Palestra de encerramento com Samuel Martínez e Hugo Lovisolo

O pesquisador Hugo Lovisolo (Uerj) abriu a palestra falando sobre as identidades e como suas diferenças estão relacionadas às disputas de poder. As identidades não são uma invenção e as narrativas acabam por “lapidar” o sujeito. Sobre as identidades clubísticas, lembra que não temos como teorizar os motivos que levam uma pessoa a torcer por determinado time.

Após esta breve introdução, Lovisolo teceu comentários sobre o México, para apresentar o pesquisador Samuel Martínez (Universidad Iberoamericana de México). Martínez deu início à palestra com tema “La Selección Mexicana de Futbol durante la Copa del Mundo Brasil 2014” falando sobre a Copa enquanto uma concentração de indústria verticalizada.

A Copa do Mundo pertence a um modelo vertical, e tem seu potencial de espetáculo explorado através do sentimento nacionalista que desperta. Segundo ele, os grandes eventos que implicam em transformações urbanas, não datam de mais de 30 anos e foram impulsionados pelo espírito ganancioso de busca pelo poder. Os mega eventos surgem como uma nova segmentação do mercado, um novo tipo de capitalismo com o intuito de mostrar às outras nações o seu poder na realização de um bom evento e reforçando assim, seu nacionalismo.

O palestrante discorreu sobre a seleção mexicana ser um símbolo laico, pois não pertence ao Estado e sim, a uma organização particular, no caso a FMF (Federección Mexicana de Futbol). As seleções representam suas nações simbolicamente e os atletas tentam convencer a audiência de que sua equipe é a melhor. Uma das peculiaridades no caso da seleção mexicana é o fato da FMF ser controlada pela Televisa, o maior conglomerado midiático do México. Isto reforça a imagem e o uso do futebol como um produto de entretenimento e logo, um produto econômico, vendável.

A seleção mexicana é a única que possui dois mercados econômicos: uma para os mexicanos que vivem em seu país e outro para os mexicanos que vivem nos Estados Unidos. Também registra um grande público em jogos fora de casa, levando em consideração o poder aquisitivo dos mexicanos que moram nos EUA. Com todas as dificuldades na imigração para os EUA, não é de se admirar que os mexicanos considerem os Estados Unidos seu maior rival em competições.

O México passou por constantes mudanças de técnicos e passou para o Mundial apenas na repescagem, ironicamente, graças a uma vitória dos Estados Unidos. No pré-Copa, os meios de comunicação repercutiram a possibilidade da seleção mexicana não disputar o Mundial e a vaga foi bastante comemorada por lá.

O palestrante ainda comentou sobre a história política do México, que por muitos anos teve apenas a Virgem de Guadalupe como símbolo nacional e o surgimento de novos símbolos nacionalistas. O México vivenciou uma ditadura de 30 anos, que trouxeram crescimento econômico e político, a base de muita opressão das classes mais baixas. A mudança deste cenário só foi possível com a Revolução Mexicana que enfraqueceu o regime anterior, instaurou o populismo e trouxe crescimento dos meios de comunicação de massas.

No México, o futebol não ocupava um espaço tão importante para a formação de sua identidade nacional, outros esportes como a luta-livre e o beisebol tinham maior foco. A partir dos anos 90, este cenário mudou graças aos meios de comunicação que enxergaram o potencial de marca presente no futebol. A seleção hoje ocupa um lugar importante na identidade do povo e é vista como símbolo de esperança num país melhor e competitivo, apesar de alguns enxergarem a seleção como objeto de manipulação.

Graças à televisão, o futebol tem crescido no mercado, em audiência junto com telenovelas e produtos cômicos como “Chaves”, ou seja, o papel da Televisa foi crucial neste processo. A Copa do Mundo de 2014 foi vivenciada de forma intensa pelos mexicanos, desde os obstáculos ultrapassados para garantir a vaga, os jogos disputados durante o Mundial e a desoladora volta pra casa. Mas, a identificação nacional que foi construída ao longo do tempo, garante que sentimentos como este ressurgirão daqui a quatro anos e quiçá com melhores resultados.

* Mais fotos podem ser conferidas na página oficial do LEME no Facebook.

Por Nathália Corrêa Costa, graduanda de Relações Públicas na UERJ.

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