeira citação envolvendo o esporte bretão data de 1909, na partida final da Copa da Escócia, entre (adivinhe!) Celtic e Rangers . Seis mil membros da platéia invadiram o gramado e houve pancadaria generalizada. Não respeitaram nem a polícia. Os autos relatam que 58 policiais e 60 bombeiros ficaram feridos.

Alguns fatos isolados:

– Em Nova Iorque, no ano de 1912, o ídolo do Baseball Ty Cobb pulou na arquibancada e agrediu um espectador que o xingara.

– Também em NY, em 1913, Babe Ruth, após ser expulso de campo, perseguiu um torcedor nas arquibancadas e chamou “pra porrada” os outros presentes.

– Em 1913, na cidade de Empsom, Inglaterra, uma ativista invadiu uma pista de corridas de cavalo e morreu atropelada.

– 1976, Chicago, USA: Inconformados com a interrupção de um jogo, fãs invadem o campo e derrubam os postes.

– Ajax X AZ Alkmaar, Amsterdã, 2011: Um torcedor invade o campo e tenta acertar um pontapé no  goleiro do Ajax, que revida, atingindo várias vezes o agressor caído.

– No Maracanã, Rio de Janeiro, em 1995, o futebolista Edmundo, jogando pelo Flamengo, fez gestos obscenos, exibindo sua genitália para a torcida do Vasco, que o xingava.

Nada se compara, porém, ao incidente que ficou conhecido como “A Guerra do Futebol” ou “A Guerra das 100 horas” (1969), entre El Salvador e Honduras, conflito que teve como um dos motivos e estopim principal a disputa das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970 [i].

Continuando a investigação, já temos algumas respostas:

  1. Não acontece apenas no futebol ludopédio (termo que aprendi graças ao blogue co-irmão:  www.ludopedio.com.br)
  2. Não é fato recente.
  3. á uma ocorrência muito maior em esportes coletivos do que nos individuais.

Na citada lista, o primeiro incidente sul-americano data de 1936, um jogo de futebol entre as equipes olímpicas de Peru e Áustria: invasão de campo por espectadores peruanos, um deles armado (então não são mais espectadores, né?).

A recente pancadaria (fevereiro/2012) na luta de boxe entre Luiz Lazarte e John Casimero prova que nem apenas em esportes coletivos, com torcidas apaixonadas, ocorrem distúrbios. Assista à briga (não à luta), aqui .

Voltando à pergunta – chave do texto que ensejou este exercício… “O que é ser torcedor”? Acredito que a resposta esteja relacionada à paixão. E paixão não se explica: se sente ou não.

O ato de se sentir parte de um grupo, aqui em Pindorama frequentemente de um clube de futebol, está enraizado nos corações e mentes desde o berço. O indivíduo nasce e lhe é apresentado um esporte (futebol association) e um caminho “correto” a seguir: ser torcedor do clube X. Os que seguem o clube Y e o clube Z estão errados. São “inimigos”. A partir daí começam a se costurar as linhas do ódio que, mais tarde, alimentado, deságua na violência gratuita que se vê nos estádios e fora deles.

O campo esportivo é um espaço onde, por seu sentido gregário, as diferenças e similaridades entre os indivíduos (principalmente os não-atletas, os espectadores) tendem a aparecer. Trazendo essa leitura para os estádios de futebol tupiniquins, onde a violência está, em grande parte, atrelada à existência de grupos paramilitares afiliados aos clubes, que se autodenominam “torcidas organizadas” (um bom relato sobre esse assunto pode ser lido aqui), percebe-se que o elemento clubístico exerce, entre esses indivíduos, o que o nacionalismo exerceu em tempos passados. Seria uma releitura Fitchiana do sentido de pertencimento e do “outro”.

Como meu entendimento se alinha aos pensamentos de Thomas Hobbes (1588-1679), William Golding (1911-1993) e Steven Pinker (psicólogo canadense do M.I.T., ainda vivo), tendo a concluir que a causa da violência, tanto nos esportes como fora destes, é o próprio ser humano, que, por ser um animal, tem, como todos os outros animais, os seus instintos biológicos de competição aflorados em alguns momentos, decorrendo daí muitas vezes o conflito e suas consequências trágicas.

Pra terminar, algumas cenas protagonizadas por esses grupos:


[i] Para mais sobre a Guerra do Futebol:

http://tinyurl.com/8ab6b3h

http://tinyurl.com/6u79ddk

2 pensamentos sobre “Violência, esportes e fanatismo

  1. (cá entre nós, alguém sabia que tinha gente no Egito? E que jogavam futebol por lá? Vejam a que ponto o fanatismo pode chegar…) – Que comentário imbecil! Estraga todo o resto. Ao ler isso, perde-se a vontade de ler o resto. Comentário típico de pessoa ignorante.

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