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Migalhas e milhões

O começo do mês é um período tenso para quase todos os trabalhadores brasileiros. Quem vende sua força de trabalho aguarda ansiosamente a chegada do dia do pagamento. Em função de várias variáveis (incompreensíveis para um assalariado), a remuneração nunca é um valor exato. Mas seja qual for esse valor, a impressão é que dificilmente as contas vão fechar. O braço mais forte da história, o empregador, reclama do custo de ter um empregado regularizado.

Mas enquanto os mortais se preocupam se receberão o suficiente para pagar as despesas ordinárias, os grandes atletas de futebol têm outras preocupações. Com salários astronômicos, o que os incomoda não é se o salário será suficiente, mas se ele chegará em suas contas.

Pretendo pensar duas coisas distintas nesse despretensioso argumento. A primeira delas é onde iremos parar se o salário dos jogadores continuar crescendo na velocidade atual. Outro assunto diz respeito ao não pagamento por parte dos clubes. E a imprensa? Tem o direito de expor o quanto ganha cada jogador?

Compromissos existem para serem cumpridos. Mas o festival de amadorismo da administração dos clubes brasileiros, parece dar direito aos cartolas de se negarem a honrar a própria palavra. Empurram com a barriga, jogam para debaixo do tapete seus erros e apontam os holofotes para as mazelas de diretorias anteriores. Foi assim na recente polêmica envolvendo o atacante Deivid. Com um salário incompatível com seu rendimento em campo, a atual diretoria lavou as mãos dizendo que a responsabilidade por pagá-lo seria de quem o contratou, no caso, os diretores anteriores.

Sinceramente, entendo o fato de Neymar ganhar R$36 milhões de dólares anuais. Afinal, com os contratos de publicidade que tem e com os produtos que ajuda a vender, ele merece receber uma boa comissão. O que não dá para entender é aquele lateral que não sabe cruzar receber mais de R$100 mil por mês. Ele não acrescenta, não gera divisas, não ajuda o time a ser campeão.

Um programa de participação nos lucros poderia ser uma alternativa para trazer o mundo do futebol de volta à realidade. Jogadores que geram receitas significativas têm o direito de receber uma parte importante do bolo. Mas os que são trazidos por empresários em negociações nebulosas, não podem ganhar cem vezes mais do que recebem a grande maioria dos atletas que sobrevivem do esporte no Brasil a fora.

As perguntas para as quais não tenho respostas são as seguintes: A imprensa especializada sabe lidar com este assunto? A abordagem corriqueira sobre os atrasos salariais nos grandes clubes é feita de maneira correta? Será que não é perigoso estampar na capa dos principais jornais quanto recebe aquele famoso atacante? O jornalista tem este direito? Um grande colunista aceitaria tornar público seu contra-cheque?

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4 comentários em “Migalhas e milhões

  1. RECENTEMENTE FIQUEI SABENDO (PELO PRÓPRIO) QUE O DATENA RECEBE 500 MIL POR MÊS. NO SPORTV OS SALÁRIOS CHEGAM A CASA DOS 30 MIL. SERÁ QUE OS JORNALISTAS TÊM DIREITO A CRITICAR OS JOGADORES?

    1. O que me deixa curioso é saber como os clubes de futebol conseguem manter tais salários. Os brasileiros, já está claro, não conseguem. Mas os europeus, russos e árabes conseguem. Não entendo. Suspeito de lavagem de dinheiro. Os únicos negócios capazes de sustentar isso são os ilícitos.

      1. Em alguns clubes europeus o dinheiro vem de árabes e russos, vide o Chelsea, o Manchester City, o PSG. A lista é grande. Isso não quer dizer que eles não estejam tão ou mais endividados que os clubes tupiniquins.

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