Au Revoir, Merci beaucoup e o Eurico Miranda…

Neste mês de junho, assistimos emocionantes despedidas nos gramados brasileiros. Momentos de comoção proporcionados pela paixão a personagens conhecidos e venerados por muitos torcedores nas duas últimas décadas que, de formas diferentes, chegam ao final de suas carreiras dentro do universo futebolístico brasileiro.

O adeus de Petkovic, excelente jogador sérvio que se destacou no Flamengo, Vasco, Fluminense, Vitória entre outras equipes do país, em partida válida pelo campeonato brasileiro contra o tradicional Corinthians, levou cerca de 40 mil rubro-negros ao estádio do Engenhão. Uma bonita festa que, infelizmente, não teve um futebol tão empolgante, apesar de lampejos do aposentado craque e do belo gol de falta incrivelmente feito pelo meia Renato ao final do primeiro tempo, em um momento que todos no estádio, inclusive eu, esperavam nostalgicamente uma cobrança do ídolo do leste europeu.

Talvez esse simples fato explique um pouco do caráter do craque sérvio. Quantos atletas profissionais nos seus últimos minutos em campo abririam mão de bater uma falta como aquela, ainda mais sendo reconhecidamente um especialista nesta jogada? Além disso, Pet sempre disse o que pensa, mesmo diante de perguntas imbecis, como nesta curiosa entrevista para Ana Maria Braga. Um jogador intelectualmente diferenciado, que não é cerebral apenas dentro das quatro linhas, mas sobretudo em sua postura fora dos gramados. Buscou honrar todas as equipes em que jogou, conseguiu o incrível feito de ser admirado por torcedores de três grandes rivais cariocas: Flamengo, Vasco da Gama e Fluminense; e ídolo rubro-negro mesmo com o pesado fardo de vestir a camisa dez de Zico, o maior craque da história do clube. Em sua pizzaria, em um condomínio na Barra da Tijuca, as camisas dos times que jogou  no Brasil estão expostas junto com a do Estrela Vermelha de Belgrado e a do Real Madrid, fato que demonstra sua capacidade diplomática e o respeito às agremiações que defendeu.

Dois dias depois, nova despedida no Estádio do Pacaembu. No amistoso Brasil x Romênia, o espetacular atacante Ronaldo, também conhecido como fenômeno se retirou melancolicamente dos gramados. Ídolo da seleção brasileira que passou por diversas provações e operações em sua carreira, seguiu a trajetória heróica nos moldes acadêmicos de Joseph Campbell, foi o maior artilheiro em Copas do Mundo, craque indiscutível dentro da grande área, não merecia os patéticos 15 minutos finais de sua carreira.

Tal qual a caricatura que o humorista Bussunda fazia do craque no programa  Casseta e Planeta, sua péssima atuação foi um insulto a figura de um dos maiores atacantes mundiais de todos os tempos. Estava assistindo a partida em um bar da Lapa no centro do Rio, e em meio a uma verdadeira comoção para que o fenômeno fizesse seu último gol como profissional pude perceber o desapontamento de todos, além da típica picardia carioca nas diversas piadas alusivas a “fenomenal” forma física do atacante.

Não creio que isso possa manchar a imagem de Ronaldo para a posteridade futebolística, porém os “sábios” do marketing esportivo da C.B.F, ou àqueles que administram a vida pessoal e a nova agência de propaganda do Ronaldo, poderiam ter poupado o “eterno” garoto de Bento Ribeiro do vexatório “espetáculo”, pifiamente amplificado na voz de Galvão Bueno.

Seus gols no final da carreira pelo Corinthians em 2009, pela seleção durante as Copas de 1998, 2002 e 2006, espetaculares no Barcelona, Real Madrid, Inter, Milan, PSV e Cruzeiro, além do seu último tento pela seleção contra Gana em 2006, que tive a inefável felicidade de presenciar no próprio estádio em Dortmund, é que devem ficar na memória dos amantes do futebol sobre esse incrível jogador que foi Ronaldo, e não a constrangedora partida do dia 07 deste mês, negativamente espetacularizada pela mídia brasileira.

Adeus (AU REVOIR) e muito obrigado (MERCI BEAUCOUP) a esses grandes ídolos e craques que muitas felicidades trouxeram para vários brasileiros nas últimas décadas.

Todavia, uma outra despedida que aconteceu este mês, diferentemente do sentimento de vazio que ocorre quando um craque para de jogar profissionalmente, deu imensa alegria para todos que amam a transparência no futebol nacional.

O merecido título do Vasco na Copa do Brasil poderia ser descrito neste texto como uma “despedida” de um momentâneo jejum de oito anos em títulos importantes, destarte a controvérsia sobre a valorização ou não de um título da segunda divisão do futebol nacional neste ínterim.

Porém o glorioso adeus a que me refiro, está na saída de cena do nefasto câncer Eurico Miranda do cenário futebolístico carioca e, mais especificamente, do Clube de Regatas Vasco da Gama. Obviamente não torci para o Vasco contra o Coritiba, porém o dramático título trouxe algo de bom para todo o país.

Qual Fênix negra retornando das cinzas, o ex-deputado que também angariou muitos votos e admiradores em sua carreira político/futebolística poderia retornar. Lúcifer estava se fortalecendo dentro do clube com os sucessivos insucessos da gestão Dinamite. Ano de eleições no Vasco e muitos começavam a conspirar pela volta dos que não foram. Eurico poderia retornar e com ele todo o excremento que isto significa. Viradas de mesa, pseudo-assaltos inexplicados, transações e negociatas na “bancada do futebol”. Enfim, o déspota que derrubou até o próprio pai que fornecia pães para todo bairro da Urca queria voltar ao trono.

Neste aspecto, felizmente, o título vascaíno joga várias pás de cal no antigo monarca da colina. Não quero dizer que o ídolo da torcida Roberto “Político” Dinamite seja um Messias, mas pelo menos pertence ao panteão do clube como um deus grego, que, com certeza, tem muitos defeitos também, mas possui a virtude de ter jogado bola e procurar uma gestão diferente do que ocorria na esquadra cruz-maltina.

Enfim, “vade retro Eurico”, a despedida mais feliz deste mês, pois significa uma cura e um grande alívio sua ausência no futebol brasileiro, ao invés do sentimento de tristeza e saudade que provocam o fim da carreira de craques como Pet e Ronaldo.

4 pensamentos sobre “Au Revoir, Merci beaucoup e o Eurico Miranda…

  1. Eu gostava do finado deputado Eurico. Aquele era da turma do Maluf… “rouba mas faz!”. Só lembrar os títulos conquistados durante suas gestões como vice, e depois como presidente. Na época dele não tinha essa do Vascão ser roubado em casa… Muito menos de ser rebaixado! impensável! Foi só ele sair e o time da cruz foi logo pra segundona… Dotô Eurico só nos dava alegria. A única coisa de ruim que ele fez foi arrumar briga com a Família Marinho (Grobo)… Foi o fim dele. Ninguém briga com os mandatários Marinho e sai impune.
    Dirigente como ele e o Vicente Mateus (Corinthians), são o que falta hoje no futebol, não essa corja que só pensa em enriquecer e nem é torcedor do clube, entregam os jogadores nas mãos de empresários.
    Já sobre o Pet, esse é ídolo pra sempre. Infelizmente o tempo é inexorável. Mas concordo com um torcedor que disse que “dez minutos de Pet é melhor que uma semana de Fernando”.
    J.H.

  2. Não conhecia a entrevista do Pet ao Louro José. Achei sensacional. Não canso de me espantar com a inteligência desse cara. Lembro dele ser perguntado se após parar jogar iria continuar vivendo no Brasil. Ele, sabiamente, disse que ficaria no Rio até 2016, pois enxergava uma chance real da cidade e do país melhorar com as Olimpíadas. Caso isso não aconteça, irá repensar sua permanência.

    Sobre o Bussunda, não achei que a despedida foi tão ruim. A obesidade já é antiga. Pra mim ficou a prova de que trata-se realmente de um fora de série. Em 15 minutos conseguiu ter três chances. Os outros atacantes da seleção precisam de 90 minutos para criar uma única oportunidade. Fico com as palavras de um amigo: “Ronaldo é gênio, mas a diferença dele para o Romário é que o Baixinho, em sua despedida, faria pelo menos dois, dos três gols que o gordo perdeu.

    E “vá de retro Eurico”!

  3. Caro Álvaro:

    Parabéns pelo post. Não só as despedidas de Pet e Ronaldo, mas a citação de Eurico Miranda, também. Porém, sobre este útlimo, não acho que foi uma despedida definitiva e sim temporária. Como qualquer grande clube, o Vasco tem correntes políticas que ainda apoiam tal ex-dirigente. Fico imaginando se o mesmo poderá ganhar força caso o Vasco encare mais um período ruim de atuações.
    Quanto ao texto, apesar de saber que é questão de estilo, acho que termos como “Lúcifer” ou “deus grego” poderiam não estarem por ali. Mas, como já disse, é só questão de opção. Nada que ouse diminuir a qualidade do seu trabalho.

    Um abraço,

    André Alexandre

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